sexta-feira, 2 de abril de 2010

[comentários] O mundo de Sofia - Sobre os filósofos naturais

Quem viu outros livros que li e publiquei aqui, percebeu que eu comentava-os junto com os resumos que fazia. Resolvi nesse livro fazer diferente. Faço resumos simples dos trechos que leio e, de tempos em tempos, adiciono uma postagem com meus pensamentos e entendimentos sobre o livro. Acho que assim não me confundirei com o que li e o que achei quando, futuramente, rever sobre o livro. Vamos ver se ficará melhor.

Sobre "O mundo de Sofia", achei muito bacana a idéia do autor em ensinar filosofia através da história intrigante de uma moça de 15 anos e seu professor misterioso envolvendo relacionamentos familiares, amizades, assuntos do cotidiano, mistérios e a história da filosofia narrada em um entendimento fácil. Contudo achei que o autor abusa ao simular os pensamentos de uma adolescente. Não acredito que um adolescente hoje voe tão alto quanto sua narrativa, mas quem sabe sou eu que preciso rever meus conceitos, não?

Tenho uma mania de ler o último trecho do livro quando começo a ler livros de maior volume e que, principalmente, trazem história com mistérios. Acredito que tenha haver com a sensação de tentar me certificar que não vou ler tudo pra no final ficar decepcionado ou na mesma em relação aos mistérios.

Confesso que no último trecho do livro (paginas 546 e 547) há um diálogo entre Hilde e seu pai onde me faz parecer que na realidade esse livro está sendo escrito pelo pai de Hilde, o que explica muito sobre os mistérios. Mas não há nada que diz isso, só foi um feeling meu. Se foi isso, o autor realmente é um filósofo nato para brincar tanto assim com a imaginação.

Agora sobre a filosofia, eu realmente fico impressionado com Tales de Mileto. Em minha opinião esse foi o verdadeiro herói de toda a história da filosofia. Imagina como é você estar em uma sociedade regida por uma crença comum a todos (defendida com sacrifícios), pensar diferente e ainda relatar isso a alguém. Some a isso o fato que, dado a crença da época, qualquer mal presságio pro povo poderia ser encarado como um castigo divino pela sua heresia e facilmente levar você a ser morto por isso.

Penso então em como uma pessoa consegue transcender o cotidiano da forma que Tales fez. Ele cria uma reviravolta no modo de pensar frente a um povo fortemente fixo nas mitologias. Pode parecer óbvio as coisas que ele começa a pensa, mas imagine alguém hoje aparecendo pra você e falando que seu mundo hoje não é o que você aprendeu, é algo totalmente diferente e surreal (lembra o filme Matrix?). Então ele encoraja outros que estavam como ele e da inicio a uma série de ações e pensamentos diferente que simplesmente mudam tudo que vemos e sabemos de forma estrutural.

Pra exemplificar minha admiração, imagine que você hoje pertencente a uma religião tradicional unânime no mundo. Você não concorda com o que vê e ouve diariamente e deduz que há outros que não concordam. Contudo não vê nada sobre isso sendo publicado em jornais, revistas, internet ou algo parecido. Ninguém ousa fica falando muito porque pode ser sacrificado em nome da religião e do ego do deus que essa religião prega. Aí você faz um blog e escreve tudo nele. Não faz publicidade pra não chamar a atenção, mas vais escrevendo tudo que pensa lá. Quem sabe alguém lê e te procura pra falar sobre. Imagina o que o dono do site do blog vai fazer quando ver o que está escrevendo no site dele? Ele vai permitir e trazer pra si confusão por pactuar com isso? Certeza que não. Aí você escreve diários sobre isso e pede pra alguns lerem. Imagina o que falaram ao lerem aquilo. O que então lhe move em direção a continuar a acreditar e, principalmente, escrever e falar sobre isso com outras pessoas? Acredito que deva ser bem complicado manter sua postura perante um cenário tão repreensivo.