terça-feira, 27 de abril de 2010
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sexta-feira, 23 de abril de 2010
[parte 18] O mundo de Sofia - A idade média
No dia 25 de maio, a noite, Sofia estava lavando louça em sua casa e, de repente, viu um cartão postal colado no vidro da cozinha. Era um cartão do pai de Hilde em que ele dizia acreditar que os tempos passavam de forma diferente quando se comparava o tempo dele e de Hilde com o tempo de Sofia. No final ele deixa um PS à Hilde “Você poderia dizer a Sofia que eu lhe mando um abraço? A probrezinha ainda não entendeu a relação entre as coisas. Mas você sim, não é?”
Sofia só tem certeza de uma coisa, ela realmente não tinha idéia de nada a respeito de Hilde. Então o telefone toca. Era seu professor misterioso dizendo que não haveria mais cartas e que precisaram correr com o curso de filosofia porque o tempo estava se esgotando. Então ele combina com Sofia de se encontrar na igreja Santa Maria, sozinhos, às 4 horas da manhã.
Sofia concorda e pede a Jurrun que a ajude. Jorunn aceita e então Sofia diz a Mãe que irá dormir na casa de Jorunn como sempre fazia (Sofia até desconfiava que a mãe gostasse para poder sair um pouco também).
As 4 da manhã, Sofia vai até a igreja e, pra sua surpresa encontra-a com as portas abertas. Essa igreja era sempre reservada o publico e suas portas ficarem abertas as 4 da manhã era algo bem estranho.
De repente, uma pessoa vestida de monge entra e faz uma oração. Era seu professor Alberto que se senta ao seu lado e começa a lhe falar sobre a idade média.
Sofia fica insistindo com seu professor para saber se Hildegard tem algo a ver com HildeA idade média durou aproximadamente 1.000 anos. Muitos acreditam que ela representa o período de trevas do conhecimento humano, ou seja, o período em que os humanos não evoluíram em seus conceitos sociais, científicos ou filosóficos. Entretanto há muito que contestar dado que houve o crescimento e amadurecimento em algumas áreas como, por exemplo, o surgimento dos modelos de escolas como conhecemos assim como as faculdades. Também temos o surgimento de grandes metrópoles, dos contos de fadas, canções populares e muitos outros.
Durante esse período surgem dois filósofos (ou estudiosos por assim dizer) que se destacam. Um dele foi santo Agostinho (354 – 430 d.C). Agostinho resume o final da Antiguidade e os primórdios da Idade Média. Ele pesquisou muito outras tendências filosóficas antes de se tornar Cristão. A que se mostrou mais forte antes de sua conversão foi a corrente Neoplatônica.
Agostinho desenvolveu, após sua conversão e seus estudos, um conceito que fundia o cristianismo com o neoplatonismo. Segundo ele, Deus havia criado o mundo a partir do nada (como dizia a bíblia) mas antes de Deus ter criado o mundo, as idéia do que seria criado já existiam na cabeça de Deus. Ele atribuiu o conceito das idéias eternas de Platão (ou da doutrina de Plotino) a Deus e com isso juntou os conceitos do Neoplatonismo e Cristianismo.
Prosseguindo, Agostinho explica que entre Deus e o homem há um abismo intransponível como cita a bíblia, refutando a doutrina de Plotino sobre tudo ser uma coisa só, mas afirma que somos seres espirituais (capazes de reconhecer a Deus) que habitam em corpos materiais que sofrem a corrosão do tempo. Agostinho também diz que toda a raça humana foi amaldiçoada pelo pecado de Adão e Eva, por isso somente Deus decidiria quem poderia ser levado ao céu ou perecer no inferno. Ele usa as palavras de Paulo aos Romanos onde Paulo diz que não nos cabe decidir pra que fim viemos (céu ou inferno) assim como um punhado de barro não pode decidir no que será usado pelo oleiro. Em suma, Agostinho acredita que Deus já sabe o que acontecerá com cada pessoa antes mesmo de nascermos. Agostinho escreve uma obra chamada “A cidade de Deus” onde deixa claro todos esses pontos. Também fala sobre o que é reino de Deus e reino do mundo assim como a afirmação de que não há salvação fora da igreja.
Agostinho foi o primeiro filósofo a inserir a história em seu projeto filosófico quando se referia aos acontecimentos registrados entre bem e mal, retornando à visão linear do tempo (traço marcante da cultura semita).
O segundo filósofo de destaque é são Tomás de Aquino (1225 – 1274 d.C). Percebemos uma certa divisão entre cristianismo e filosofia na antiguidade mas, de uma forma breve, podemos dizer que são Tomás cristianizou Aristóteles como Agostinho fez com Platão. Isso era algo comum para a época dado a predominância cristã.
Para são Tomás, só pela fé e pele revelação cristã é que podemos chegar às verdades puras ou “verdades da fé”. Contudo havia também, segundo são Tomás, as “verdades naturais teológicas” ao lado das verdades da fé. Por verdades naturais teológicas se entendia que são às verdades que se conhecem tanto pela fé cristã quanto pela razão. São Tomas ilustrava isso quanto citava a existência de um Deus. Você pode saber que Deus existe pela fé ou pelo cominho de ver Sua existência ao olhar para as coisas no mundo.
Outro dito interessante de são Tomás é sobre como podemos conhecer Deus. Ele dizia que ao lermos um livro qualquer, podemos dizer algumas coisas sobre o autor. Não dados pontuais como idade ou local onde mora (a não ser que o autor faça questão de citar), mas podemos saber um pouco da essência do autor pela sua obra. Assim somos nós perante Deus ao estudarmos a bíblia. Podemos conhecer melhor a essência de Deus quando estudamos Suas obras. Aprofundando nisso, são Tomás acreditava em um grau de existência e numa escala representativa até chegar a Deus. Esse grau iniciaria nas plantas e animais, passaria pelos homens e sua necessidade de reflexão para conhecer a verdade, subiria para os anjos e seu conhecimento instantâneo de tudo (por isso não precisam de um corpo e também não morrem) chegando até o trono de Deus.
Infelizmente são Tomás também adquiriu a visão de Aristóteles quando se tratava das mulheres. Para ele, as mulheres eram homens mal formados, mas para são Tomás isso se dissiparia no céu dado que todas as almas são iguais perante Deus.
Apesar de não ser muito comentado, durante a idade média uma mulher também teve muito destaque. Seu nome era Hildegard Von Bingen (1098 – 1199 d.C). Ela era uma freira que fazia sermões, escritora, médica, botânica e pesquisadora natural.
Havia uma crença cristã e judaica segundo o qual Deus não era apenas homem. Ele teria também um lado feminino, ou uma “natureza materna”. Em grego, a palavra para este lado feminino de Deus é Sophia (ou Sofia) que significa sabedoria. Isso ficou meio no esquecimento até que Hildegard afirma que Sophia lhe apareceu em visões usando uma túnica toda ornamentada de pedras preciosas...
Sofia deu um salto e disse “Talvez eu também apareça para Hilde”.
Seu professor pediu pra que ela se acalmasse e informou que Hermes a buscaria depois para as próximas aulas, mas por hora ela precisava voltar para casa porque já era meio dia. Então se despediu, levantou e foi embora.
Quando estava saindo, Sofia lhe perguntou se havia algum Alberto na idade média. Seu professor para por um instante, se vira e diz que o grande mestre de filosofia de são Tomás de Aquino se chamava Albertus Magnus. Então ele tornou a rumar para dentro da igreja. Sofia tentou segui-lo, mas ao entrar atrás dele na igreja só encontrou o templo vazio, ele tinha sumido! Então saiu correndo para casa de Jorunn.
sábado, 17 de abril de 2010
[parte 17] O mundo de Sofia - Jesus Cristo
Vamos ver rapidamente o pensamento e crença cristã até os dias de Jesus Cristo. Tudo começa com a criação do mundo por Deus, inclusive de sua imagem e semelhança: Adão e Eva. Esses residem em um local perfeito, o paraíso. Adão e Eva se rebelam e Deus os castiga expulsado-os do paraíso. A partir desse momento a morte passa a fazer parte do mundo.A desobediência faz parte de toda a história do homem e seu relacionamento com Deus. Vários lideres surgem e “corrigem” o caminho do povo de Deus (os israelitas). O ultimo grande líder foi Davi que fez os israelitas terem o pico de plenitude em termos de povo.Depois de Davi, o povo cai novamente em declínio e é escravizado. Vários profetas então surgem dizendo que um novo líder iria surgir para libertar, não só os israelitas, como toda a humanidade do mal que ela estava inserida. Segundo esses profetas, o reino de Deus iria surgir e reinar sobre toda a terra.Jesus CristoEis que surge então Jesus Cristo, o líder dos líderes. Mas o que Cristo realmente fez não é mostrado tão claramente nos dias de hoje. Ele é o primeiro profeta da história a admitir publicamente que é filho de Deus, além de ser o único. Até então nenhum dos profetas registrados assumia para si tamanha responsabilidade. Jesus se auto proclamava filho de Deus e também vive como tal, o que mostrava a todos uma prova de suas palavras.Segundo, Cristo é o primeiro homem que distribui o perdão aos outros. Desde prostitutas até funcionários corruptos do governo. Ele não só perdoa como diz que alguns desses são mais dignos do seu Pai do que os doutores da lei da época, se esses pecadores se arrependessem de verdade. Veja, isso é um afronte de uma magnitude jamais vista em toda história da humanidade. É como se hoje um líder de uma igreja pudesse permitir um ladrão (que se redimiu) entrar no paraíso celestial e condenar um juiz de direto ao inferno porque o juiz simplesmente é esnobe ou metido. Uma mudança extremamente radical na época do “olho por olho e dente por dente”.Terceiro, o povo esperava um general, um rei, um líder que libertasse o povo a ferro e fogo. Mas Jesus traz novamente algo nunca jamais visto. Ele passa a afirmar que o verdadeiro reino de Deus (pregado pelos profetas) era o reino do amor e não um local geográfico. Ele passa para o plano da emoção a resolução dos problemas que o povo tinha e que estavam fundados no plano material.Quarto, Sócrates morreu por forçar o povo a pensar racionalmente. Jesus morreu (e uma morte mais sofrida que a de Sócrates) por expor e defender um amor incondicional.Em suma, mesmo que não tenhamos a ótica da religião cristã, Jesus Cristo foi um homem extraordinário em suas idéias e ações. Isso motiva e gera até os dias atuais milhões de adeptos “pós-morte”, inclusive Paulo, um dos mais célebres pregadores cristãos de todos os tempos.Paulo teve seu encontro com os filósofos da época na cidade de Atenas. Estamos falando do encontro de duas correntes de pensamentos que se chocam em vários aspectos. Esse encontro foi no mercado de Atenas e é narrado na bíblia quando Paulo discursa aos atenienses. No discurso, Paulo fala que ele é o mensageiro do “Deus desconhecido” e que ele traz a boa nova, a hora dos atenienses saberem da verdade e dogmas cristão. Então ele ensina brevemente o proceder cristão para que todos possam salvar suas almas.Nessa época existiam outras religiões e credos nascidos do helenismo, mas nenhum foi suficiente para derrubar a domínio da religião cristã. Principalmente no que se referia ao humanismo cristão. A religião cristã era (e acho que ainda é) a única em que Deus se fez em homem (não em meio homem, meio Deus como os atenienses escutavam), morou com os homens, viveu como homem, morreu como homem mas ressuscitou como Deus. Algo mais uma vez extraordinário frente ao que se via até aqueles dias. Por isso o cristianismo se espalhou sobre toda a terra em uma velocidade impressionante até para os dias atuais.
[parte 16] O mundo de Sofia - Dois círculos culturais
Bem no meio da corrente filosófica do Helenísta e suas diversas vertentes, inclusive com a criação de religiões baseadas nessas correntes, surge um redentor que não fazia parte do circulo greco-romano. Esse redentor tem o nome de Jesus de Nazaré. Jesus era Judeu e os Judeus faziam parte do circulo cultural semita. Os gregos e os romanos pertenciam ao circulo cultural indo-europeu.Os indo-europeusOs indo-europeus primitivos viveram há aproximadamente quatro mil anos. Seu território abrange as proximidades do mar Negro e do mar Cáspio e dali povoaram o sudeste (do Irã a Índia), o sudoeste (Grécia, Itália e Espanha), o oeste (Europa Central até a Inglaterra e a França), o noroeste (rumo a Escandinava) e para o norte (rumo ao Leste Europeu e a Rússia). Por toda essa extensão os indo-europeus mesclaram-se com as culturas locais, mas fizeram predominar sua cultura e língua indo-européia. Se estudarmos a fundo todas as histórias e mitos desses países em seus dias atuais veremos que se assemelham imensamente entre si, apenas trocando nomes de deuses e dos nomes dados aos acontecimentos.A cultura dos indo-europeus era marcada pela crença em muitos e diferentes deuses (politeísmo) e concebiam o mundo como um imenso palco onde se desenrolava o drama da luta incessante entre o bem e o mal. Eles tinham uma visão cíclica da história, ou seja, para eles a história se desenrolava em círculos como as estações do ano. Por isso eles sempre tentavam predizer o que iria acontecer com o mundo e foi nesse cenário que a filosofia se criou e desenvolveu junto com o hinduísmo e o budismo (religiões baseadas nas culturas indo européias tendo como linha religiosa a presença divina em tudo junto com a meditação e tentativa de chegar a ser um com Deus, como o projeto filosófico que Plotino criou).Por último temos que o sentido mais importante para os indo-europeus é a visão. A observação do mundo e seu comportamento lhes guiaram através dos estudos da natureza e do comportamento humano resultando na filosofia grega.Os semitasOs semitas possuem cultura e língua completamente diferente dos indo–europeus. São originários da península da Arábia e se espalharam para diversas regiões do mundo através dos Judeus (que vivem longe de sua pátria natal).As três religiões ocidentais mais impactantes têm um pano de fundo semita: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.No cristianismo em particular há uma mistura de culturas. O velho testamento foi escrito nas línguas semitas aparentadas, mas o novo testamento foi escrito em grego mostrando início da influência indo-européia. Essa influência fica mais forte com a reformulação da teologia cristã, ocorrida posteriormente, onde fica evidente a presença grega e traços da filosofia helenística.Os semitas sempre acreditaram em um único Deus (monoteísmo) e sua visão da história e linear, ou seja, houve um início (com Adão e Eva) e haverá um fim (o Apocalipse) onde Deus julgará os vivos e os mortos. Outro ponto marcante na cultura semita é o papel de Deus na história. Para eles Deus intervém na história para que se possa cumprir Sua vontade.Os semitas prezam muito sua história registrada, pois é nela que se baseiam todas as suas crenças. Em decorrência disso, há conflitos épicos e sangrentos em comum entre essas religiões por um lugar em específico, a cidade de Jerusalém, onde acreditam ser seu centro religioso.Para os semitas, a audição é o sentido mais importante. Moisés escutou a Deus quando recebeu as tábuas da lei, Noé escutou a Deus para construir a arca e mesmo hoje você precisa “ouvir” o que Deus tem a falar a você e ao mundo. Outro ponto importante é que a cultura semita trás certa proibição pela representação pictória, ou seja, imagens e esculturas, principalmente daquilo que consideram sagrado. Isso tem forte embasamento no antigo testamento e o trecho “não farás para ti imagens ou esculturas”. Contudo algumas religiões têm o costume de usar esculturas sagradas, mostrando a evidência da influência grego-romana.
terça-feira, 13 de abril de 2010
[parte 15] O mundo de Sofia - Retornando à cabana do major
segunda-feira, 12 de abril de 2010
[parte 14] O mundo de Sofia - O helenismo
Após os principais ícones da filosofia da idade antiga, houve uma reviravolta mundial, uma nova era na humanidade. Através das lutas contra os persas (e a vitória) junto com diversas outras conquistas, Alexandre Magno (356-323 a.C.) uniu diversos reinos (Macedônia, Síria e Egito). Junto com essas conquistas, houve a predominância da língua e cultura grega e esse período ficou conhecido como helenismo. Sua característica marcante era o desaparecimento das fronteiras entre os países e suas culturas criando uma mistura de conceitos, filosofias e ciências. Diversas correntes filosóficas surgiram, dentre elas as principais são: os cínicos, os estóicos, os epicureus e os neoplatônicos.Os cínicosOs cínicos eram extremamente céticos a respeito de posses. Sua linha filosófica regia que você só será realmente feliz se não depender de nada material para ser feliz. O cínico de maior importância foi Diógenes que vivia em um barril e só possuía uma túnica, um cajado e um embornal de pão.Os estóicosOs estóicos diziam que as pessoas eram partes de uma mesma razão universal, ou “logos”. Isso caminhou para a idéia de um direito universalmente válido ou “direito natural”. Esse direito valia para todas as pessoas (escravos, senhores, comerciante, negros, brancos e etc). Também negavam que o homem era feito de corpo e alma. Para eles tudo era uma coisa só, a natureza. Eles criaram o conceito do humanismo através de Cícero (106-43 a.C.) e Sêneca (4 a.C – 65 d.C.). Seus membros ocupavam cargos importantes e tiveram grande atuação no helenismo e na posterior cultura romana.Os estóicos também eram a favor do homem aceitar as leis da natureza por completo em suas vidas. Para eles tudo acontece como tem que acontecer e não adiantava muito lutar contra uma enfermidade ou resistir a algo bom porque estava no destino das pessoas esses acontecimentos, quer quisessem ou não. Então tudo que tinham que fazer era esperar e lidar com a máxima naturalidade possível frente aos acontecimentos que surgiam.Os epicureusPara eles o objetivo da vida era obter dos sentidos o máximo de satisfação possível. O prazer era o bem supremo e a dor era o mal supremo assim seus objetivos eram desenvolver uma filosofia de vida que afastasse toda e qualquer forma de dor ou sofrimento.Para seu fundador (Epicuro), o resultado prazeroso de uma ação deve apenas ser ponderado em relação aos efeitos colaterais eventuais ou possíveis prazeres maiores, mais duradouros e mais intensos no futuro.Os neoplatônicosOs cínicos, os estóicos e os epicureus tiveram como ponto de partida os ensinamentos de Sócrates, mas a corrente filosófica do helenismo mais importante e atuante foi o neoplatonismo (baseado nas teorias de Platão como sugere o nome). Seu representante mais ilustre foi Plotino (205-270 d.C.) que trouxe para Roma a doutrina da salvação, concorrente do cristianismo vigente naquela época e posteriormente veio a ser uma forte influência para a própria doutrina cristã.Para Plotino, havia somente duas realidades: de um lado a luz divina (chamado por ele de Uno ou Deus) e do outro lado havia a ausência total dessa luz ou as trevas. É importante citar que trevas para Plotino era a ausência total de algo e não algo em si.De acordo com Plotino, a luz do Uno iluminava a alma ao passo que a matéria ficava com as trevas porque não possuíam uma existência real. Também Plotino citava que as formas da natureza possuem um reflexo do Uno, mesmo que tênue.Plotino desenvolve essa linha filosófica e cria a experiência mística ou experiência em que você se funde com o Uno por um pequeno momento tendo assim a experiência da plenitude total. Em nossa realidade seria aquilo que ouvimos falar de ser um só com Deus ou com a “alma do universo”.Isso gerou muitas sub-correntes místicas. Segundo os místicos, o homem possui uma alma incompleta que anseia por retornar a sua morada original. Quando você experimenta essa sensação e como se perder em si mesmo ou perder-se naquilo que constitui sua alma. Serial algo como se você fosse uma gota d’água e quando tem essa experiência é momento que você chega ao oceano dando a você a sensação de estar completo. Você é o oceano e o oceano é você.Encontramos vertentes místicas em todas as grandes religiões do mundo. Algumas pregam o cosmo ou o universo como sendo o Deus de sua crença e outros pregam que seu Deus é um Deus pessoal, mas que também é presente na natureza e em tudo que vemos. Quando comparamos seus relatos místicos (ou como alguns chamam, espirituais) vemos em seu cerne essa uma única vertente filosófica se desenhando. Em muito locais as experiências místicas se misturam ou definem a ética, a política, as leis ou o comportamento social.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
[parte 13] O mundo de Sofia - Aristóteles
Aristóteles foi o ultimo dos grandes filósofos da antiguidade. Seus traços marcantes foram a exímia facilidade em organizar as coisas e seu extremo interesse pela biologia, sendo considerado um dos primeiro biólogos da humanidade.Filósofo e CientistaAristóteles (384-322 a.C.) era natural da Macedônia e filho de um médico de renome, isso já nos diz o rumo do projeto filosófico de Aristóteles, natureza viva. Veio para academia quando Plutão tinha 61 anos.Embora discípulo de Platão, há muitas diferenças entre eles. Platão era pura razão, já Aristóteles era mais voltado aos sentidos pelo gosto à natureza. Platão era poeta e criador de mitos já Aristóteles escreve sobriamente com pormenores de uma enciclopédia. Por isso ele é considerado o grande organizador haja visto seu legado até nossos dias quando vemos as divisões das ciências e a sistematização dos estudos.As idéias não são inatasAristóteles, ao contrário de Platão, não acreditava que as idéia eram inatas. Para Aristóteles não existia “formas perfeitas no mundo de idéias”. Ele acreditava que o conceito era totalmente ao contrário: nós observamos as coisas e começamos a agrupá-las automaticamente para facilitar nossa vida, então somos nós que criamos definimos as formas perfeitas com o passar do tempo. Em suma, não nascemos com as idéias natas, passamos a construí-las depois que nascemos dados que somos a única raça racional (nisso Aristóteles concordava com Platão).Aristóteles desenvolve mais esse conceito de forma (ou modelo). Ele passa a definir “forma” como característica das coisas, não só físicas, mas também comportamentais junto com suas limitações. Ele também chama de “substância” o que compõe a coisa em si, ou seja, aquilo que se esforça pra formar o que o modelo exige.CausasAristóteles também cria o conceito de “causas”. Para ele, tudo pode possuir quatro causas básicas:
- Causa substancial ou causa material – a explicação física da coisa.
- Causa atuante ou eficiente – a ação inerente a coisa.
- Causa forma – são as propriedades da coisa.
- Causa final – é o porquê da existência daquela coisa.
LógicaAristóteles cria a lógica para conseguir sistematizar aquilo que fazemos naturalmente, a segmentação ou organização das coisas. Veja um exemplo, os ratos fazem parte de que grupo? Ele é vivo, logo sabemos que não é mineral. Se é vivo e observamos um pouco seu comportamento, sabemos que seus filhotes nascem prontos e manam, logo é mamífero. Podemos descer o detalhamento e reagrupar os ratos em vário subgrupos, quanto nós acharmos conveniente, graças à lógica.A escada da naturezaBaseado nessas premissas anteriores, Aristóteles começa uma classificação da natureza. Primeiro ele cria 2 grupos: os inanimados e as criaturas vivas. Ele acredita que as coisas inanimadas gradativamente progridem para coisas vivas sendo o grupo das plantas uma espécie que está entre os dois grupos. Por ultimo, Aristóteles divide o grupo das coisas vivas em animais e o homem.Ao falar do homem, ele afirma que esse é o único com todas as capacidades dos animais somando capacidade de pensar racionalmente. A isso Aristóteles atribui a existência de uma pequena “chama divida” em cada um, colocando assim o homem no topo supremo de tudo que existe. Aristóteles se referencia a essa chama de Deus ou uma força superior, algo que colocou tudo para funcionar ou o primeiro impulsor.ÉticaVoltando ao homem, Aristóteles lança uma pergunta simples, porém muito pertinente: Do que o homem precisa para viver uma boa vida?Então ele afirma que o homem só pode ser feliz se puder desenvolver e utilizar todas suas capacidades e possibilidades com equilíbrio em tudo que faz. Ele cunha então o “meio termo de ouro”. Exemplificando, um homem deve ser corajoso (nem covarde de mais, nem destemido de mais) ou ainda deve ser generoso (nem avarento, nem extravagante).Política e a figura femininaAristóteles afirma que o homem precisa de uma sociedade pra viver, senão não é completo. A esse ser ele chama de “ser político”. Então ele cita vários modelos que poderiam dar certo (ao contrário de Platão que cunhou apenas um modelo utópico) e também mostra o lado bom e lado ruim de cada um.Quanto a mulheres, novamente ao contrário de Platão, Aristóteles acreditava que a mulher era o homem imperfeito, faltando partes, por isso ela deveria permanecer abaixo do homem. Ele acreditava que o homem passava as características para o filho e a mulher era apenas o meio para que uma criança pudesse nascer.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
[parte 12] O mundo de Sofia - A cabana do major
- O que veio antes, a galinha ou a “idéia” galinha?
- O homem possui idéias natas?
- Qual a diferença entre uma planta, um animal e o homem?
- Porque chove?
- Do que o homem precisa pra viver uma boa vida?
quarta-feira, 7 de abril de 2010
[parte 11] O mundo de Sofia - Platão
PlatãoOutro filósofo de igual genialidade socrástica foi Platão (427-347 a.C.). Tinha vinte e nove anos quando seu mestre Sócrates bebeu o veneno que o levou a morte. Esse fato o marcou profundamente dado o tempo que conviveu com seu mestre. As cicatrizes ficam evidentes em todos seus escritos.Graças à primeira faculdade criada por ele (chamada de academia em homenagem ao deus da sabedoria Academos) seus escritos são os mais bem conservados até hoje, propiciando a maioria do conhecimento sobe essa fase da filosofia. Ele particularmente adorava matemática. Isso de dava porque era racionalista e a matemática, em sua opinião, era a ciência que mais representava o racional ou aquilo que é imutável.Platão, como Sócrates, também é um ícone no meio filosófico porque cunhou conceitos e teorias que são discutidas até os dias de hoje. Ele junta quase todos os conceitos filosóficos da época. Desde a filosofia natural até a filosofiavoltada para o homem e sua sociedade.Platão aceitava a idéia de haver o algo eterno e imutável convivendo junto com o que “flui” na natureza, conceito pregado pelos sofistas. Contudo ele traz essa mesma idéia para o homem e a sociedade, algo que os sofistas e o próprio Sócrates não tinham ainda desenvolvido. Em suma, ele se acredita e procura descobrir o que “é eternamente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom” independente da sociedade que viva, indo contra o que diziam os sofistas (para os sofistas, a sociedade é que definia tais regras).Para Platão tudo (absolutamente tudo) era feito por algum elemento básico (idéias de Empédocles e Demócrito), mas ele evoluiu essa idéia dizendo que há moldes (formas) em um mundo chamado de mundo das idéias para que se possa dar forma aos elementos básicos, montando elementos que conhecemos em nosso dia a dia. Quando esse molde é usado, um elemento é criado e sai do mundo das idéias para passar a viver no mundo dos sentidos, o mundo que flui e onde esse elemento é visível, nasce, se degrada, desgasta e morre com o passar do tempo... Enfim, o mundo que vivemos.Por exemplo, peguemos os cavalos. Todos os cavalos são iguais? Sim se você pensar na forma “cavalo”, ou seja, embora cada cavalo tenha cor, tamanho e algumas outras características diferentes, é bem improvável que você confunda um cavalo com um hipopótamo. Isso acontece porque, segundo Platão, há uma forma que cria os elementos cavalos e detém em si todo conhecimento sobre cavalos. Portanto a idéia que ao conseguir ver essa forma veríamos também o que seria um cavalo perfeito é bem razoável, o que se aproxima de seu objetivo de algo imutável, belo e perfeito. Um exemplo prático disso são formas de bolos. Embora não vemos a forma quando vemos os bolos numa padaria, aceitamos que a forma possui o molde perfeito pra os bolos, independente se os bolos saem perfeitos ou não.Essa teoria do mundo dos sentidos (onde vivemos e está tudo o que vemos) e mundo das idéias (onde estão as “imagens padrão” ou imagens primordiais das idéias) é chamada pela filosofia de teoria das idéias de Platão.Com relação ao homem, Platão dizia que o corpo era o elemento que pertence ao mundo dos sentidos, mas a alma que esse corpo carrega, essa pertence ao mundo das idéias. Quando você nasce, sua alma (o molde de você) forma seu corpo e passa a habitar a terra. Então ela perde a memória do que conhecia no mundo das idéias, contudo as vezes acaba relembrando algumas coisas em dados momentos, explicando assim aquelas sensações do “algo me diz” que temos.Mas Platão sofreu muito com a sociedade que vivia. Segundo ele a sociedade acaba sempre por matar aqueles que tentam trazer a verdade a tona porque gosta de ver apenas o que estão habituados a ver. Ele chega a descrever um governo utópico onde a razão (aquilo que nunca muda) deveria governar. Esse governo deveria ser formado pela cabeça (governantes ou a razão regida pela sabedoria), peito (soldados ou a vontade guiada pela coragem) e baixo do ventre (trabalhadores ou o desejo regido pela temperança), como funciona o corpo humano, mostrando que esse arranjo tem funcionamento perfeito e comprovado. Seu governo descrito também possui leis reintroduzindo as noções de propriedade privada e laços familiares.Por ultimo, Platão defende a igualdade feminina dizendo que se você instruir uma mulher, ela terá total condição de executar o que um homem executa, mas persiste na idéia que, em seu governo utópico, as mulheres devem continuar a ficar abaixo dos homens.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
[parte 10] O mundo de Sofia - A viagem
- Como um padeiro consegue assar 50 bolos exatamente iguais?
- Porque todos os cavalos são iguais?
- Acredita que o homem possui uma alma imortal?
- Homens e mulheres são igualmente racionais?
domingo, 4 de abril de 2010
sexta-feira, 2 de abril de 2010
[parte 09] O mundo de Sofia - Sócrates
Quem foi Sócrates?Podemos dizer que Sócrates (470-399 a.C.) foi para a filosofia o que Jesus Cristo foi para a religião. Sócrates desafiou todas as linhas da filosofia que existia na época e criou sem saber a maioria das linhas filosóficas contemporâneas. Embora tendesse pelo mesmo caminho dos sofistas (cujo projetos filosóficos que se baseava nas pessoas e o que elas pensavam e não na natureza), Sócrates era diferente de tudo que já tinha existidos entre os atenienses.Fisicamente, segundo relatos, Sócrates era feio, baixo e acima do peso. Ele fala com qualquer tipo de pessoa que cruzasse seu caminho mas tinha uma retórica invejável. Dizia que as árvores e o mato não poderiam lhe ensinar nada e por isso precisava interagir com outras pessoas. Conseguia ficar horas pensativos, contudo não era seu jeito, sua aparência, seu projeto filósofo ou sua retórica que o fez único.Os sofistas cobravam (e bem) para ensinar o povo da época e faziam questão de deixar claro seus notórios conhecimentos, ficando evidente o quanto eram superiores. Sócrates quebra todo o paradigma dos sofistas ao ensinar gratuitamente a quem quisesse os ensinamentos dos filósofos. Não obstante, Sócrates também mostra aos que com eles compartilhavam ensinamentos que aquilo que ensinara estava dentro de cada um, bastava apenas as perguntas certas para se chegar ao ponto que se desejava.Sócrates iniciava um diálogo (ou uma aula) fazendo apenas perguntas. Muitas vezes se passava por um leigo total com muita naturalidade (a chamada ironia socrática). Sua perguntas as vezes eram duras, outras escandalosas. Ele usa métodos que as vezes constrangiam alguns (para os mais arrogantes) e outras vezes deixavam maravilhados outros (para os mais humildes). Isso lhe rendeu muitos amigos e muitos inimigos, dentre eles gente poderosa da época como seus companheiros filósofos e os dirigentes da cidade.O mais impressionante é que Sócrates sempre se mostrava como desentendido porque realmente acreditava que não sabia nada perante o que acreditava ser a verdadeira sabedoria. Sua frase "o que sei é que nada sei" ou "mais sábio é aquele que sabe que não sabe" mostram bem como ele pensava sobre si e sobre todos. Ele acreditava que todo diálogo era um ensinamento inestimável e se esvaziava de seus conhecimentos adquiridos para se encher de novos conhecimentos.Quando era questionado porque agia assim, afirmava que se considerava um verdadeiro filósofo, no literal "amante da sabedoria" e dizia que ouvia uma voz divina e isso não o permitia ser passivo. Dizia que os homens precisam passar por um processo de parto da mente para que realmente possam nascer filosoficamente falando. Essa analogia era usada por Sócrates porque, acreditam alguns, sua mãe era parteira. Sócrates forçava seus interlocutores para que eles pudessem pensar por si próprios, custasse o que custasse. Ele dizia que Atenas era uma égua preguiçosa e ele o mosquito que pica o lombo da égua.Mas diante de tanto arrojo foi acusado de "corromper a juventude" e "não reconhecer a existência dos deuses" e acabou sendo condenado a morte (forçado a tomar um cálice de cicuta). Mesmo condenado, não abriu mão do que acreditava e do que cria, mesmo que isso resultasse em salvar sua vida.Vários paralelos entre Sócrates e Jesus Cristo são feitos para mostrar o quão difícil foi a vida de ambos. Ambos não escreveram nada, ou seja, se sabemos o que sabemos hoje é graças às narrativas de seus discípulos, mas é impossível saber se a narrativa trás 100% do que realmente pensava Sócrates ou Jesus Cristo. Ambos foram acusados e morreram pelo que acreditavam. Ambos também foram divisores de águas em suas áreas (religião e filosofia). Ambos apresentaram mudanças radicais no meio de viver das pessoas. Além de pregar essas mudanças, ambos viviam-na e mostravam a todos que era realmente possível viver a mudança, bastava apenas que "nascesse de novo". Ambos eram mestres da retórica e desafiavam os poderosos da época falando das injustiças e dos abusos de poderes. Por fim, ambos podiam ter pedido clemência e continuarem vivos, mas preferiram morrer. Não se tem a intenção de se colocar um sinal de igualdade entre os dois, mas nos mostra como a humanidade vem tratando aqueles que tentam pregar algo melhor, algo que nos faz evoluir como seres humanos.Por último, Sócrates não acreditava que o "certo" e o "errado" deveria ser determinado pela sociedade. Para ele, você tem que saber e sentir o que é certo por você mesmo. Só assim você conseguiria viver feliz, pois alguém só consegue viver uma vida correta se acredita que aquilo que vive condiz com o que sente e julga ser o correto.Segundo Sócrates, seria praticamente impossível forçar alguém a viver um modo de vida que a sociedade julgasse certo se a pessoa não sente que aquilo que vive é o correto pra ela mesma.
[comentários] O mundo de Sofia - Sobre os filósofos naturais
[parte 08] O mundo de Sofia - O homem no centro
- Será que existe um sentimento natural de pudor?
- Mais inteligente é aquele que sabe que não sabe.
- O verdadeiro conhecimento vem de dentro.
- Quem sabe o que é certo acaba fazendo a coisa certa.
O homem no centroPor volta de 450 a.C., Atenas transformou-se no centro cultural do mundo grego. Os filósofos eram pesquisadores naturais e o centro de interesse da sociedade passou a ser o homem e sua posição na sociedade.Atenas desenvolveu aos poucos uma democracia com assembléias populares e tribunais, mas quem quisesse participar necessitava ter algum conhecimento mínimo (como falar bem ou retórica), por isso recorriam aos filósofos da cidade. Esses filósofos vinham de todos os cantos da Grécia e se denominavam Sofistas. Tinham em comum o olhar extremamente crítico frente a mitologia tradicional. Contudo algo em comum também era o fato de que esses filósofos simplesmente rejeitavam o que eles consideravam "especulação filosófica desnecessária", ou seja, buscar respostas seguras e definitivas para questões que ele acreditavam pertencer aos mistérios da natureza.Referente ao comportamento humano temos a famosa frase "O homem é a medida de todas as coisas", palavras de Protágoras (487 - 420 a.C.) transmitindo que o certo e errado, bem e mal são medidas definidas e medidas pelo homem, não definidos pelos deuses como pregava a mitologia na época. Essa conclusão vinha do fato que ninguém poderia afirmar ou negar a existência de um deus ou deuses (essa afirmação sobre as indefinições dos deuses era original de um grupo conhecido como agnósticos).Com esses pensamentos e após calorosos debates, chegavam a conclusões que nossos comportamentos, como o pudor por exemplo, não eram natos (natural) de nós, ser humanos, mas sim definidos por usos e costumes de uma sociedade.