sábado, 17 de abril de 2010

[parte 16] O mundo de Sofia - Dois círculos culturais

Antes de ler as páginas datilografadas com sua próxima aula de filosofia, Sofia vê um pequeno recado de seu professor misterioso dizendo que sabia de sua volta a cabana e que tinha deixado lá os postais pra ela entregar a Hilde. Pediu pra que tenha paciência que logo entenderia tudo. Então Sofia passou para sua próxima aula.

Bem no meio da corrente filosófica do Helenísta e suas diversas vertentes, inclusive com a criação de religiões baseadas nessas correntes, surge um redentor que não fazia parte do circulo greco-romano. Esse redentor tem o nome de Jesus de Nazaré. Jesus era Judeu e os Judeus faziam parte do circulo cultural semita. Os gregos e os romanos pertenciam ao circulo cultural indo-europeu.

Os indo-europeus

Os indo-europeus primitivos viveram há aproximadamente quatro mil anos. Seu território abrange as proximidades do mar Negro e do mar Cáspio e dali povoaram o sudeste (do Irã a Índia), o sudoeste (Grécia, Itália e Espanha), o oeste (Europa Central até a Inglaterra e a França), o noroeste (rumo a Escandinava) e para o norte (rumo ao Leste Europeu e a Rússia). Por toda essa extensão os indo-europeus mesclaram-se com as culturas locais, mas fizeram predominar sua cultura e língua indo-européia. Se estudarmos a fundo todas as histórias e mitos desses países em seus dias atuais veremos que se assemelham imensamente entre si, apenas trocando nomes de deuses e dos nomes dados aos acontecimentos.

A cultura dos indo-europeus era marcada pela crença em muitos e diferentes deuses (politeísmo) e concebiam o mundo como um imenso palco onde se desenrolava o drama da luta incessante entre o bem e o mal. Eles tinham uma visão cíclica da história, ou seja, para eles a história se desenrolava em círculos como as estações do ano. Por isso eles sempre tentavam predizer o que iria acontecer com o mundo e foi nesse cenário que a filosofia se criou e desenvolveu junto com o hinduísmo e o budismo (religiões baseadas nas culturas indo européias tendo como linha religiosa a presença divina em tudo junto com a meditação e tentativa de chegar a ser um com Deus, como o projeto filosófico que Plotino criou).

Por último temos que o sentido mais importante para os indo-europeus é a visão. A observação do mundo e seu comportamento lhes guiaram através dos estudos da natureza e do comportamento humano resultando na filosofia grega.

Os semitas

Os semitas possuem cultura e língua completamente diferente dos indo–europeus. São originários da península da Arábia e se espalharam para diversas regiões do mundo através dos Judeus (que vivem longe de sua pátria natal).

As três religiões ocidentais mais impactantes têm um pano de fundo semita: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

No cristianismo em particular há uma mistura de culturas. O velho testamento foi escrito nas línguas semitas aparentadas, mas o novo testamento foi escrito em grego mostrando início da influência indo-européia. Essa influência fica mais forte com a reformulação da teologia cristã, ocorrida posteriormente, onde fica evidente a presença grega e traços da filosofia helenística.

Os semitas sempre acreditaram em um único Deus (monoteísmo) e sua visão da história e linear, ou seja, houve um início (com Adão e Eva) e haverá um fim (o Apocalipse) onde Deus julgará os vivos e os mortos. Outro ponto marcante na cultura semita é o papel de Deus na história. Para eles Deus intervém na história para que se possa cumprir Sua vontade.

Os semitas prezam muito sua história registrada, pois é nela que se baseiam todas as suas crenças. Em decorrência disso, há conflitos épicos e sangrentos em comum entre essas religiões por um lugar em específico, a cidade de Jerusalém, onde acreditam ser seu centro religioso.

Para os semitas, a audição é o sentido mais importante. Moisés escutou a Deus quando recebeu as tábuas da lei, Noé escutou a Deus para construir a arca e mesmo hoje você precisa “ouvir” o que Deus tem a falar a você e ao mundo. Outro ponto importante é que a cultura semita trás certa proibição pela representação pictória, ou seja, imagens e esculturas, principalmente daquilo que consideram sagrado. Isso tem forte embasamento no antigo testamento e o trecho “não farás para ti imagens ou esculturas”. Contudo algumas religiões têm o costume de usar esculturas sagradas, mostrando a evidência da influência grego-romana.