sexta-feira, 23 de abril de 2010

[parte 18] O mundo de Sofia - A idade média

Nas semanas seguintes Sofia não teve notícias de seu professor misterioso. Nesse tempo não recebeu nenhuma carta ou cartão e aproveitou para reler os materiais que já tinha recebido, inclusive na esperança de encontrar alguma resposta para o mistério de Hilde e seu pai.

No dia 25 de maio, a noite, Sofia estava lavando louça em sua casa e, de repente, viu um cartão postal colado no vidro da cozinha. Era um cartão do pai de Hilde em que ele dizia acreditar que os tempos passavam de forma diferente quando se comparava o tempo dele e de Hilde com o tempo de Sofia. No final ele deixa um PS à Hilde “Você poderia dizer a Sofia que eu lhe mando um abraço? A probrezinha ainda não entendeu a relação entre as coisas. Mas você sim, não é?

Sofia só tem certeza de uma coisa, ela realmente não tinha idéia de nada a respeito de Hilde. Então o telefone toca. Era seu professor misterioso dizendo que não haveria mais cartas e que precisaram correr com o curso de filosofia porque o tempo estava se esgotando. Então ele combina com Sofia de se encontrar na igreja Santa Maria, sozinhos, às 4 horas da manhã.

Sofia concorda e pede a Jurrun que a ajude. Jorunn aceita e então Sofia diz a Mãe que irá dormir na casa de Jorunn como sempre fazia (Sofia até desconfiava que a mãe gostasse para poder sair um pouco também).

As 4 da manhã, Sofia vai até a igreja e, pra sua surpresa encontra-a com as portas abertas. Essa igreja era sempre reservada o publico e suas portas ficarem abertas as 4 da manhã era algo bem estranho.

De repente, uma pessoa vestida de monge entra e faz uma oração. Era seu professor Alberto que se senta ao seu lado e começa a lhe falar sobre a idade média.

A idade média durou aproximadamente 1.000 anos. Muitos acreditam que ela representa o período de trevas do conhecimento humano, ou seja, o período em que os humanos não evoluíram em seus conceitos sociais, científicos ou filosóficos. Entretanto há muito que contestar dado que houve o crescimento e amadurecimento em algumas áreas como, por exemplo, o surgimento dos modelos de escolas como conhecemos assim como as faculdades. Também temos o surgimento de grandes metrópoles, dos contos de fadas, canções populares e muitos outros.

Durante esse período surgem dois filósofos (ou estudiosos por assim dizer) que se destacam. Um dele foi santo Agostinho (354 – 430 d.C). Agostinho resume o final da Antiguidade e os primórdios da Idade Média. Ele pesquisou muito outras tendências filosóficas antes de se tornar Cristão. A que se mostrou mais forte antes de sua conversão foi a corrente Neoplatônica.

Agostinho desenvolveu, após sua conversão e seus estudos, um conceito que fundia o cristianismo com o neoplatonismo. Segundo ele, Deus havia criado o mundo a partir do nada (como dizia a bíblia) mas antes de Deus ter criado o mundo, as idéia do que seria criado já existiam na cabeça de Deus. Ele atribuiu o conceito das idéias eternas de Platão (ou da doutrina de Plotino) a Deus e com isso juntou os conceitos do Neoplatonismo e Cristianismo.

Prosseguindo, Agostinho explica que entre Deus e o homem há um abismo intransponível como cita a bíblia, refutando a doutrina de Plotino sobre tudo ser uma coisa só, mas afirma que somos seres espirituais (capazes de reconhecer a Deus) que habitam em corpos materiais que sofrem a corrosão do tempo. Agostinho também diz que toda a raça humana foi amaldiçoada pelo pecado de Adão e Eva, por isso somente Deus decidiria quem poderia ser levado ao céu ou perecer no inferno. Ele usa as palavras de Paulo aos Romanos onde Paulo diz que não nos cabe decidir pra que fim viemos (céu ou inferno) assim como um punhado de barro não pode decidir no que será usado pelo oleiro. Em suma, Agostinho acredita que Deus já sabe o que acontecerá com cada pessoa antes mesmo de nascermos. Agostinho escreve uma obra chamada “A cidade de Deus” onde deixa claro todos esses pontos. Também fala sobre o que é reino de Deus e reino do mundo assim como a afirmação de que não há salvação fora da igreja.

Agostinho foi o primeiro filósofo a inserir a história em seu projeto filosófico quando se referia aos acontecimentos registrados entre bem e mal, retornando à visão linear do tempo (traço marcante da cultura semita).

O segundo filósofo de destaque é são Tomás de Aquino (1225 – 1274 d.C). Percebemos uma certa divisão entre cristianismo e filosofia na antiguidade mas, de uma forma breve, podemos dizer que são Tomás cristianizou Aristóteles como Agostinho fez com Platão. Isso era algo comum para a época dado a predominância cristã.

Para são Tomás, só pela fé e pele revelação cristã é que podemos chegar às verdades puras ou “verdades da fé”. Contudo havia também, segundo são Tomás, as “verdades naturais teológicas” ao lado das verdades da fé. Por verdades naturais teológicas se entendia que são às verdades que se conhecem tanto pela fé cristã quanto pela razão. São Tomas ilustrava isso quanto citava a existência de um Deus. Você pode saber que Deus existe pela fé ou pelo cominho de ver Sua existência ao olhar para as coisas no mundo.

Outro dito interessante de são Tomás é sobre como podemos conhecer Deus. Ele dizia que ao lermos um livro qualquer, podemos dizer algumas coisas sobre o autor. Não dados pontuais como idade ou local onde mora (a não ser que o autor faça questão de citar), mas podemos saber um pouco da essência do autor pela sua obra. Assim somos nós perante Deus ao estudarmos a bíblia. Podemos conhecer melhor a essência de Deus quando estudamos Suas obras. Aprofundando nisso, são Tomás acreditava em um grau de existência e numa escala representativa até chegar a Deus. Esse grau iniciaria nas plantas e animais, passaria pelos homens e sua necessidade de reflexão para conhecer a verdade, subiria para os anjos e seu conhecimento instantâneo de tudo (por isso não precisam de um corpo e também não morrem) chegando até o trono de Deus.

Infelizmente são Tomás também adquiriu a visão de Aristóteles quando se tratava das mulheres. Para ele, as mulheres eram homens mal formados, mas para são Tomás isso se dissiparia no céu dado que todas as almas são iguais perante Deus.

Apesar de não ser muito comentado, durante a idade média uma mulher também teve muito destaque. Seu nome era Hildegard Von Bingen (1098 – 1199 d.C). Ela era uma freira que fazia sermões, escritora, médica, botânica e pesquisadora natural.

Sofia fica insistindo com seu professor para saber se Hildegard tem algo a ver com Hilde

Havia uma crença cristã e judaica segundo o qual Deus não era apenas homem. Ele teria também um lado feminino, ou uma “natureza materna”. Em grego, a palavra para este lado feminino de Deus é Sophia (ou Sofia) que significa sabedoria. Isso ficou meio no esquecimento até que Hildegard afirma que Sophia lhe apareceu em visões usando uma túnica toda ornamentada de pedras preciosas...

Sofia deu um salto e disse “Talvez eu também apareça para Hilde”.

Seu professor pediu pra que ela se acalmasse e informou que Hermes a buscaria depois para as próximas aulas, mas por hora ela precisava voltar para casa porque já era meio dia. Então se despediu, levantou e foi embora.

Quando estava saindo, Sofia lhe perguntou se havia algum Alberto na idade média. Seu professor para por um instante, se vira e diz que o grande mestre de filosofia de são Tomás de Aquino se chamava Albertus Magnus. Então ele tornou a rumar para dentro da igreja. Sofia tentou segui-lo, mas ao entrar atrás dele na igreja só encontrou o templo vazio, ele tinha sumido! Então saiu correndo para casa de Jorunn.

sábado, 17 de abril de 2010

[parte 17] O mundo de Sofia - Jesus Cristo

Vamos ver rapidamente o pensamento e crença cristã até os dias de Jesus Cristo. Tudo começa com a criação do mundo por Deus, inclusive de sua imagem e semelhança: Adão e Eva. Esses residem em um local perfeito, o paraíso. Adão e Eva se rebelam e Deus os castiga expulsado-os do paraíso. A partir desse momento a morte passa a fazer parte do mundo.

A desobediência faz parte de toda a história do homem e seu relacionamento com Deus. Vários lideres surgem e “corrigem” o caminho do povo de Deus (os israelitas). O ultimo grande líder foi Davi que fez os israelitas terem o pico de plenitude em termos de povo.

Depois de Davi, o povo cai novamente em declínio e é escravizado. Vários profetas então surgem dizendo que um novo líder iria surgir para libertar, não só os israelitas, como toda a humanidade do mal que ela estava inserida. Segundo esses profetas, o reino de Deus iria surgir e reinar sobre toda a terra.

Jesus Cristo

Eis que surge então Jesus Cristo, o líder dos líderes. Mas o que Cristo realmente fez não é mostrado tão claramente nos dias de hoje. Ele é o primeiro profeta da história a admitir publicamente que é filho de Deus, além de ser o único. Até então nenhum dos profetas registrados assumia para si tamanha responsabilidade. Jesus se auto proclamava filho de Deus e também vive como tal, o que mostrava a todos uma prova de suas palavras.

Segundo, Cristo é o primeiro homem que distribui o perdão aos outros. Desde prostitutas até funcionários corruptos do governo. Ele não só perdoa como diz que alguns desses são mais dignos do seu Pai do que os doutores da lei da época, se esses pecadores se arrependessem de verdade. Veja, isso é um afronte de uma magnitude jamais vista em toda história da humanidade. É como se hoje um líder de uma igreja pudesse permitir um ladrão (que se redimiu) entrar no paraíso celestial e condenar um juiz de direto ao inferno porque o juiz simplesmente é esnobe ou metido. Uma mudança extremamente radical na época do “olho por olho e dente por dente”.

Terceiro, o povo esperava um general, um rei, um líder que libertasse o povo a ferro e fogo. Mas Jesus traz novamente algo nunca jamais visto. Ele passa a afirmar que o verdadeiro reino de Deus (pregado pelos profetas) era o reino do amor e não um local geográfico. Ele passa para o plano da emoção a resolução dos problemas que o povo tinha e que estavam fundados no plano material.

Quarto, Sócrates morreu por forçar o povo a pensar racionalmente. Jesus morreu (e uma morte mais sofrida que a de Sócrates) por expor e defender um amor incondicional.

Em suma, mesmo que não tenhamos a ótica da religião cristã, Jesus Cristo foi um homem extraordinário em suas idéias e ações. Isso motiva e gera até os dias atuais milhões de adeptos “pós-morte”, inclusive Paulo, um dos mais célebres pregadores cristãos de todos os tempos.

Paulo teve seu encontro com os filósofos da época na cidade de Atenas. Estamos falando do encontro de duas correntes de pensamentos que se chocam em vários aspectos. Esse encontro foi no mercado de Atenas e é narrado na bíblia quando Paulo discursa aos atenienses. No discurso, Paulo fala que ele é o mensageiro do “Deus desconhecido” e que ele traz a boa nova, a hora dos atenienses saberem da verdade e dogmas cristão. Então ele ensina brevemente o proceder cristão para que todos possam salvar suas almas.

Nessa época existiam outras religiões e credos nascidos do helenismo, mas nenhum foi suficiente para derrubar a domínio da religião cristã. Principalmente no que se referia ao humanismo cristão. A religião cristã era (e acho que ainda é) a única em que Deus se fez em homem (não em meio homem, meio Deus como os atenienses escutavam), morou com os homens, viveu como homem, morreu como homem mas ressuscitou como Deus. Algo mais uma vez extraordinário frente ao que se via até aqueles dias. Por isso o cristianismo se espalhou sobre toda a terra em uma velocidade impressionante até para os dias atuais.

Sofia acabou de ler aquelas folhas e ficou a pensar em como seria um povo que ansiava a liberdade de um cativeiro. Ficou a pensar também no paradoxo que Jesus quebrou ao trazer tanta mudança de uma só vez à humanidade. Começou a entender o motivo da sua crucificação (afinal o homem tende a matar o que não conhece e que ameaça o seu conforto). Saiu de seu esconderijo e voltou ao ser quarto para guardar as novas folhas ao seu livro de filosofia.

[parte 16] O mundo de Sofia - Dois círculos culturais

Antes de ler as páginas datilografadas com sua próxima aula de filosofia, Sofia vê um pequeno recado de seu professor misterioso dizendo que sabia de sua volta a cabana e que tinha deixado lá os postais pra ela entregar a Hilde. Pediu pra que tenha paciência que logo entenderia tudo. Então Sofia passou para sua próxima aula.

Bem no meio da corrente filosófica do Helenísta e suas diversas vertentes, inclusive com a criação de religiões baseadas nessas correntes, surge um redentor que não fazia parte do circulo greco-romano. Esse redentor tem o nome de Jesus de Nazaré. Jesus era Judeu e os Judeus faziam parte do circulo cultural semita. Os gregos e os romanos pertenciam ao circulo cultural indo-europeu.

Os indo-europeus

Os indo-europeus primitivos viveram há aproximadamente quatro mil anos. Seu território abrange as proximidades do mar Negro e do mar Cáspio e dali povoaram o sudeste (do Irã a Índia), o sudoeste (Grécia, Itália e Espanha), o oeste (Europa Central até a Inglaterra e a França), o noroeste (rumo a Escandinava) e para o norte (rumo ao Leste Europeu e a Rússia). Por toda essa extensão os indo-europeus mesclaram-se com as culturas locais, mas fizeram predominar sua cultura e língua indo-européia. Se estudarmos a fundo todas as histórias e mitos desses países em seus dias atuais veremos que se assemelham imensamente entre si, apenas trocando nomes de deuses e dos nomes dados aos acontecimentos.

A cultura dos indo-europeus era marcada pela crença em muitos e diferentes deuses (politeísmo) e concebiam o mundo como um imenso palco onde se desenrolava o drama da luta incessante entre o bem e o mal. Eles tinham uma visão cíclica da história, ou seja, para eles a história se desenrolava em círculos como as estações do ano. Por isso eles sempre tentavam predizer o que iria acontecer com o mundo e foi nesse cenário que a filosofia se criou e desenvolveu junto com o hinduísmo e o budismo (religiões baseadas nas culturas indo européias tendo como linha religiosa a presença divina em tudo junto com a meditação e tentativa de chegar a ser um com Deus, como o projeto filosófico que Plotino criou).

Por último temos que o sentido mais importante para os indo-europeus é a visão. A observação do mundo e seu comportamento lhes guiaram através dos estudos da natureza e do comportamento humano resultando na filosofia grega.

Os semitas

Os semitas possuem cultura e língua completamente diferente dos indo–europeus. São originários da península da Arábia e se espalharam para diversas regiões do mundo através dos Judeus (que vivem longe de sua pátria natal).

As três religiões ocidentais mais impactantes têm um pano de fundo semita: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

No cristianismo em particular há uma mistura de culturas. O velho testamento foi escrito nas línguas semitas aparentadas, mas o novo testamento foi escrito em grego mostrando início da influência indo-européia. Essa influência fica mais forte com a reformulação da teologia cristã, ocorrida posteriormente, onde fica evidente a presença grega e traços da filosofia helenística.

Os semitas sempre acreditaram em um único Deus (monoteísmo) e sua visão da história e linear, ou seja, houve um início (com Adão e Eva) e haverá um fim (o Apocalipse) onde Deus julgará os vivos e os mortos. Outro ponto marcante na cultura semita é o papel de Deus na história. Para eles Deus intervém na história para que se possa cumprir Sua vontade.

Os semitas prezam muito sua história registrada, pois é nela que se baseiam todas as suas crenças. Em decorrência disso, há conflitos épicos e sangrentos em comum entre essas religiões por um lugar em específico, a cidade de Jerusalém, onde acreditam ser seu centro religioso.

Para os semitas, a audição é o sentido mais importante. Moisés escutou a Deus quando recebeu as tábuas da lei, Noé escutou a Deus para construir a arca e mesmo hoje você precisa “ouvir” o que Deus tem a falar a você e ao mundo. Outro ponto importante é que a cultura semita trás certa proibição pela representação pictória, ou seja, imagens e esculturas, principalmente daquilo que consideram sagrado. Isso tem forte embasamento no antigo testamento e o trecho “não farás para ti imagens ou esculturas”. Contudo algumas religiões têm o costume de usar esculturas sagradas, mostrando a evidência da influência grego-romana.

terça-feira, 13 de abril de 2010

[parte 15] O mundo de Sofia - Retornando à cabana do major

Passaram-se alguns dias sem que Sofia recebesse algo de seu professor misterioso. Já estava próximo o dia do feriado nacional do país de Sofia (Noruega) e Jorunn convidou Sofia para acampar como faziam sempre. Sofia pensou em relutar dado seu curso de filosofia, mas achou melhor aceitar o convite de Jorunn.

Jorunn passou em sua casa, ambas escutaram um verdadeiro sermão da mãe do Sofia do que deviam e não deviam fazer e seguiram para Tiurtoppen, uma clareira dentro da mata que costumavam sempre acampar, mas que foi escolhida por Sofia pelo fato de ficar próximo a Casa do Major (mais uma vez algo dizia a ela que deveria voltar lá, mesmo que isso desse calafrios nela). Então partiram para Tiurtoppen munidas de tudo necessário para seu acampamento.

Depois que tudo estava montado em Tiurtoppen, Sofia comentou sobre a Caba do Major com Jorunn e sugeriu ir lá para conhecer (insinuando que nunca tivera ido até lá). Jorunn, meio relutante, aceitou e seguiram na direção da Caba do Major.

Sofia dava todos os indícios que conhecia o caminho, mas continuava a negar para Jorunn esse fato. Chegaram a cabana e nitidamente viram que estava tudo abandonado. Conseguiram entrar e começaram a vistoriar o local.

Sofia viu novamente o espelho velho e Jorunn achou na frente do espelho uma porção de cartões postais, todos enviado por alguém do Líbano para uma tal de Hilde Muller Knag. Sofia suspirou fundo e pesadamente. Jorunn apertou ela para saber se Sofia já conhecia ou não o lugar. Sofia confirmou que sim e então começaram a ler os cartões.

Todos os cartões eram do pai de Hilde falando do lugar, do horror da guerra e de como ele gostaria de conseguir estar lá no dia do aniversário de Hilde, mas as ordens tinham que ser cumpridas e ele não poderia prometer nada. Contudo, em todos os cartões, seu pai falava de um enorme presente que ela (Hilde) iria receber.

No ultimo cartão porém, o pai de Hilde falava que esse presente chegaria com a ajuda de Sofia e que a amiga Jorunn poderia ajudar nessa tarefa. Pra piorar a situação o cartão estava com a data de atual (16/05/1990), o que deixou Sofia e Jorunn aterrorizadas e ambas decidiram ir embora imediatamente.

Sofia quis atribuir esses cartões ao espelho velho, afirmando que esse espelho era uma espécie de espelho mágico, e quis levá-lo consigo. Jorunn não gostou muito da idéia mas deixou sua amiga fazer o que queria.

Voltaram para seu acampamento e o ar de suspense ficou pairando por toda a noite e no outro dia. Falaram muito sobre o assunto, mas Sofia não citou nenhum detalhe sobre seu curso de filosofia, o professor misterioso e os outros cartões que recebera.

Chegando em casa, a mãe de Sofia a interrogou sobre onde teria conseguido tal espelho. Sofia falou sobre a Cabana do Major. Sua mãe voltou a dizer o quanto o Major da cabana era estranho, mas não se importou com o espelho e o resto do feriado transcorreu normalmente.

A noite, Sofia viu algumas reportagens sobre a missão de paz da ONU no Líbano e grudou os olhos para ver se guardava todos os rostos dos soldados que apareciam, quem sabe o pai de Hilde estava por lá.

Na manhã seguinte, Sofia correu para seu esconderijo e encontrou um envelope amarelo, abriu imediatamente e começou a ler.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

[parte 14] O mundo de Sofia - O helenismo

No caminho da escola, Sofia encontrou uma foto que trazia um jipe com a bandeira da ONU. Ao pegá-la do chão percebeu que era um cartão postal endereçado a Hilde Mooler Knag onde seu pai lhe falava de um presente que ela (Hilde) iria receber e que iria ajudá-la pelo resto de sua vida. Também no cartão havia a menção de que a carteirinha de estudante que Hilde tinha perdido na carteira verde dela seria reconquistada sem demora.

Sofia ficou paralisada por um tempo para poder processar isso. “Como seria possível alguém saber que eu iria passar aqui e dar atenção a esse cartão postal? Será que foi uma incrível coincidência?” pensou. Voltou a sua casa, guardou o cartão e retomou o caminho pra escola sabendo que estava muito atrasada (e tinha atrasado sua amiga Jorunn). Encontrou Jurunn impaciente. Pediu desculpas e correram pra escola.

Na terceira aula, havia uma prova de religião que Sofia nem sequer havia aberto o livro pra estudar. Decidiu aplicar seus conhecimentos de filosofia na prova. Ao término das aulas, seu professor de religião lhe chamou. Questionou Sofia se havia realmente estudado pra prova e se devia dar uma boa nota ou não pois ele achou suas respostas profundas (mais do que estava escritos nos livros de religião) e muito bem elaboradas. Sofia, com a bagagem dos estudos de filosofia, não teve dúvida da qualidade de suas respostas e transpareceu isso para o professor de religião que lhe deu dez, com a condição que Sofia estudasse as matérias de religião e fizesse seus deves de casa no futuro.

Ao chegar em casa, após o almoço, Sofia correu para o esconderijo e encontrou mais um envelope amarelo com as marcas de Hermes, mostrando que o envelope acabara de ter sido entregue.

Após os principais ícones da filosofia da idade antiga, houve uma reviravolta mundial, uma nova era na humanidade. Através das lutas contra os persas (e a vitória) junto com diversas outras conquistas, Alexandre Magno (356-323 a.C.) uniu diversos reinos (Macedônia, Síria e Egito). Junto com essas conquistas, houve a predominância da língua e cultura grega e esse período ficou conhecido como helenismo. Sua característica marcante era o desaparecimento das fronteiras entre os países e suas culturas criando uma mistura de conceitos, filosofias e ciências. Diversas correntes filosóficas surgiram, dentre elas as principais são: os cínicos, os estóicos, os epicureus e os neoplatônicos.


Os cínicos

Os cínicos eram extremamente céticos a respeito de posses. Sua linha filosófica regia que você só será realmente feliz se não depender de nada material para ser feliz. O cínico de maior importância foi Diógenes que vivia em um barril e só possuía uma túnica, um cajado e um embornal de pão.

Os estóicos

Os estóicos diziam que as pessoas eram partes de uma mesma razão universal, ou “logos”. Isso caminhou para a idéia de um direito universalmente válido ou “direito natural”. Esse direito valia para todas as pessoas (escravos, senhores, comerciante, negros, brancos e etc). Também negavam que o homem era feito de corpo e alma. Para eles tudo era uma coisa só, a natureza. Eles criaram o conceito do humanismo através de Cícero (106-43 a.C.) e Sêneca (4 a.C – 65 d.C.). Seus membros ocupavam cargos importantes e tiveram grande atuação no helenismo e na posterior cultura romana.

Os estóicos também eram a favor do homem aceitar as leis da natureza por completo em suas vidas. Para eles tudo acontece como tem que acontecer e não adiantava muito lutar contra uma enfermidade ou resistir a algo bom porque estava no destino das pessoas esses acontecimentos, quer quisessem ou não. Então tudo que tinham que fazer era esperar e lidar com a máxima naturalidade possível frente aos acontecimentos que surgiam.


Os epicureus

Para eles o objetivo da vida era obter dos sentidos o máximo de satisfação possível. O prazer era o bem supremo e a dor era o mal supremo assim seus objetivos eram desenvolver uma filosofia de vida que afastasse toda e qualquer forma de dor ou sofrimento.

Para seu fundador (Epicuro), o resultado prazeroso de uma ação deve apenas ser ponderado em relação aos efeitos colaterais eventuais ou possíveis prazeres maiores, mais duradouros e mais intensos no futuro.


Os neoplatônicos

Os cínicos, os estóicos e os epicureus tiveram como ponto de partida os ensinamentos de Sócrates, mas a corrente filosófica do helenismo mais importante e atuante foi o neoplatonismo (baseado nas teorias de Platão como sugere o nome). Seu representante mais ilustre foi Plotino (205-270 d.C.) que trouxe para Roma a doutrina da salvação, concorrente do cristianismo vigente naquela época e posteriormente veio a ser uma forte influência para a própria doutrina cristã.

Para Plotino, havia somente duas realidades: de um lado a luz divina (chamado por ele de Uno ou Deus) e do outro lado havia a ausência total dessa luz ou as trevas. É importante citar que trevas para Plotino era a ausência total de algo e não algo em si.

De acordo com Plotino, a luz do Uno iluminava a alma ao passo que a matéria ficava com as trevas porque não possuíam uma existência real. Também Plotino citava que as formas da natureza possuem um reflexo do Uno, mesmo que tênue.

Plotino desenvolve essa linha filosófica e cria a experiência mística ou experiência em que você se funde com o Uno por um pequeno momento tendo assim a experiência da plenitude total. Em nossa realidade seria aquilo que ouvimos falar de ser um só com Deus ou com a “alma do universo”.

Isso gerou muitas sub-correntes místicas. Segundo os místicos, o homem possui uma alma incompleta que anseia por retornar a sua morada original. Quando você experimenta essa sensação e como se perder em si mesmo ou perder-se naquilo que constitui sua alma. Serial algo como se você fosse uma gota d’água e quando tem essa experiência é momento que você chega ao oceano dando a você a sensação de estar completo. Você é o oceano e o oceano é você.

Encontramos vertentes místicas em todas as grandes religiões do mundo. Algumas pregam o cosmo ou o universo como sendo o Deus de sua crença e outros pregam que seu Deus é um Deus pessoal, mas que também é presente na natureza e em tudo que vemos. Quando comparamos seus relatos místicos (ou como alguns chamam, espirituais) vemos em seu cerne essa uma única vertente filosófica se desenhando. Em muito locais as experiências místicas se misturam ou definem a ética, a política, as leis ou o comportamento social.

Sofia fecha os olhos e começa a sentir como se saísse de seu corpo. Passa então sentir tudo que foi narrado pelo seu professor misterioso e sentir algo único, que nunca havia sentido. Quando acordou sentiu-se triste por ter voltado a realidade então guardou as novas páginas de seu livro pessoal de filosofia e ficou a pergunta: “Será mesmo que sou parte de um eu total, uma gota no oceano?”.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

[parte 13] O mundo de Sofia - Aristóteles

Enquanto sua mãe tirava uma soneca depois do almoço, Sofia desceu até se esconderijo para ver se tinha alguma novidade. Consigo levou seu envelope rosa e um torrão de açúcar pra enviar ao seu professor misterioso.

Ainda não havia nada quando chegou a seu esconderijo, mas momentos depois Sofia ouviu alguns barulhos conhecidos e Hermes surgiu em meio aos arbustos com um envelope amarelo na boca. Sofia deu o torrão de açúcar ao cachorro e o envelope rosa, então Hermes voltou à floresta.

Ao abrir o envelope, Sofia viu as folhas datilografadas e um bilhete onde seu professor diz que se a curiosidade que a motivou ir até sua cabana for a mesma para estudar filosofia, ela seria uma filósofa e tanto. Mas seu bilhete deixava claro que seu professor não tinha ficado bravo e, no final, ele dizia que não iria mais enviar os bilhetes brancos com perguntas introdutórias porque acreditava que Sofia já tinha muita coisa pra pensar e poupá-la era o mais sensato. Então Sofia começa a ler as paginas datilografadas.

Aristóteles foi o ultimo dos grandes filósofos da antiguidade. Seus traços marcantes foram a exímia facilidade em organizar as coisas e seu extremo interesse pela biologia, sendo considerado um dos primeiro biólogos da humanidade.

Filósofo e Cientista

Aristóteles (384-322 a.C.) era natural da Macedônia e filho de um médico de renome, isso já nos diz o rumo do projeto filosófico de Aristóteles, natureza viva. Veio para academia quando Plutão tinha 61 anos.

Embora discípulo de Platão, há muitas diferenças entre eles. Platão era pura razão, já Aristóteles era mais voltado aos sentidos pelo gosto à natureza. Platão era poeta e criador de mitos já Aristóteles escreve sobriamente com pormenores de uma enciclopédia. Por isso ele é considerado o grande organizador haja visto seu legado até nossos dias quando vemos as divisões das ciências e a sistematização dos estudos.

As idéias não são inatas

Aristóteles, ao contrário de Platão, não acreditava que as idéia eram inatas. Para Aristóteles não existia “formas perfeitas no mundo de idéias”. Ele acreditava que o conceito era totalmente ao contrário: nós observamos as coisas e começamos a agrupá-las automaticamente para facilitar nossa vida, então somos nós que criamos definimos as formas perfeitas com o passar do tempo. Em suma, não nascemos com as idéias natas, passamos a construí-las depois que nascemos dados que somos a única raça racional (nisso Aristóteles concordava com Platão).

Aristóteles desenvolve mais esse conceito de forma (ou modelo). Ele passa a definir “forma” como característica das coisas, não só físicas, mas também comportamentais junto com suas limitações. Ele também chama de “substância” o que compõe a coisa em si, ou seja, aquilo que se esforça pra formar o que o modelo exige.

Causas

Aristóteles também cria o conceito de “causas”. Para ele, tudo pode possuir quatro causas básicas:
  • Causa substancial ou causa material – a explicação física da coisa.
  • Causa atuante ou eficiente – a ação inerente a coisa.
  • Causa forma – são as propriedades da coisa.
  • Causa final – é o porquê da existência daquela coisa.

Lógica

Aristóteles cria a lógica para conseguir sistematizar aquilo que fazemos naturalmente, a segmentação ou organização das coisas. Veja um exemplo, os ratos fazem parte de que grupo? Ele é vivo, logo sabemos que não é mineral. Se é vivo e observamos um pouco seu comportamento, sabemos que seus filhotes nascem prontos e manam, logo é mamífero. Podemos descer o detalhamento e reagrupar os ratos em vário subgrupos, quanto nós acharmos conveniente, graças à lógica.

A escada da natureza

Baseado nessas premissas anteriores, Aristóteles começa uma classificação da natureza. Primeiro ele cria 2 grupos: os inanimados e as criaturas vivas. Ele acredita que as coisas inanimadas gradativamente progridem para coisas vivas sendo o grupo das plantas uma espécie que está entre os dois grupos. Por ultimo, Aristóteles divide o grupo das coisas vivas em animais e o homem.

Ao falar do homem, ele afirma que esse é o único com todas as capacidades dos animais somando capacidade de pensar racionalmente. A isso Aristóteles atribui a existência de uma pequena “chama divida” em cada um, colocando assim o homem no topo supremo de tudo que existe. Aristóteles se referencia a essa chama de Deus ou uma força superior, algo que colocou tudo para funcionar ou o primeiro impulsor.

Ética

Voltando ao homem, Aristóteles lança uma pergunta simples, porém muito pertinente: Do que o homem precisa para viver uma boa vida?

Então ele afirma que o homem só pode ser feliz se puder desenvolver e utilizar todas suas capacidades e possibilidades com equilíbrio em tudo que faz. Ele cunha então o “meio termo de ouro”. Exemplificando, um homem deve ser corajoso (nem covarde de mais, nem destemido de mais) ou ainda deve ser generoso (nem avarento, nem extravagante).

Política e a figura feminina

Aristóteles afirma que o homem precisa de uma sociedade pra viver, senão não é completo. A esse ser ele chama de “ser político”. Então ele cita vários modelos que poderiam dar certo (ao contrário de Platão que cunhou apenas um modelo utópico) e também mostra o lado bom e lado ruim de cada um.

Quanto a mulheres, novamente ao contrário de Platão, Aristóteles acreditava que a mulher era o homem imperfeito, faltando partes, por isso ela deveria permanecer abaixo do homem. Ele acreditava que o homem passava as características para o filho e a mulher era apenas o meio para que uma criança pudesse nascer.

Sofia, no embalo da emoção da leitura, passou a querer organizar tudo que via pela frente. Seu quarto, suas coisas... Enfim, em tudo ela exercitava sobre o que tinha acabado de ler, como, por exemplo, em um diálogo com sua mãe (que afirmou ficar assustada com tamanha profundidade da conversa). Por fim, organizou as páginas recebidas e colocadas na lata em um fichário.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

[parte 12] O mundo de Sofia - A cabana do major

Sofia percebeu que ainda era cedo e decidiu andar pela mata para tentar achar o caminho que Hermes fez. Sabia que seria um tiro no escuro, mas também sabia que não havia muitas trilhas na mata, por isso resolveu continuar.

Encontrou algumas encruzilhadas pela frente e sempre escolhia o caminho mais largo o que acreditava ser um caminho que alguém estivesse usando recentemente. Após algum tempo de caminhada, chegou a um lago. Do outro lado havia uma pequena cabana de madeira pintada de vermelha que apresentava sinais de ter gente murando.

Viu que se tentasse se aproximar da casa dando a volta, se encharcaria dado que o terreno ficava lamacento e ligeiramente alagado mais a frente. Viu um pequeno barco ancorado com um remo e decidiu subir para atravessar o lago. Não acreditava que estava fazendo aquilo, mas algo lhe dizia que precisava.

Ao chegar a cabana, percebeu que realmente alguém vivia lá por ver indícios claros dentro da casinha, inclusive pelos de cachorro da cor do Hermes, máquina de escrever, papéis e um envelope com seu nome. Ali morava Alerto Knox sem dúvida.

Viu também um pequeno espelho velho que mal conseguia refletir corretamente sua imagem. Ficou fazendo algumas micagens na frente do espelho quando de repente percebeu que a imagem do espelho (ou a Sófia do espelho) piscou pra ela com quem queria dizer que estava ali a vigiando. Sofia estremeceu por inteiro e nesse mesmo instante ouvi latidos vindos ao longe. Eram Alberto e Hermes vindo.

Sabia que tinha que sair antes que fosse tarde, então viu uma carteira verde. Não entendendo direto o porque fazia aquilo, abriu a carteira e viu uma carteirinha de estudante da “Escola de Lillesand” com a foto de uma moça loira chamada “Hilde Moller Knag”. Sofia empalideceu e ouviu novamente o cachorro, mas percebeu que estava bem perto, perto até de mais.

Saiu as pressas do lugar, mas pegou o envelope com seu nome. Quando chegou a beira do lago para subir no barco e voltar de onde veio, viu a imagem do barco ao longe e os remos flutuando. "Como foi fazer isso?" pensou mais abalada ainda. Os latidos já estava quase onde ela estava e já dava pra ouvir os passos de alguém chegando.

Sem outra saída, se atirou na mata em direção ao terreno encharcado. Se molhou e se sujou toda mas conseguiu atravessa o terreno, chegando à trilha que a levava de volta. Só ai ela conseguiu parar e chorar. Porque fazer tudo isso? Como poderia pegar algo dentro da casa dos outros sem permissão? Tinha seu nome escrito, mas isso daria a ela esse direto? Era invadindo e xeretando nas coisas de seu professor que ela o agradeceria pelo tempo e ensinamento ministrados? Isso tudo passava em sua cabeça junto com a profunda decepção consigo mesma.

Abriu o envelope e havia mais algumas perguntas, dando a pista do que viria em sua próxima lição (se é que teria uma próxima):
  • O que veio antes, a galinha ou a “idéia” galinha?
  • O homem possui idéias natas?
  • Qual a diferença entre uma planta, um animal e o homem?
  • Porque chove?
  • Do que o homem precisa pra viver uma boa vida?
Sofia não conseguia pensar nessas questões agora, estava muito aflita.

Chegou em casa e sua mãe estava ao telefone falando com sua amiga Jorunn para saber de seu paradeiro. Sua mãe a vê toda suja e molhada e lhe cobra uma explicação disso e de tudo que estava acontecendo.

Como geralmente falamos a verdade quando estamos meio apavorados, Sofia conta sobre a mata, a cabana, o espelho e o ocorrido com sua imagem, mas consegue ocultar as cartas e suas aulas com o professor misterioso. Sofia percebe que sua mãe ficou satisfeita com a explicação então se acalma também.

Sua mãe então fala que aquela cabana é conhecida de todos e é chamada de “Cabana do Major”. Segundo sua mãe, um velho e estranho major morou lá por algum tempo. Sua mãe também diz que ninguém mora lá a anos e Sofia argumenta falando que um filósofo mora lá. Sua mãe então pede pra parar com essa imaginação demasiada e Sofia não fala mais nada pra manter o bom ambiente que conquistou.

Mais tarde e mais calma, Sofia pega um papel e um envelope cor de rosa e escreve uma carta ao professor misterioso. Na carta ela diz que não aceita muito as idéia de Platão, mas precisa pensar ainda mais um pouco. Emenda pedindo desculpa por todo o ocorrido e prometendo que não fará isso novamente se ele estiver disposto a perdoá-la. Por ultimo garante que fará sua lição de casa analisando filosoficamente as perguntas que tinha na carta que pegou na cabana.

Então após escrever a carta passa a pensar filosoficamente nas questões por um longo tempo até que sua mãe a chama pra almoçar. Seus pratos preferidos estavam a mesa e ela, junto com sua mãe, conversam sobre várias coisas. No final sua mãe fala sobre sua festa de 15 anos e quem serão seus convidados. Sofia não se importa muito, mas vê que a mãe está empolgada dado que sempre foi muito importante ela.

Sua mãe insinua acreditar que não mudou muito fisicamente desde sua festa de 15 anos. “Não mudou mesmo” – diz Sofia, e continua – “Nada muda. Você só se desenvolveu, ficou mais velha”.

Sua mãe a elogia pela resposta madura, embora acredite que seja muito cedo pra isso.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

[parte 11] O mundo de Sofia - Platão

Sofia acorda próximo as 5 da manhã e se assusta por estar de vestido. Lembra então de todo o ocorrido da noite anterior e vê que a fita de vídeo ainda esta em cima do seu guarda-roupa. "Ufa! Não foi tudo um sonho... Ou quase tudo?" pensa. Desce então bem devagar para não acordar sua mãe e vai até seu esconderijo ver se tem algo novo de seu professor misterioso.

O dia está lindo e tudo está levemente umedecido pelo orvalho da manhã. Pra sua decepção não acha nada em seu esconderijo então senta e começa a pensar sobre as perguntas feitas pelo suposto Platão, no vídeo da noite anterior.

Após muito refletir e filosofar, escuta alguns estalos e vê um labrador chegando com um envelope amarelo na boca. Era Hermes. Ele fica um pouco e após algum tempo ele sai em direção a floresta. Ela tenta segui-lo, mas não consegue e fica pelo caminho. Senta então em um tronco próximo a uma clareira e começa a ler as páginas datilografadas do envelope amarelo.

Platão

Outro filósofo de igual genialidade socrástica foi Platão (427-347 a.C.). Tinha vinte e nove anos quando seu mestre Sócrates bebeu o veneno que o levou a morte. Esse fato o marcou profundamente dado o tempo que conviveu com seu mestre. As cicatrizes ficam evidentes em todos seus escritos.

Graças à primeira faculdade criada por ele (chamada de academia em homenagem ao deus da sabedoria Academos) seus escritos são os mais bem conservados até hoje, propiciando a maioria do conhecimento sobe essa fase da filosofia. Ele particularmente adorava matemática. Isso de dava porque era racionalista e a matemática, em sua opinião, era a ciência que mais representava o racional ou aquilo que é imutável.

Platão, como Sócrates, também é um ícone no meio filosófico porque cunhou conceitos e teorias que são discutidas até os dias de hoje. Ele junta quase todos os conceitos filosóficos da época. Desde a filosofia natural até a filosofia
voltada para o homem e sua sociedade.

Platão aceitava a idéia de haver o algo eterno e imutável convivendo junto com o que “flui” na natureza, conceito pregado pelos sofistas. Contudo ele traz essa mesma idéia para o homem e a sociedade, algo que os sofistas e o próprio Sócrates não tinham ainda desenvolvido. Em suma, ele se acredita e procura descobrir o que “é eternamente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom” independente da sociedade que viva, indo contra o que diziam os sofistas (para os sofistas, a sociedade é que definia tais regras).

Para Platão tudo (absolutamente tudo) era feito por algum elemento básico (idéias de Empédocles e Demócrito), mas ele evoluiu essa idéia dizendo que há moldes (formas) em um mundo chamado de mundo das idéias para que se possa dar forma aos elementos básicos, montando elementos que conhecemos em nosso dia a dia. Quando esse molde é usado, um elemento é criado e sai do mundo das idéias para passar a viver no mundo dos sentidos, o mundo que flui e onde esse elemento é visível, nasce, se degrada, desgasta e morre com o passar do tempo... Enfim, o mundo que vivemos.

Por exemplo, peguemos os cavalos. Todos os cavalos são iguais? Sim se você pensar na forma “cavalo”, ou seja, embora cada cavalo tenha cor, tamanho e algumas outras características diferentes, é bem improvável que você confunda um cavalo com um hipopótamo. Isso acontece porque, segundo Platão, há uma forma que cria os elementos cavalos e detém em si todo conhecimento sobre cavalos. Portanto a idéia que ao conseguir ver essa forma veríamos também o que seria um cavalo perfeito é bem razoável, o que se aproxima de seu objetivo de algo imutável, belo e perfeito. Um exemplo prático disso são formas de bolos. Embora não vemos a forma quando vemos os bolos numa padaria, aceitamos que a forma possui o molde perfeito pra os bolos, independente se os bolos saem perfeitos ou não.

Essa teoria do mundo dos sentidos (onde vivemos e está tudo o que vemos) e mundo das idéias (onde estão as “imagens padrão” ou imagens primordiais das idéias) é chamada pela filosofia de teoria das idéias de Platão.

Com relação ao homem, Platão dizia que o corpo era o elemento que pertence ao mundo dos sentidos, mas a alma que esse corpo carrega, essa pertence ao mundo das idéias. Quando você nasce, sua alma (o molde de você) forma seu corpo e passa a habitar a terra. Então ela perde a memória do que conhecia no mundo das idéias, contudo as vezes acaba relembrando algumas coisas em dados momentos, explicando assim aquelas sensações do “algo me diz” que temos.

Mas Platão sofreu muito com a sociedade que vivia. Segundo ele a sociedade acaba sempre por matar aqueles que tentam trazer a verdade a tona porque gosta de ver apenas o que estão habituados a ver. Ele chega a descrever um governo utópico onde a razão (aquilo que nunca muda) deveria governar. Esse governo deveria ser formado pela cabeça (governantes ou a razão regida pela sabedoria), peito (soldados ou a vontade guiada pela coragem) e baixo do ventre (trabalhadores ou o desejo regido pela temperança), como funciona o corpo humano, mostrando que esse arranjo tem funcionamento perfeito e comprovado. Seu governo descrito também possui leis reintroduzindo as noções de propriedade privada e laços familiares.

Por ultimo, Platão defende a igualdade feminina dizendo que se você instruir uma mulher, ela terá total condição de executar o que um homem executa, mas persiste na idéia que, em seu governo utópico, as mulheres devem continuar a ficar abaixo dos homens.

Então Sofia se põe a pensar novamente e filosofar sob a ótica de Platão. Pensa sobre formas, modelos, mundo das idéias e principalmente se já tinha vivido antes. Será que ela trazia algo imune ao tempo, uma jóia, uma pepita de ouro que permaneceria para sempre?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

[parte 10] O mundo de Sofia - A viagem

Na manhã seguinte, Sofia vai até seu esconderijo após sua mãe sair para ir visitar uma amiga. Quando chega lá vê o envelope amarelo de sempre, mas dessa vez com um volume incomum. Quando abre para conferi-lo, acha uma fica de vídeo-cassete.

Corre imediatamente para casa a fim de ver o que tem gravado na fita. "Como ele sabe que tenho vídeo-cassete? Será que vou ver finalmente que é o professor secreto?" Essas e várias outras perguntas passaram pela sua cabeça no instante que saiu para ver a fita.

Ao colocar a fita para tocar, imagens da Grécia são exibidas em um vôo panorâmico. Sofia sabe que se trata da Grécia por alguma coisa que ela já viu em jornais, televisão e na escola. Um homem de meia idade, com estatura baixa, barba escura bem aparada e uma boina azul aparece, se apresenta como Alberto Knox e olha pra câmera apresentando o lugar (realmente era a Grécia, mais precisamente Acrópole).

Fala sobre diversas curiosidades do local, mostra construções e ruínas já falado nas páginas datilografadas. Revive um pouco do que já foi falado no curso diante de turistas e de locais onde antes jazia a Atenas dos tempos de ouro.

De repente, o homem olha fixo na câmera e diz que, embora não devesse, irá levar Sofia direto para 450 a.C. e isso ficará como um segredo entre eles. Como num passe de mágica tudo envolta que estava sendo filmada muda, mostrando construções novas no lugar das ruínas e um povo típico da época, como nos livros de história. Surge então novamente Alberto Knox com roupas da época, mantendo apenas a boina azul.

Ele então sugere que estão ao vivo direto na Atenas de 450 a.C. e mostra uma dupla dizendo ser Sócrates e Platão. Chega perto dessa dupla e, no que parece ser Grego, fala com ambos. Informa a Sofia posteriormente que explicou a ambos quem ela era e Platão chega próximo à câmera, cumprimenta Sofia e lhe faz 4 perguntas para refletir:
  1. Como um padeiro consegue assar 50 bolos exatamente iguais?
  2. Porque todos os cavalos são iguais?
  3. Acredita que o homem possui uma alma imortal?
  4. Homens e mulheres são igualmente racionais?
Quando termina de fazer as perguntas, a imagem some e o chuvisco toma conta. Sofia está atônica e rebobina a fita para ver esse final “ao vivio” novamente, mas não encontra nada na fita, somente as imagens atuais da Grécia. Ela passa então a tentar assimilar tudo que viu e ainda refletir sobre as perguntas. Após algum tempo, exausta, pega no sono.

Sua mãe chega e vê Sofia deitada na cama de vestido e lhe pergunta o que aconteceu para que nem de roupa trocasse. Sofia apenas diz que estava em Atenas, virou para o outro lado e dormiu.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

[parte 09] O mundo de Sofia - Sócrates

Quem foi Sócrates?

Podemos dizer que Sócrates (470-399 a.C.) foi para a filosofia o que Jesus Cristo foi para a religião. Sócrates desafiou todas as linhas da filosofia que existia na época e criou sem saber a maioria das linhas filosóficas contemporâneas. Embora tendesse pelo mesmo caminho dos sofistas (cujo projetos filosóficos que se baseava nas pessoas e o que elas pensavam e não na natureza), Sócrates era diferente de tudo que já tinha existidos entre os atenienses.

Fisicamente, segundo relatos, Sócrates era feio, baixo e acima do peso. Ele fala com qualquer tipo de pessoa que cruzasse seu caminho mas tinha uma retórica invejável. Dizia que as árvores e o mato não poderiam lhe ensinar nada e por isso precisava interagir com outras pessoas. Conseguia ficar horas pensativos, contudo não era seu jeito, sua aparência, seu projeto filósofo ou sua retórica que o fez único.

Os sofistas cobravam (e bem) para ensinar o povo da época e faziam questão de deixar claro seus notórios conhecimentos, ficando evidente o quanto eram superiores. Sócrates quebra todo o paradigma dos sofistas ao ensinar gratuitamente a quem quisesse os ensinamentos dos filósofos. Não obstante, Sócrates também mostra aos que com eles compartilhavam ensinamentos que aquilo que ensinara estava dentro de cada um, bastava apenas as perguntas certas para se chegar ao ponto que se desejava.

Sócrates iniciava um diálogo (ou uma aula) fazendo apenas perguntas. Muitas vezes se passava por um leigo total com muita naturalidade (a chamada ironia socrática). Sua perguntas as vezes eram duras, outras escandalosas. Ele usa métodos que as vezes constrangiam alguns (para os mais arrogantes) e outras vezes deixavam maravilhados outros (para os mais humildes). Isso lhe rendeu muitos amigos e muitos inimigos, dentre eles gente poderosa da época como seus companheiros filósofos e os dirigentes da cidade.

O mais impressionante é que Sócrates sempre se mostrava como desentendido porque realmente acreditava que não sabia nada perante o que acreditava ser a verdadeira sabedoria. Sua frase "o que sei é que nada sei" ou "mais sábio é aquele que sabe que não sabe" mostram bem como ele pensava sobre si e sobre todos. Ele acreditava que todo diálogo era um ensinamento inestimável e se esvaziava de seus conhecimentos adquiridos para se encher de novos conhecimentos.

Quando era questionado porque agia assim, afirmava que se considerava um verdadeiro filósofo, no literal "amante da sabedoria" e dizia que ouvia uma voz divina e isso não o permitia ser passivo. Dizia que os homens precisam passar por um processo de parto da mente para que realmente possam nascer filosoficamente falando. Essa analogia era usada por Sócrates porque, acreditam alguns, sua mãe era parteira. Sócrates forçava seus interlocutores para que eles pudessem pensar por si próprios, custasse o que custasse. Ele dizia que Atenas era uma égua preguiçosa e ele o mosquito que pica o lombo da égua.

Mas diante de tanto arrojo foi acusado de "corromper a juventude" e "não reconhecer a existência dos deuses" e acabou sendo condenado a morte (forçado a tomar um cálice de cicuta). Mesmo condenado, não abriu mão do que acreditava e do que cria, mesmo que isso resultasse em salvar sua vida.

Vários paralelos entre Sócrates e Jesus Cristo são feitos para mostrar o quão difícil foi a vida de ambos. Ambos não escreveram nada, ou seja, se sabemos o que sabemos hoje é graças às narrativas de seus discípulos, mas é impossível saber se a narrativa trás 100% do que realmente pensava Sócrates ou Jesus Cristo. Ambos foram acusados e morreram pelo que acreditavam. Ambos também foram divisores de águas em suas áreas (religião e filosofia). Ambos apresentaram mudanças radicais no meio de viver das pessoas. Além de pregar essas mudanças, ambos viviam-na e mostravam a todos que era realmente possível viver a mudança, bastava apenas que "nascesse de novo". Ambos eram mestres da retórica e desafiavam os poderosos da época falando das injustiças e dos abusos de poderes. Por fim, ambos podiam ter pedido clemência e continuarem vivos, mas preferiram morrer. Não se tem a intenção de se colocar um sinal de igualdade entre os dois, mas nos mostra como a humanidade vem tratando aqueles que tentam pregar algo melhor, algo que nos faz evoluir como seres humanos.

Por último, Sócrates não acreditava que o "certo" e o "errado" deveria ser determinado pela sociedade. Para ele, você tem que saber e sentir o que é certo por você mesmo. Só assim você conseguiria viver feliz, pois alguém só consegue viver uma vida correta se acredita que aquilo que vive condiz com o que sente e julga ser o correto.

Segundo Sócrates, seria praticamente impossível forçar alguém a viver um modo de vida que a sociedade julgasse certo se a pessoa não sente que aquilo que vive é o correto pra ela mesma.
Sofia guarda as páginas, apressa-se para ir até a sua casa e não preocupar sua mãe. Contudo assim que sua mãe chega das compras, a interroga sobre as ações extranhas da filha. Sofia responde a mãe com ilustrações sobre a história de Sócrates. Sua mãe estranha isso e uma leve discussão se inicia. Sua mãe sai e Sofia sente que ela ficou irritada com a conversa. Sobe para seu quarto e pega novamente a echarpe com o nome de Hilde. "Quem seria ela?" se pergunta.

[comentários] O mundo de Sofia - Sobre os filósofos naturais

Quem viu outros livros que li e publiquei aqui, percebeu que eu comentava-os junto com os resumos que fazia. Resolvi nesse livro fazer diferente. Faço resumos simples dos trechos que leio e, de tempos em tempos, adiciono uma postagem com meus pensamentos e entendimentos sobre o livro. Acho que assim não me confundirei com o que li e o que achei quando, futuramente, rever sobre o livro. Vamos ver se ficará melhor.

Sobre "O mundo de Sofia", achei muito bacana a idéia do autor em ensinar filosofia através da história intrigante de uma moça de 15 anos e seu professor misterioso envolvendo relacionamentos familiares, amizades, assuntos do cotidiano, mistérios e a história da filosofia narrada em um entendimento fácil. Contudo achei que o autor abusa ao simular os pensamentos de uma adolescente. Não acredito que um adolescente hoje voe tão alto quanto sua narrativa, mas quem sabe sou eu que preciso rever meus conceitos, não?

Tenho uma mania de ler o último trecho do livro quando começo a ler livros de maior volume e que, principalmente, trazem história com mistérios. Acredito que tenha haver com a sensação de tentar me certificar que não vou ler tudo pra no final ficar decepcionado ou na mesma em relação aos mistérios.

Confesso que no último trecho do livro (paginas 546 e 547) há um diálogo entre Hilde e seu pai onde me faz parecer que na realidade esse livro está sendo escrito pelo pai de Hilde, o que explica muito sobre os mistérios. Mas não há nada que diz isso, só foi um feeling meu. Se foi isso, o autor realmente é um filósofo nato para brincar tanto assim com a imaginação.

Agora sobre a filosofia, eu realmente fico impressionado com Tales de Mileto. Em minha opinião esse foi o verdadeiro herói de toda a história da filosofia. Imagina como é você estar em uma sociedade regida por uma crença comum a todos (defendida com sacrifícios), pensar diferente e ainda relatar isso a alguém. Some a isso o fato que, dado a crença da época, qualquer mal presságio pro povo poderia ser encarado como um castigo divino pela sua heresia e facilmente levar você a ser morto por isso.

Penso então em como uma pessoa consegue transcender o cotidiano da forma que Tales fez. Ele cria uma reviravolta no modo de pensar frente a um povo fortemente fixo nas mitologias. Pode parecer óbvio as coisas que ele começa a pensa, mas imagine alguém hoje aparecendo pra você e falando que seu mundo hoje não é o que você aprendeu, é algo totalmente diferente e surreal (lembra o filme Matrix?). Então ele encoraja outros que estavam como ele e da inicio a uma série de ações e pensamentos diferente que simplesmente mudam tudo que vemos e sabemos de forma estrutural.

Pra exemplificar minha admiração, imagine que você hoje pertencente a uma religião tradicional unânime no mundo. Você não concorda com o que vê e ouve diariamente e deduz que há outros que não concordam. Contudo não vê nada sobre isso sendo publicado em jornais, revistas, internet ou algo parecido. Ninguém ousa fica falando muito porque pode ser sacrificado em nome da religião e do ego do deus que essa religião prega. Aí você faz um blog e escreve tudo nele. Não faz publicidade pra não chamar a atenção, mas vais escrevendo tudo que pensa lá. Quem sabe alguém lê e te procura pra falar sobre. Imagina o que o dono do site do blog vai fazer quando ver o que está escrevendo no site dele? Ele vai permitir e trazer pra si confusão por pactuar com isso? Certeza que não. Aí você escreve diários sobre isso e pede pra alguns lerem. Imagina o que falaram ao lerem aquilo. O que então lhe move em direção a continuar a acreditar e, principalmente, escrever e falar sobre isso com outras pessoas? Acredito que deva ser bem complicado manter sua postura perante um cenário tão repreensivo.

[parte 08] O mundo de Sofia - O homem no centro

Sofia desce para tomar café com sua mãe, questiona-a se pegou o jornal e sua mãe pede pra ela ver. Sofia atende sua mão obviamente com a finalidade principal de ver se seu professor misterioso já havia lhe respondido. Só encontra jornais e os traz pra mãe que aproveita pra alfinetá-la sobre seu repentino interesse por jornais. Sofia então percebe que foi bom não ter comentado mais nada sobre suas lições de filosofia, seu professor filósofo e decide também não contar nada a sua mãe sobre a echarpe que encontrou.

Algum tempo depois Sofia foi ao seu esconderijo para pensar melhor nas folhas sobre "destino" que havia recebido quando seu coração quase sai pela boca ao ver um envelope branco. Como alguém poderia saber que ela iria sempre ali? O curioso é que o envelope branco estava úmido nas beiradas novamente e também possuía 2 marcas fortes.

Meio que com a cabeça rodando de tantos pensamentos e perguntas simultâneas, Sofia abre e lê a resposta à sua carta. Seu professor (que assina como Alberto Knox) agradece a gentileza do convite mas o recusará por hora. Diz que vai se apresentar a ela no futuro, mas não por enquanto. Diz também que um pequeno ajudante fará o papel de mensageiro porque está muito arriscado levar suas cartas pessoalmente. Pede também a Sofia que, quando ela quiser mandar alguma carta pra ele, deixe sua mensagem dentro de um envelope rosa com um torrão de açúcar ou um doce para que o mensageiro pudesse entender e levar a correspondência até ele.

Ainda meio atordoada, Sofia vê que no verso havia algumas frases e perguntas, como sempre seu professor faz antes do próximo assunto:
  • Será que existe um sentimento natural de pudor?
  • Mais inteligente é aquele que sabe que não sabe.
  • O verdadeiro conhecimento vem de dentro.
  • Quem sabe o que é certo acaba fazendo a coisa certa.
Sofia, como uma boa aluna, começa fazer seu exercício de casa e passa a pensar sobre todos esses pontos. Perdida no tempo devido aos seus pensamentos, subitamente Sofia escuta um estalo próximo ao seu esconderijo. Depois outro. Ouve então algo ofegante se aproximando. Será seu professor? Percebe então que a respiração parece de um animal, não de uma pessoa. Algo está nitidamente próximo dela. Ela fica completamente paralisada e então um enorme cão labrador aparece em sua frente com um envelope amarelo, deixa no colo de Sofia e volta para a mata. Sofia só volta a conseguir esboçar alguma reação alguns instantes depois que o cão vai embora então finalmente chora pelo susto.

Um cão! É claro! Por isso as marcas e a umidade nos envelopes. Como ela não pensou nisso antes? Por isso o torrão ou docinho com o envelope dela quando ela quiser mandar algo ao professor. Ainda meio abalada, abre o envelope para ler as página datilografadas.

Antes de entrar no estudo da filosofia, seu professor misterioso escreve que o pequeno mensageiro se chama Hermes e é um cão muito bonzinho e manso. Ele cita que o nome não é por acaso, dado que Hermes era narrado pelo povo antigo como o mensageiro dos deuses na mitologia e era o deus dos marinheiro. Também cita uma curiosidade dizendo que a palavra hermético vem de Hermes e quer dizer oculto, separado, como o professor e Sofia estavam e precisam estar naquele momento. Há também uma pequena citação pedindo a Sofia que guarde a echarpe de Hilde, levando Sofia a acreditar que o professor misterioso também conhecia Hilde.

O homem no centro

Por volta de 450 a.C., Atenas transformou-se no centro cultural do mundo grego. Os filósofos eram pesquisadores naturais e o centro de interesse da sociedade passou a ser o homem e sua posição na sociedade.

Atenas desenvolveu aos poucos uma democracia com assembléias populares e tribunais, mas quem quisesse participar necessitava ter algum conhecimento mínimo (como falar bem ou retórica), por isso recorriam aos filósofos da cidade. Esses filósofos vinham de todos os cantos da Grécia e se denominavam Sofistas. Tinham em comum o olhar extremamente crítico frente a mitologia tradicional. Contudo algo em comum também era o fato de que esses filósofos simplesmente rejeitavam o que eles consideravam "especulação filosófica desnecessária", ou seja, buscar respostas seguras e definitivas para questões que ele acreditavam pertencer aos mistérios da natureza.

Referente ao comportamento humano temos a famosa frase "O homem é a medida de todas as coisas", palavras de Protágoras (487 - 420 a.C.) transmitindo que o certo e errado, bem e mal são medidas definidas e medidas pelo homem, não definidos pelos deuses como pregava a mitologia na época. Essa conclusão vinha do fato que ninguém poderia afirmar ou negar a existência de um deus ou deuses (essa afirmação sobre as indefinições dos deuses era original de um grupo conhecido como agnósticos).

Com esses pensamentos e após calorosos debates, chegavam a conclusões que nossos comportamentos, como o pudor por exemplo, não eram natos (natural) de nós, ser humanos, mas sim definidos por usos e costumes de uma sociedade.