segunda-feira, 12 de abril de 2010

[parte 14] O mundo de Sofia - O helenismo

No caminho da escola, Sofia encontrou uma foto que trazia um jipe com a bandeira da ONU. Ao pegá-la do chão percebeu que era um cartão postal endereçado a Hilde Mooler Knag onde seu pai lhe falava de um presente que ela (Hilde) iria receber e que iria ajudá-la pelo resto de sua vida. Também no cartão havia a menção de que a carteirinha de estudante que Hilde tinha perdido na carteira verde dela seria reconquistada sem demora.

Sofia ficou paralisada por um tempo para poder processar isso. “Como seria possível alguém saber que eu iria passar aqui e dar atenção a esse cartão postal? Será que foi uma incrível coincidência?” pensou. Voltou a sua casa, guardou o cartão e retomou o caminho pra escola sabendo que estava muito atrasada (e tinha atrasado sua amiga Jorunn). Encontrou Jurunn impaciente. Pediu desculpas e correram pra escola.

Na terceira aula, havia uma prova de religião que Sofia nem sequer havia aberto o livro pra estudar. Decidiu aplicar seus conhecimentos de filosofia na prova. Ao término das aulas, seu professor de religião lhe chamou. Questionou Sofia se havia realmente estudado pra prova e se devia dar uma boa nota ou não pois ele achou suas respostas profundas (mais do que estava escritos nos livros de religião) e muito bem elaboradas. Sofia, com a bagagem dos estudos de filosofia, não teve dúvida da qualidade de suas respostas e transpareceu isso para o professor de religião que lhe deu dez, com a condição que Sofia estudasse as matérias de religião e fizesse seus deves de casa no futuro.

Ao chegar em casa, após o almoço, Sofia correu para o esconderijo e encontrou mais um envelope amarelo com as marcas de Hermes, mostrando que o envelope acabara de ter sido entregue.

Após os principais ícones da filosofia da idade antiga, houve uma reviravolta mundial, uma nova era na humanidade. Através das lutas contra os persas (e a vitória) junto com diversas outras conquistas, Alexandre Magno (356-323 a.C.) uniu diversos reinos (Macedônia, Síria e Egito). Junto com essas conquistas, houve a predominância da língua e cultura grega e esse período ficou conhecido como helenismo. Sua característica marcante era o desaparecimento das fronteiras entre os países e suas culturas criando uma mistura de conceitos, filosofias e ciências. Diversas correntes filosóficas surgiram, dentre elas as principais são: os cínicos, os estóicos, os epicureus e os neoplatônicos.


Os cínicos

Os cínicos eram extremamente céticos a respeito de posses. Sua linha filosófica regia que você só será realmente feliz se não depender de nada material para ser feliz. O cínico de maior importância foi Diógenes que vivia em um barril e só possuía uma túnica, um cajado e um embornal de pão.

Os estóicos

Os estóicos diziam que as pessoas eram partes de uma mesma razão universal, ou “logos”. Isso caminhou para a idéia de um direito universalmente válido ou “direito natural”. Esse direito valia para todas as pessoas (escravos, senhores, comerciante, negros, brancos e etc). Também negavam que o homem era feito de corpo e alma. Para eles tudo era uma coisa só, a natureza. Eles criaram o conceito do humanismo através de Cícero (106-43 a.C.) e Sêneca (4 a.C – 65 d.C.). Seus membros ocupavam cargos importantes e tiveram grande atuação no helenismo e na posterior cultura romana.

Os estóicos também eram a favor do homem aceitar as leis da natureza por completo em suas vidas. Para eles tudo acontece como tem que acontecer e não adiantava muito lutar contra uma enfermidade ou resistir a algo bom porque estava no destino das pessoas esses acontecimentos, quer quisessem ou não. Então tudo que tinham que fazer era esperar e lidar com a máxima naturalidade possível frente aos acontecimentos que surgiam.


Os epicureus

Para eles o objetivo da vida era obter dos sentidos o máximo de satisfação possível. O prazer era o bem supremo e a dor era o mal supremo assim seus objetivos eram desenvolver uma filosofia de vida que afastasse toda e qualquer forma de dor ou sofrimento.

Para seu fundador (Epicuro), o resultado prazeroso de uma ação deve apenas ser ponderado em relação aos efeitos colaterais eventuais ou possíveis prazeres maiores, mais duradouros e mais intensos no futuro.


Os neoplatônicos

Os cínicos, os estóicos e os epicureus tiveram como ponto de partida os ensinamentos de Sócrates, mas a corrente filosófica do helenismo mais importante e atuante foi o neoplatonismo (baseado nas teorias de Platão como sugere o nome). Seu representante mais ilustre foi Plotino (205-270 d.C.) que trouxe para Roma a doutrina da salvação, concorrente do cristianismo vigente naquela época e posteriormente veio a ser uma forte influência para a própria doutrina cristã.

Para Plotino, havia somente duas realidades: de um lado a luz divina (chamado por ele de Uno ou Deus) e do outro lado havia a ausência total dessa luz ou as trevas. É importante citar que trevas para Plotino era a ausência total de algo e não algo em si.

De acordo com Plotino, a luz do Uno iluminava a alma ao passo que a matéria ficava com as trevas porque não possuíam uma existência real. Também Plotino citava que as formas da natureza possuem um reflexo do Uno, mesmo que tênue.

Plotino desenvolve essa linha filosófica e cria a experiência mística ou experiência em que você se funde com o Uno por um pequeno momento tendo assim a experiência da plenitude total. Em nossa realidade seria aquilo que ouvimos falar de ser um só com Deus ou com a “alma do universo”.

Isso gerou muitas sub-correntes místicas. Segundo os místicos, o homem possui uma alma incompleta que anseia por retornar a sua morada original. Quando você experimenta essa sensação e como se perder em si mesmo ou perder-se naquilo que constitui sua alma. Serial algo como se você fosse uma gota d’água e quando tem essa experiência é momento que você chega ao oceano dando a você a sensação de estar completo. Você é o oceano e o oceano é você.

Encontramos vertentes místicas em todas as grandes religiões do mundo. Algumas pregam o cosmo ou o universo como sendo o Deus de sua crença e outros pregam que seu Deus é um Deus pessoal, mas que também é presente na natureza e em tudo que vemos. Quando comparamos seus relatos místicos (ou como alguns chamam, espirituais) vemos em seu cerne essa uma única vertente filosófica se desenhando. Em muito locais as experiências místicas se misturam ou definem a ética, a política, as leis ou o comportamento social.

Sofia fecha os olhos e começa a sentir como se saísse de seu corpo. Passa então sentir tudo que foi narrado pelo seu professor misterioso e sentir algo único, que nunca havia sentido. Quando acordou sentiu-se triste por ter voltado a realidade então guardou as novas páginas de seu livro pessoal de filosofia e ficou a pergunta: “Será mesmo que sou parte de um eu total, uma gota no oceano?”.