sexta-feira, 23 de abril de 2010

[parte 18] O mundo de Sofia - A idade média

Nas semanas seguintes Sofia não teve notícias de seu professor misterioso. Nesse tempo não recebeu nenhuma carta ou cartão e aproveitou para reler os materiais que já tinha recebido, inclusive na esperança de encontrar alguma resposta para o mistério de Hilde e seu pai.

No dia 25 de maio, a noite, Sofia estava lavando louça em sua casa e, de repente, viu um cartão postal colado no vidro da cozinha. Era um cartão do pai de Hilde em que ele dizia acreditar que os tempos passavam de forma diferente quando se comparava o tempo dele e de Hilde com o tempo de Sofia. No final ele deixa um PS à Hilde “Você poderia dizer a Sofia que eu lhe mando um abraço? A probrezinha ainda não entendeu a relação entre as coisas. Mas você sim, não é?

Sofia só tem certeza de uma coisa, ela realmente não tinha idéia de nada a respeito de Hilde. Então o telefone toca. Era seu professor misterioso dizendo que não haveria mais cartas e que precisaram correr com o curso de filosofia porque o tempo estava se esgotando. Então ele combina com Sofia de se encontrar na igreja Santa Maria, sozinhos, às 4 horas da manhã.

Sofia concorda e pede a Jurrun que a ajude. Jorunn aceita e então Sofia diz a Mãe que irá dormir na casa de Jorunn como sempre fazia (Sofia até desconfiava que a mãe gostasse para poder sair um pouco também).

As 4 da manhã, Sofia vai até a igreja e, pra sua surpresa encontra-a com as portas abertas. Essa igreja era sempre reservada o publico e suas portas ficarem abertas as 4 da manhã era algo bem estranho.

De repente, uma pessoa vestida de monge entra e faz uma oração. Era seu professor Alberto que se senta ao seu lado e começa a lhe falar sobre a idade média.

A idade média durou aproximadamente 1.000 anos. Muitos acreditam que ela representa o período de trevas do conhecimento humano, ou seja, o período em que os humanos não evoluíram em seus conceitos sociais, científicos ou filosóficos. Entretanto há muito que contestar dado que houve o crescimento e amadurecimento em algumas áreas como, por exemplo, o surgimento dos modelos de escolas como conhecemos assim como as faculdades. Também temos o surgimento de grandes metrópoles, dos contos de fadas, canções populares e muitos outros.

Durante esse período surgem dois filósofos (ou estudiosos por assim dizer) que se destacam. Um dele foi santo Agostinho (354 – 430 d.C). Agostinho resume o final da Antiguidade e os primórdios da Idade Média. Ele pesquisou muito outras tendências filosóficas antes de se tornar Cristão. A que se mostrou mais forte antes de sua conversão foi a corrente Neoplatônica.

Agostinho desenvolveu, após sua conversão e seus estudos, um conceito que fundia o cristianismo com o neoplatonismo. Segundo ele, Deus havia criado o mundo a partir do nada (como dizia a bíblia) mas antes de Deus ter criado o mundo, as idéia do que seria criado já existiam na cabeça de Deus. Ele atribuiu o conceito das idéias eternas de Platão (ou da doutrina de Plotino) a Deus e com isso juntou os conceitos do Neoplatonismo e Cristianismo.

Prosseguindo, Agostinho explica que entre Deus e o homem há um abismo intransponível como cita a bíblia, refutando a doutrina de Plotino sobre tudo ser uma coisa só, mas afirma que somos seres espirituais (capazes de reconhecer a Deus) que habitam em corpos materiais que sofrem a corrosão do tempo. Agostinho também diz que toda a raça humana foi amaldiçoada pelo pecado de Adão e Eva, por isso somente Deus decidiria quem poderia ser levado ao céu ou perecer no inferno. Ele usa as palavras de Paulo aos Romanos onde Paulo diz que não nos cabe decidir pra que fim viemos (céu ou inferno) assim como um punhado de barro não pode decidir no que será usado pelo oleiro. Em suma, Agostinho acredita que Deus já sabe o que acontecerá com cada pessoa antes mesmo de nascermos. Agostinho escreve uma obra chamada “A cidade de Deus” onde deixa claro todos esses pontos. Também fala sobre o que é reino de Deus e reino do mundo assim como a afirmação de que não há salvação fora da igreja.

Agostinho foi o primeiro filósofo a inserir a história em seu projeto filosófico quando se referia aos acontecimentos registrados entre bem e mal, retornando à visão linear do tempo (traço marcante da cultura semita).

O segundo filósofo de destaque é são Tomás de Aquino (1225 – 1274 d.C). Percebemos uma certa divisão entre cristianismo e filosofia na antiguidade mas, de uma forma breve, podemos dizer que são Tomás cristianizou Aristóteles como Agostinho fez com Platão. Isso era algo comum para a época dado a predominância cristã.

Para são Tomás, só pela fé e pele revelação cristã é que podemos chegar às verdades puras ou “verdades da fé”. Contudo havia também, segundo são Tomás, as “verdades naturais teológicas” ao lado das verdades da fé. Por verdades naturais teológicas se entendia que são às verdades que se conhecem tanto pela fé cristã quanto pela razão. São Tomas ilustrava isso quanto citava a existência de um Deus. Você pode saber que Deus existe pela fé ou pelo cominho de ver Sua existência ao olhar para as coisas no mundo.

Outro dito interessante de são Tomás é sobre como podemos conhecer Deus. Ele dizia que ao lermos um livro qualquer, podemos dizer algumas coisas sobre o autor. Não dados pontuais como idade ou local onde mora (a não ser que o autor faça questão de citar), mas podemos saber um pouco da essência do autor pela sua obra. Assim somos nós perante Deus ao estudarmos a bíblia. Podemos conhecer melhor a essência de Deus quando estudamos Suas obras. Aprofundando nisso, são Tomás acreditava em um grau de existência e numa escala representativa até chegar a Deus. Esse grau iniciaria nas plantas e animais, passaria pelos homens e sua necessidade de reflexão para conhecer a verdade, subiria para os anjos e seu conhecimento instantâneo de tudo (por isso não precisam de um corpo e também não morrem) chegando até o trono de Deus.

Infelizmente são Tomás também adquiriu a visão de Aristóteles quando se tratava das mulheres. Para ele, as mulheres eram homens mal formados, mas para são Tomás isso se dissiparia no céu dado que todas as almas são iguais perante Deus.

Apesar de não ser muito comentado, durante a idade média uma mulher também teve muito destaque. Seu nome era Hildegard Von Bingen (1098 – 1199 d.C). Ela era uma freira que fazia sermões, escritora, médica, botânica e pesquisadora natural.

Sofia fica insistindo com seu professor para saber se Hildegard tem algo a ver com Hilde

Havia uma crença cristã e judaica segundo o qual Deus não era apenas homem. Ele teria também um lado feminino, ou uma “natureza materna”. Em grego, a palavra para este lado feminino de Deus é Sophia (ou Sofia) que significa sabedoria. Isso ficou meio no esquecimento até que Hildegard afirma que Sophia lhe apareceu em visões usando uma túnica toda ornamentada de pedras preciosas...

Sofia deu um salto e disse “Talvez eu também apareça para Hilde”.

Seu professor pediu pra que ela se acalmasse e informou que Hermes a buscaria depois para as próximas aulas, mas por hora ela precisava voltar para casa porque já era meio dia. Então se despediu, levantou e foi embora.

Quando estava saindo, Sofia lhe perguntou se havia algum Alberto na idade média. Seu professor para por um instante, se vira e diz que o grande mestre de filosofia de são Tomás de Aquino se chamava Albertus Magnus. Então ele tornou a rumar para dentro da igreja. Sofia tentou segui-lo, mas ao entrar atrás dele na igreja só encontrou o templo vazio, ele tinha sumido! Então saiu correndo para casa de Jorunn.