quarta-feira, 24 de março de 2010

[parte 05] O mundo de Sofia - Os filósofos da natureza

Naquela tarde Sofia estava a pensar sobre os ensinamentos que seu professor misterioso estava lhe passando. Então sua mãe encontra um envelope branco na caixa de correios quando chega do trabalho e chama Sofia para entregar-lhe. Sofia pega o envelope sem jeito e a mãe insinua ser de um namorado. Sofia acaba confirmando, não diretamente, porque não vê outra solução para a situação.

No envelope havia uma folha que continha 3 perguntas:
  • Existe uma substância básica, a partir da qual tudo é feito?
  • É possível transformar água em vinho?
  • Como é que terra e água podem se transformar numa rã?
Sofia ficou a pensar sobre isso por algum tempo em seu esconderijo. Mais tarde, lembrou de visitar a caixa postal. Chegando lá ela encontrou um envelope amarelo contendo mais folhas datilografadas.

O projeto filósofos

Se alguém decide por estudar filosofia e ser um filósofo, deve escolher qual o seu projeto, ou seja, que assunto vai estudar e se aprofundar pois é quase impossível conseguir estudar tudo que a filosofia propõe.

Os filósofos da natureza

Os primeiro filósofos gregos são chamados "filósofos da natureza" porque seus projetos focavam os processos naturais. Esses "iniciantes" curiosamente não se questionavam de onde vinham as coisas e sim em como essas coisas se transformavam. E o mais importante, como essas transformações ocorriam de forma observável e objetiva, sem considerar os mitos que existiam.

Percebemos que, pela primeira vez que se tem notícia, foi criado o modo científico de pensar, ou seja, a filosofia se liberta da religião dando o inicio às ciências que vemos hoje.

O primeiro filósofo que se tem notícia é Tales (da colônia grega de Mileto). Tales considerava água a origem das coisas. Para ele tudo surgia da água e voltava a ser água quando finda.

O segundo é Anaximandro, também de Mileto. A teoria dele é mais abstrata e foca o infinito. Segundo Anaximandro, nosso mundo era apenas um dos muitos mundos que surgem de alguma coisa e de dissolvem nesta alguma coisa chamada de infinito.

O terceiro filósofo de Mileto foi Anaxímenes (550-556 a.C.). Ele foi mais afundo na afirmação de Tales e colocou em questão a origem da própria água de Tales. Para ele, o elemento básico de tudo é ar. A água seria o ar comprimido, a terra o ar mais comprido ainda e assim por diante.

A partir de 500 a.C. viveram na colônia grega de Eléia alguns filósofos que foram apelidados de "eleatas". O mais conhecido entre eles foi Parmênides (540-480 a.C.). Para Parmênides, tudo que existia sempre existiu e nada pode surgir do nada (um pensamento muito comum para os gregos). Mas ele foi mais a fundo nesse pensamento e afirmava que nada se transformava. As transformações que vemos eram em decorrência dos sentidos, logo os sentidos eram falhos. Ele era um racional de carteirinha (surgimento do racionalismo) e seu pensamento ficou conhecido como "ilusão dos sentidos".

Na mesma época viveu Heráclito (540-480 a.C.) de Éfeso e seu pensamento era exatamente o oposto de Parmênides. Para ele "tudo flui" e nada dura para sempre. Ele dizia, por exemplo, que nunca se entra num rio duas vezes porque na segunda vez que entrar não está mais lá o que formava o rio quando entrou da primeira vez. Ele também afirmava que no mundo há muitos opostos constantes como: não saberíamos o que é saúde sem doença, o que é fome sem a deliciosa ação de saciá-la.

Então surge Empédocles (494-434 a.C.) para equilibrar as coisas. Ele afirma que em certo ponto Heráclito e Parmênides estão corretos e em outros pontos eles estão errados. Segundo Empédocles a natureza não é constituída de um elemento apenas e sim de quatro elementos: água, fogo, terra e ar. Todas as transformações eram combinações desses quatros elementos.

Ele também adiciona ao seu raciocínio filosófico um elemento novo até então: força. Segundo ele, o que consegue unir ou transformar é o amor assim como o que consegue desunir e terminar é a disputa (vemos essa divisão entre elemento e força aceita até hoje quando falamos em elementos básicos e forças naturais).

Anaxágoras (500-428 a.C.) rejeita todas essas idéias e diz que tudo que vemos e que se transforma são constituídas de partículas minúsculas, invisíveis a olho nu, mas que fazia parte de tudo que vemos. Deu pra essa partículas o nome de sementes ou germes. Ele também não aceitou o amor e disputa como a força que agia nesses elementos. Essa força ele chamou de inteligência.


Sofia, com de costume, ficou tentando colocar em prática o que leu e tentou pensar como esses primeiros filósofos. Viu que se pode acompanhar todas as correntes de pensamento e acho isso excitante. Percebeu também que não se deve buscar aprender filosofia e sim se deve buscar pensar filosoficamente.