sexta-feira, 2 de abril de 2010

[parte 09] O mundo de Sofia - Sócrates

Quem foi Sócrates?

Podemos dizer que Sócrates (470-399 a.C.) foi para a filosofia o que Jesus Cristo foi para a religião. Sócrates desafiou todas as linhas da filosofia que existia na época e criou sem saber a maioria das linhas filosóficas contemporâneas. Embora tendesse pelo mesmo caminho dos sofistas (cujo projetos filosóficos que se baseava nas pessoas e o que elas pensavam e não na natureza), Sócrates era diferente de tudo que já tinha existidos entre os atenienses.

Fisicamente, segundo relatos, Sócrates era feio, baixo e acima do peso. Ele fala com qualquer tipo de pessoa que cruzasse seu caminho mas tinha uma retórica invejável. Dizia que as árvores e o mato não poderiam lhe ensinar nada e por isso precisava interagir com outras pessoas. Conseguia ficar horas pensativos, contudo não era seu jeito, sua aparência, seu projeto filósofo ou sua retórica que o fez único.

Os sofistas cobravam (e bem) para ensinar o povo da época e faziam questão de deixar claro seus notórios conhecimentos, ficando evidente o quanto eram superiores. Sócrates quebra todo o paradigma dos sofistas ao ensinar gratuitamente a quem quisesse os ensinamentos dos filósofos. Não obstante, Sócrates também mostra aos que com eles compartilhavam ensinamentos que aquilo que ensinara estava dentro de cada um, bastava apenas as perguntas certas para se chegar ao ponto que se desejava.

Sócrates iniciava um diálogo (ou uma aula) fazendo apenas perguntas. Muitas vezes se passava por um leigo total com muita naturalidade (a chamada ironia socrática). Sua perguntas as vezes eram duras, outras escandalosas. Ele usa métodos que as vezes constrangiam alguns (para os mais arrogantes) e outras vezes deixavam maravilhados outros (para os mais humildes). Isso lhe rendeu muitos amigos e muitos inimigos, dentre eles gente poderosa da época como seus companheiros filósofos e os dirigentes da cidade.

O mais impressionante é que Sócrates sempre se mostrava como desentendido porque realmente acreditava que não sabia nada perante o que acreditava ser a verdadeira sabedoria. Sua frase "o que sei é que nada sei" ou "mais sábio é aquele que sabe que não sabe" mostram bem como ele pensava sobre si e sobre todos. Ele acreditava que todo diálogo era um ensinamento inestimável e se esvaziava de seus conhecimentos adquiridos para se encher de novos conhecimentos.

Quando era questionado porque agia assim, afirmava que se considerava um verdadeiro filósofo, no literal "amante da sabedoria" e dizia que ouvia uma voz divina e isso não o permitia ser passivo. Dizia que os homens precisam passar por um processo de parto da mente para que realmente possam nascer filosoficamente falando. Essa analogia era usada por Sócrates porque, acreditam alguns, sua mãe era parteira. Sócrates forçava seus interlocutores para que eles pudessem pensar por si próprios, custasse o que custasse. Ele dizia que Atenas era uma égua preguiçosa e ele o mosquito que pica o lombo da égua.

Mas diante de tanto arrojo foi acusado de "corromper a juventude" e "não reconhecer a existência dos deuses" e acabou sendo condenado a morte (forçado a tomar um cálice de cicuta). Mesmo condenado, não abriu mão do que acreditava e do que cria, mesmo que isso resultasse em salvar sua vida.

Vários paralelos entre Sócrates e Jesus Cristo são feitos para mostrar o quão difícil foi a vida de ambos. Ambos não escreveram nada, ou seja, se sabemos o que sabemos hoje é graças às narrativas de seus discípulos, mas é impossível saber se a narrativa trás 100% do que realmente pensava Sócrates ou Jesus Cristo. Ambos foram acusados e morreram pelo que acreditavam. Ambos também foram divisores de águas em suas áreas (religião e filosofia). Ambos apresentaram mudanças radicais no meio de viver das pessoas. Além de pregar essas mudanças, ambos viviam-na e mostravam a todos que era realmente possível viver a mudança, bastava apenas que "nascesse de novo". Ambos eram mestres da retórica e desafiavam os poderosos da época falando das injustiças e dos abusos de poderes. Por fim, ambos podiam ter pedido clemência e continuarem vivos, mas preferiram morrer. Não se tem a intenção de se colocar um sinal de igualdade entre os dois, mas nos mostra como a humanidade vem tratando aqueles que tentam pregar algo melhor, algo que nos faz evoluir como seres humanos.

Por último, Sócrates não acreditava que o "certo" e o "errado" deveria ser determinado pela sociedade. Para ele, você tem que saber e sentir o que é certo por você mesmo. Só assim você conseguiria viver feliz, pois alguém só consegue viver uma vida correta se acredita que aquilo que vive condiz com o que sente e julga ser o correto.

Segundo Sócrates, seria praticamente impossível forçar alguém a viver um modo de vida que a sociedade julgasse certo se a pessoa não sente que aquilo que vive é o correto pra ela mesma.
Sofia guarda as páginas, apressa-se para ir até a sua casa e não preocupar sua mãe. Contudo assim que sua mãe chega das compras, a interroga sobre as ações extranhas da filha. Sofia responde a mãe com ilustrações sobre a história de Sócrates. Sua mãe estranha isso e uma leve discussão se inicia. Sua mãe sai e Sofia sente que ela ficou irritada com a conversa. Sobe para seu quarto e pega novamente a echarpe com o nome de Hilde. "Quem seria ela?" se pergunta.