tag:blogger.com,1999:blog-43304303281617122652024-03-13T23:18:45.721-03:00Lendo comigoAlessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comBlogger280125tag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-70421893779493414192015-06-05T14:29:00.002-03:002016-03-13T13:34:24.130-03:00Quando o lucro (sozinho) não tem vez<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Fonte: <a href="http://editoraglobo.adobe.globo.com/adobe/revista-digital/pegn/">http://editoraglobo.adobe.globo.com/adobe/revista-digital/pegn/</a> (nro 360)Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-91119318337192985732015-06-05T13:26:00.001-03:002016-03-13T13:34:48.034-03:00Chegou a vez dos negócios bons para todo mundo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Fonte: <a href="http://editoraglobo.adobe.globo.com/adobe/revista-digital/pegn/">http://editoraglobo.adobe.globo.com/adobe/revista-digital/pegn/</a> (nro 360)Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-70606032462216574762014-03-01T15:44:00.000-03:002014-03-01T15:44:00.423-03:00Lei 24 - Represente o cortesão perfeitoO cortesão perfeito prospera num mundo onde tudo gira em torno do poder e da habilidade política. Ele domina a arte da dissimulação; ele adula, cede aos superiores, e assegura o seu poder sobre os outros da forma mais gentil e dissimulada. Aprenda e aplique as leis da corte e não haverá limites para você.<br />
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-4528213654841077292014-02-25T15:39:00.000-03:002014-02-25T15:39:00.190-03:00Lei 23 - Concentre suas forçasPreserve suas forças e sua energia concentrando-as no seu ponto mais forte. Ganha-se mais descobrindo uma mina rica e cavando fundo do que pulando de uma mina rasa para outra – a profundidade derrota a superficialidade sempre. As procurar fontes de poder para promove-lo, descubra um patrono-chave, a vaca cheia de leite que o alimentará durante muito tempo.<br />
<br />
O mundo está passando por uma epidemia de divisões cada vez maiores — dentro de países, grupos políticos, famílias, até indivíduos. Estamos todos num estado de total distração e difusão, mal conseguimos colocar nossas cabeças numa direção e já estamos sendo puxados para centenas de outras. O nível de conflito no mundo moderno está mais alto do que nunca, e já nos acostumamos com isso. A solidão é uma forma de nos retirarmos para dentro de nós mesmos, para o passado, para formas mais concentradas de pensamento e ação. Como escreveu Schopenhauer, “O intelecto é uma medida de profundidade, não uma medida de superficialidade”. Napoleão conhecia o valor de concentrar suas forças no ponto fraco do inimigo — era o segredo do seu sucesso nos campos de batalha. Mas a sua força de vontade e a sua mente também estavam moldados segundo esta noção. O propósito único, a total concentração na meta, e o uso destas qualidades contra pessoas menos concentradas, pessoas distraídas — a flecha acertará sempre o alvo e conquistará o inimigo.<br />
<br />
Casanova atribuía o seu sucesso na vida a sua capacidade de se concentrar num único objetivo e forçar até ele ceder. Foi a sua capacidade de se entregar totalmente às mulheres que desejava que o tornava tão sedutor. Durante as semanas ou meses em que uma destas mulheres vivia na sua órbita, ele não pensava em mais ninguém. Quando esteve preso nas traiçoeiras “passagens” do palácio dos doges em Veneza, prisão de onde ninguém jamais escapara, ele só pensava na fuga como seu único objetivo, dia após dia. Uma mudança de cela, que significou meses e meses de escavações inúteis, não o desencorajou; ele persistiu e acabou fugindo. “Sempre acreditei”, escreveu ele mais tarde, “que se um homem coloca na cabeça que vai fazer uma coisa, e se ele se ocupa exclusivamente disso, acaba conseguindo, por mais difícil que seja. Esse homem se tornará grão-vizir ou Papa.”<br />
<br />
Concentre-se numa única meta, uma única tarefa, e insista até conseguir. No mundo do poder, você está sempre precisando da ajuda dos outros, em geral daqueles que têm mais poder do que você. O tolo pula de um para o outro, acreditando que sobreviverá se espalhando. Mas um dos corolários da lei de concentração é que se economiza muita energia, e se obtém mais poder, fixando-se a uma única fonte adequada de poder. O cientista Nikola Tesla se arruinou acreditando que conservaria a sua independência se não tivesse de servir a um único senhor. Ele até rejeitou a oferta de J.P. Morgan, que lhe ofereceu um rico contrato. No final, a “independência” de Tesla significava que ele podia não depender de um único patrono, mas estava sempre tendo de adular uma dúzia deles. No final da vida, ele percebeu o seu erro.<br />
<br />
Todos os grandes pintores e escritores renascentistas se debateram com este problema, não mais do que o escritor seiscentista Pietro Aretino. Ao longo de toda a sua vida, Aretino passou pela indignidade de ter que agradar a este ou aquele príncipe. Ele acabou dando um basta e foi cortejar Carlos V, prometendo ao imperador os serviços da sua poderosa pena. Finalmente ele descobriu a liberdade de servir a uma única fonte de poder. Michelangelo descobriu esta liberdade com o papa Júlio II, Galileu com os Medici. No final, o patrono único aprecia a sua lealdade e passa a depender dos seus serviços; com o tempo, o senhor serve ao escravo. Finalmente, o poder está sempre concentrado.<br />
<br />
Em qualquer organização é inevitável que um pequeno grupo controle tudo. E quase sempre não são aqueles com títulos. No jogo do poder, apenas o tolo golpeia aqui e ali sem fixar a sua meta. É preciso descobrir quem controla as operações, quem realmente dirige a cena por trás dos bastidores. Como Richelieu descobriu no início da sua ascensão ao topo do cenário político francês, no início do século XVII, não era o rei Luís XIII que decidia as coisas, era a mãe dele. Portanto ele se ligou a ela, e passou por cima de todos os níveis dos cortesãos, direto para o topo.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Basta encontrar petróleo uma vez — sua riqueza e poder estão garantidos para o resto da vida. A melhor estratégia é ser sempre muito forte; primeiro, em geral, depois no momento decisivo... Não há lei de estratégia melhor e mais simples do que manter as própri as forças concentradas... Em resumo, o primeiro princípio é: aja com a máxima concentração. </i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Da guerra, Carl von Clausewitz, 1780-1831</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Preze a profundidade mais do que a superficialidade. A perfeição está na qualidade, não na quantidade. O superficial não sai da mediocridade, e a desgraça dos homens com interesses amplos e generalizados é que enquanto desejam comandar tudo acabam não comandando nada. A profundidade dá fama, e equivale ao heroismo em questões sublimes. </i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Baltasar Gracián, 16014658</div>
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O INVERSO<br />
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A concentração pode ser perigosa, e há momentos em que a dispersão é a tática adequada. Lutando contra os nacionalistas pelo controle da China, Mao Tsé-tung e os comunistas fizeram uma guerra de retração em várias frentes, usando como suas principais armas a sabotagem e as emboscadas. A dispersão costuma ser adequada para o lado mais fraco; ela é, de fato, o princípio crucial das guerrilhas. Ao lutar contra um exército superior, concentrando suas forças você só se torna um alvo mais fácil — melhor se dispersar no cenário e frustrar seu inimigo com a intangibilidade da sua presença.<br />
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Ligar-se a uma única fonte de poder tem um grande perigo: se a pessoa morre, vai embora ou çai em desgraça, você sofre.<br />
<br />
Isso é bastante prudente em épocas de grandes tumultos e mudanças violentas, ou quando seus inimigos são numerosos. Quanto mais patronos e senhores você tiver, menor o risco que você corre se um deles perder o poder. Essa dispersão até permitirá que você jogue um contra o outro. Mesmo que você se concentre numa única fonte de poder, continua tendo de ter cautela, e se preparar para o dia em que o seu senhor, o patrono, não estiver mais aqui para protegê-lo.<br />
<br />
Finalmente, exagerar num propósito único pode fazer de você um chato insuportável, especialmente nas artes. O pintor renascentista Paolo Uccello era tão obcecado com a perspectiva que suas pinturas chegam a parecer monótonas e falsas, enquanto Leonardo da Vinci se interessava por tudo — arquitetura, pintura, guerra, escultura, mecânica. A descentralização foi a fonte do seu poder. Mas gênios assim são raros; quanto ao restante de nós, é melhor pender para o lado da profundidade.<br />
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-58357464572955348202014-02-22T15:35:00.000-03:002014-02-22T15:35:00.053-03:00Lei 22 - Use a tática da rendição: transforme a fraqueza em poderSe você é o mais fraco, não lute só por uma questão de honra; é preferível se render. Rendendo-se, você tem tempo para se recuperar, tempo para atormentar e irritar o seu conquistador, tempo para esperar que ele perca o seu poder. Não lhe dê a satisfação de lutar e derrotar você – renda-se antes. Oferecendo a outra face, você o enraivece e desequilibra. Faça da rendição um instrumento de poder. Se você é a parte mais fraca, não lucrará nada metendo-se numa briga inútil. Ninguém aparece para ajudar os fracos – isso só traz prejuízos. Os fracos estão sozinhos e devem se entregar. Lutar não lhe dará nada. além do martírio, e muita gente que não acredita na sua causa morrera.<br />
<br />
Fraqueza não é pecado, e pode até se tornar uma força se você aprender a jogar corretamente.<br />
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A sorte muda e os poderosos quase sempre são derrubados. A rendição disfarça um grande poder: despertando a complacência do inimigo, você tem tempo para se recuperar, tempo para ir minando o terreno, tempo para se vingar. Não sacrifique este tempo em troca do mérito de participar de uma batalha da qual não sairá vencedor. O que nos causa problemas na esfera do poder é quase sempre a nossa própria reação exagerada aos movimentos de nossos inimigos e rivais. Esse exagero cria dificuldades que teríamos evitado se fôssemos mais sensatos. Tem também um efeito ricochete interminável, pois o inimigo vai reagir com o mesmo exagero, como os atenienses fizeram com os melianos. O nosso primeiro instinto é sempre o de reagir, enfrentar a agressão com outra agressão. Mas, da próxima vez que alguém lhe der um empurrão e você perceber que está começando a reagir, experimente isto: não resista nem brigue, ceda, dê a outra face, curve-se. Verá que isso quase sempre neutraliza o comportamento deles — eles esperavam, até queriam que você reagisse com energia e foram, portanto, apanhados desprevenidos e a sua não-resistência os deixou confusos. Na verdade, ao ceder você passa a controlar a situação, porque isso faz parte de um plano maior para que eles acreditem que o derrotaram.<br />
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Esta é a essência da tática da rendição; no íntimo você permanece firme, mas por fora você se inclina. Sem mais motivos para se zangar, seus adversários ficam confusos. É improvável que reajam com mais violência, o que exigiria de você uma reação. Em vez disso, você tem tempo e espaço para armar um contramovimento para derrubá-los. No confronto entre o inteligente e o bruto agressivo, a tática da rendição é a melhor arma. Mas é preciso ter autocontrole: quem se rende de fato perde a liberdade, e pode ser esmagado pela humilhação da derrota. Você deve se lembrar de só parecer que está se rendendo, como o animal que se finge de morto para salvar a pele. Vimos que é melhor se render do que brigar: diante de um adversário mais forte e da garantia de uma derrota, quase sempre é melhor se render do que sair correndo. Na hora, a fuga pode ser a salvação, mas o agressor acabará alcançando você. Rendendo-se, entretanto, você terá oportunidade de se enroscar no inimigo e atacá-lo com unhas e dentes bem de perto.<br />
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Quando o comércio exterior começou a ameaçar a independência do Japão, em meados do século XIX, os japoneses discutiram como derrotar os estrangeiros. Um ministro, Hotta Masayoshi, escreveu um memorando em 1857 que influenciou a política japonesa durante muitos anos: “Estou, portanto, convencido de que a nossa política deveria ser fazer alianças cordiais, enviar navios a todos os países estrangeiros e fazer comércio com eles, copiar os estrangeiros naquilo que eles fazem melhor, reparando assim as nossas próprias deficiências, incentivando a nossa força nacional e completando nossos armamentos, e submeter, assim, gradualmente, os estrangeiros à nossa influência até que, no final, todos os países do mundo conheçam as bênçãos da perfeita tranqüilidade e a nossa hegemonia seja reconhecida no mundo inteiro.”<br />
<br />
Esta é uma aplicação brilhante da lei: Use a rendição para ter acesso ao inimigo. Aprenda com ele, insinue-se lentamente, conforme-se externamente aos seus hábitos, mas no íntimo conserve a sua própria cultura. No fim você sairá vitorioso, pois enquanto ele o considera fraco e inferior, e não toma nenhuma precaução para se defender, você usa este tempo para se recuperar e ficar mais forte do que ele. Esta forma branda e permeável de invasão quase sempre é a melhor, pois o inimigo nenhum motivo tem para reagir, nada para se preparar, ou resistir. E se os japoneses tivessem resistido à influência ocidental pela força, poderiam ter sofrido uma devastadora invasão que alteraria para sempre a sua cultura.<br />
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A rendição também é uma forma de você rir do inimigo, de virar o poder contra eles mesmos, como fez Brecht. O romance A brincadeira, de Milan Kundera, baseado nas experiências do autor numa colônia penal na Tchecoslováquia, conta que os guardas da prisão organizaram uma corrida de revezamento, guardas contra prisioneiros. Para eles esta era uma chance de exibir a sua superioridade física. Os prisioneiros sabiam que era para eles perderem, por isso fizeram tudo para agradar — fingindo um esforço exagerado enquanto mal se mexiam, caindo no chão depois de correr só alguns metros, capengando, andando cada vez mais devagar enquanto os guardas disparavam na frente. Aceitando ao mesmo tempo participar da corrida e perder, ele tinham obedecido aos guardas; mas o excesso de obediência tomou o evento ridículo a ponto de arruiná-lo. A “superobediência” — a rendição — nesse caso foi uma demonstração de superioridade ao inverso. A resistência teria colocado os prisioneiros num ciclo de violências, rebaixando-os ao nível dos guardas. A superobediência, entretanto, colocou os guardas numa situação ridícula, mas eles não podiam punir justamente os prisioneiros que só fizeram o que eles tinham pedido. O poder está sempre fluindo — visto que o jogo é por natureza fluido e uma arena de lutas constantes, quem está com o poder quase sempre acaba se encontrando na descida do pêndulo. Se você se vir temporariamente enfraquecido, a tática da rendição é perfeita para levá-lo para cima de novo — ela disfarça a sua ambição; ensina a você a paciência e o autocontrole, habilidades-chave para o jogo, e o coloca na melhor posição possível para tirar vantagem do súbito deslize do seu opressor. Se você foge ou revida, não poderá vencer a longo prazo. Se você se rende, é quase certo sair vitorioso.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Ouvistes o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao perverso; mas a qualquer que vos ferir a face direita, voltai-lhe também a outra; e ao que quer demandar convosco e tirar-vos a túnica, deixai-lhe também a capa. Se alguém vos obrigar a andar uma milha, ide com ele duas.</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Jesus Cristo, em Mateus, 5:38-41</div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Os fracos jamais cedem quando deveriam.</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Cardeal de Retz, 16 13-1679</div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Voltaire vivia exilado em Londres numa época em que estava no auge ser contra os franceses. Um dia, caminhando pelas ruas, ele se viu cercado por uma multidão irada. “Enforquem-no, enforquem o francês”, gritavam. Voltaire calmamente se dirigiu a turba dizendo o seguinte: Ingleses! Desejam me matar porque sou francês. Já não fui punido o suficiente por não ter nascido inglês?” A multidão aplaudiu as suas palavras sensatas e o escoltaram de volta aos seus alojamentos.</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
The Little, Brown - Book Of Anecdotes, Clifton Fadiman Ed. 1985</div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Lembre-se: quem está tentando exibir a sua autoridade ilude-se facilmente com a tática da rendição. Se você se mostra submisso, eles se sentem importantes. Contentes, porque estão sendo respeitados, tornam-se alvos mais fáceis para um contra-ataque, ou para uma zombaria dissimulada como fez Brecht. Ao avaliar o seu poder ao longo do tempo, não sacrifique a capacidade de manobra a longo prazo pelas glórias efêmeras do martírio. Quando o grande senhor passa, o camponês sábio se inclina profundamente e peida em silêncio.</i> </blockquote>
<div style="text-align: right;">
Provérbio etíope</div>
<br />
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O INVERSO<br />
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O objetivo da rendição é salvar a sua pele para quando você puder se firmar novamente. É para evitar o martírio que alguém se rende, mas há momentos em que o inimigo não descansa, e o martírio parece ser a única escapatória. Além do mais, se você estiver disposto a morrer, outros poderão tirar do seu exemplo poder e inspiração.<br />
<br />
Mas o martírio, o inverso da rendição, é uma tática confusa, pouco precisa, e tão violenta quanto a agressão que ele combate. Para cada mártir famoso existem milhares que não inspiraram religiões nem rebeliões, de forma que, se o martírio às vezes confere um certo poder, isso é imprevisível. E, o que é mais importante, você não estará por aqui para usufruir desse poder. E existe decididamente algo de egoísmo e arrogância nos mártires, como se achassem que seus seguidores são menos importantes do que a sua própria glória. Quando o poder o abandona, é melhor ignorar esta inversão da Lei. Deixe para lá o martírio: o pêndulo acaba oscilando para o seu lado novamente, e você precisa estar vivo para ver isso.<br />
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-59805969792280584312014-02-18T15:29:00.000-03:002014-02-18T15:29:00.033-03:00Lei 21 - Faça-se de otário para pegar os otários - pareça mais bobo do que o normalNinguém gosta de se sentir mais idiota do que o outro. O truque, portanto, é fazer com que suas vítimas se sintam espertas – e mais espertas que você. Uma vez convencidas disso, elas jamais desconfiarão que você possa ter segundas intenções. A sensação de que alguém é mais inteligente do que nós é quase insuportável. Em geral tentamos justificá-la de várias maneiras: “O conhecimento dele é só teoria, enquanto o meu se baseia na realidade.” “Os pais dela pagaram para ela estudar. Se meus pais tivessem tido tanto dinheiro assim, se eu tivesse sido privilegiado Ele não é tão inteligente quanto pensa”. E: “Ela pode conhecer melhor do que eu a sua areazinha restrita, mas fora disso ela não é nem um pouco esperta. Até Einstein era um idiota, quando não se tratava de física”.<br />
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Visto que a ideia de inteligência é tão importante para a vaidade da maioria das pessoas, é importante não insultar ou impugnar jamais, inadvertidamente, o poder do cérebro de uma pessoa. Esse é um pecado imperdoável. Mas, se você conseguir tirar vantagem desta regra, ela abrirá para você todas as portas para a fraude. Subliminarmente, assegure às pessoas de que elas são mais inteligentes do que você, ou mesmo que você é um tanto bronco, e vai conseguir fazer delas o que você quiser. A sensação de superioridade intelectual que você lhes dá afrouxará as suas desconfianças.<br />
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Em 1865, o conselheiro prussiano Otto von Bismarck queria que a Áustria assinasse um determinado tratado. Esse tratado era totalmente a favor da Prússia e contra os interesses da Austria, e Bismarck teria de lançar mão de estratégias para convencer os austríacos. Mas o negociador austríaco, conde Blome, era um ávido jogador de cartas. Seu jogo preferido era o quinze, e ele costumava dizer que podia julgar o caráter de um homem pelo seu estilo de jogar. O prussiano mais tarde escreveria, “Foi a última vez que joguei quinze. Fui tão imprudente que todos ficaram atônitos. Perdi vários táleres [a moeda da época], mas consegui enganar [Blome], porque ele achou que eu era mais irresponsável do que sou na verdade, e recuou”. Além de parecer afoito, Bismarck também se fez de ignorante e tolo, dizendo coisas absurdas e se pavoneando com um excesso de energia nervosa.<br />
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Tudo isso fez Blome achar que ele tinha informações valiosas. Ele sabia que Bismarck era agressivo — o prussiano já tinha essa fama, e o modo como jogava confirmava isso. E homens agressivos, Blome sabia, podem ser tolos e imprudentes. Por conseguinte, na hora de assinar o tratado, Blome achou que estava levando vantagem. Um tolo afoito como Bismarck, ele pensou, é incapaz de calcular e enganar a sangue-frio, por isso só olhou o tratado de relance antes de assinar — não leu as letrinhas miúdas. Assim que a tinta secou, um alegre Bismarck exclamou na sua cara, “Ora, pensei que eu não fosse encontrar um diplomata austríaco disposto a assinar esse documento!”<br />
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Os chineses têm um ditado, “Vestir a máscara do porco para matar o tigre”. É uma referência a uma antiga técnica de caça em que o caçador se cobre com a pele e o focinho de um porco, e sai grunhindo. O poderoso tigre pensa que um porco vem chegando, deixa-o se aproximar, saboreando a perspectiva de uma refeição fácil. Mas é o caçador quem ri por último.<br />
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Mascarar-se de porco funciona muito bem com quem, como os tigres, é muito arrogante e seguro de si. Quanto mais eles acham que é fácil apanhar você, mais facilmente você vira a mesa. Este truque também é útil se você for ambicioso, mas ocupa uma posição inferior na hierarquia — aparentar ser menos inteligente do que é, até meio tolo, é o disfarce perfeito. Pareça um porco inofensivo e ninguém acreditará que tem ambições perigosas. Podem até promovê-lo, pois você parece tão agradável e subserviente. Cláudio, antes de se tornar imperador de Roma, e o príncipe da França que mais tarde se tornou Luís XIII usavam esta tática quando seus superiores desconfiavam de que tinham pretensões ao trono. Bancando os tolos quando jovens, eles foram deixados em paz. Quando chegou a hora de atacar, e agir com vigor e decisão, eles apanharam todos desprevenidos.<br />
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A inteligência é a qualidade óbvia para ser minimizada, mas por que parar por aí? Gosto e sofisticação estão no mesmo nível da inteligência na escala das vaidades; faça as pessoas se sentirem mais sofisticadas do que você e elas baixarão a guarda. Deixe sempre as pessoas acreditarem que são mais espertas e mais sofisticadas do que você. Elas os manterão por perto porque você as faz se sentir melhor, e quanto mais você ficar por perto, mais chances terá de enganá-las.<br />
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Saiba usar a burrice: o homem sábio usa esta carta às vezes. Há momentos em que a maior sabedoria é parecer não saber nada — você não precisa ser ignorante, basta ser capaz de fingir que é. Não é muito bom ser sábio entre tolos e lúcido no meio de lunáticos. Quem se faz de tolo não é tolo, a melhor maneira de ser bem recebido por todos é fingindo ser um grande idiota. </i></blockquote>
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Baltasar Gracián, 1601-1658</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Ora, não há nada de que um homem se orgulhe mais do que da sua capacidade intelectual, pois é ela que o coloca no comando do mundo animal. E muita imprudência deixar que alguém o veja como decididamente superior nesse ponto, e deixar que outras pessoas vejam isso também... Por conseguinte, embora a classe social e o dinheiro possam sempre contar com um tratamento privilegiado na sociedade, com isso a capacidade intelectual não pode contar: o maior favor que podem prestar á inteligência é ignorá-la; e se as pessoas a percebem, é porque a consideram uma impertinência, ou algo a que o seu possuidor não tem nenhum direito legítimo, e do qual ele apenas ousa se orgulhar; e, em retaliação e vingança por sua conduta, as pessoas secretamente tentam humilhá-lo de alguma outra forma; e se demoram para fazer isso é só porque esperam pela ocasião mais adequada. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>Um homem pode ser o mais humilde possível nesse sentido, e ainda assim dificilmente conseguirá que as pessoas lhe perdoem o pecado de se colocar intelectualmente acima delas. Em Garden of Roses, Sadi observa: Você deveria saber que os tolos são cem vezes mais avessos a se encontrar com o sábio do que o sábio tem disposição para estar em companhia de tolos. Por outro lado, ser idiota é uma recomendação verdadeira. Pois assim como o calor é agradável ao corpo, também é agradavelmente sentir a sua superioridade; e o homem procura a companhia que vai lhe dar essa sensação, tão instintivamente quanto ele se aproxima da lareira ou caminha no sol quando quer se aquecer. Mas isto significa que ele não agradará por sua superioridade; e, se um homem quer agradar, deve ser intelectualmente inferior.</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
ARTHUR SCHOPENHAUER, 1788-1860</div>
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O INVERSO<br />
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Raramente vale a pena revelar a verdadeira natureza da sua inteligência; você deve criar o hábito de minimizá-la sempre. Se as pessoas inadvertidamente ficarem sabendo da verdade — que você é mesmo mais esperto do que parece — vão admirá-lo ainda mais por ser discreto e não ficar se exibindo. No início da sua ascensão, é claro, você não pode bancar o idiota; é bom deixar que seus chefes saibam, sutilmente, que você é mais esperto do que os seus concorrentes. A medida que você for subindo, entretanto, tente brilhar menos.<br />
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Existe, no entanto, uma situação em que vale a pena fazer o contrário —quando você pode encobrir uma trapaça demonstrando inteligência. Quando se trata de esperteza, como na maioria das coisas, o importante são as aparências.. Se você parece ter autoridade e conhecimento, as pessoas acreditarão no que você diz. Isto pode servir para livrá-lo de uma enrascada.<br />
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Certa vez, o marchand Joseph Duveen estava numa festa, em Nova York, na casa de um magnata a quem acabara de vender um quadro de Dürer por um preço altíssimo. Um dos convidados era um jovem crítico de arte francês que parecia extremamente culto e seguro de si. Querendo impressioná-lo, a filha do magnata lhe mostrou o Dürer, que ainda não estava pendurado na parede. O crítico estudou-o alguns minutos, depois disse, “Sabe, não acho que isto seja um Dürer”. Ele seguiu a jovem quando ela foi correndo contar para o pai. “Sabe, meu jovem, que pelo menos uns vinte especialistas em arte, aqui e na Europa, foram consultados também e disseram que o quadro não é autêntico? E agora você cometeu o mesmo engano.” O seu tom confiante e o ar de autoridade intimidaram o francês, que se desculpou pelo erro.<br />
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Duveen sabia que o mercado de arte estava inundado de fraudes, e que muitos quadros tinham sido falsamente atribuídos a antigos mestres. Ele fazia o possível para distinguir o verdadeiro do falso mas, no afã de vender uma obra, com freqüência exagerava a sua autenticidade. O importante para ele era que o comprador acreditasse que tinha comprado um Dürer, e que o próprio Duveen convencesse todos da sua “perícia” com seu ar de impecável autoridade. Por isso é importante ser capaz de bancar o professor, quando necessário, e não impor aos outros essa atitude à toa.<br />
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-43779160410648976752014-02-15T15:28:00.000-02:002014-02-15T15:28:00.090-02:00Lei 20 - Não se comprometa com ninguémTolo é quem se apressa a tomar um partido. Não se comprometa com partidos ou causas, só com você mesmo. Mantendo-se independente, você domina os outros – colocando as pessoas umas contra as outras, fazendo com que sigam você.<br />
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PARTE 1: NÃO SE COMPROMETA COM NINGUÉM, MAS SEJA CORTEJADO POR TODOS<br />
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Deixando que outros sintam que o possuem de alguma forma, você perde o poder sobre eles. Não comprometendo seus afetos, eles se esforçarão mais para conquistá-lo. Mantenha-se distante e você conquistará o poder que vem das atenções e dos desejos frustrados dessas pessoas. Faça o papel da Rainha Virgem: Dê esperanças, jamais a satisfação.<br />
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Visto que o poder depende tanto das aparências, você precisa aprender alguns truques para realçar a sua imagem. Recusar comprometer-se com alguém ou com um grupo é um deles. Quando você se retrai, não desperta raiva, mas um certo respeito. Você parece instantaneamente poderoso porque se torna inatingível, em vez de se render a um grupo ou a um relacionamento, como faz a maioria das pessoas. Com o tempo, essa aura de poder só faz crescer: conforme aumenta a sua reputação de pessoa independente, mais desejado você será, todos querendo ser aquele que fará você se comprometer. O desejo é como um vírus: se vemos alguém ser desejado por outras pessoas, tendemos a achá-lo desejável também.<br />
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Assim que você se compromete, foi-se o encanto. Você se torna igual a todo mundo. As pessoas tentarão todos os métodos escusos possíveis para levar você a um compromisso. Vão lhe dar presentes, encher você de favores, tudo para colocá-lo na situação de devedor. Incentive as atenções, estimule os interesses, mas não se comprometa de forma alguma. Aceite os presentes e favores se assim desejar, mas tenha o cuidado de se manter intimamente distante. Você não pode se permitir, inadvertidamente, sentir-se devedor com relação a ninguém. Mas lembre-se: o objetivo não é livrar-se das pessoas, ou fazer com que elas achem que você é incapaz de um compromisso. Como a Rainha Virgem, você tem que agitar as coisas, estimular o interesse, atrair as pessoas com a possibilidade de ficar com você. Você tem de se dobrar às suas atenções ocasionalmente, portanto — mas não demais. O general e estadista grego, Alcibíades, era mestre neste jogo. Foi ele quem inspirou e liderou a forte armada ateniense que invadiu a Sicília em 414 a.C. Quando, em casa, os invejosos atenienses tentaram derrubá-lo com acusações falsas, ele passou para o lado do inimigo, os espartanos, para não ter de enfrentar um julgamento na sua própria cidade. Depois, quando os atenienses foram derrotados em Siracusa, ele trocou Esparta pela Pérsia, apesar de o poder de Esparta estar em ascensão. Mas agora, tanto os atenienses quanto os espartanos cortejavam Alcibíades por sua influência com os persas; e os persas o enchiam de homenagens devido ao seu poder sobre os atenienses e espartanos. Ele distribuía promessas para todos os lados, mas não se comprometia com nenhum, e no final quem dava as cartas era ele.<br />
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Se você quer ter poder e influência, experimente a tática de Alcibíades: coloquese no meio de duas forças concorrentes. Atraia um dos lados prometendo ajuda; o outro, sempre querendo superar o inimigo, seguirá você também. Enquanto os dois disputam a sua atenção, você se torna logo uma pessoa que parece muito desejada e de grande influência. Você terá mais poder assim do que se comprometendo precipitadamente com um dos lados. Para aperfeiçoar a sua tática, você tem de se manter intimamente livre de envolvimentos emocionais, e ver todos a seu redor como peões para a sua ascensão. Você não pode se permitir servir de lacaio de nenhuma causa.<br />
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No meio das eleições presidenciais nos Estados Unidos, em 1968, Henry Kissinger telefonou para a equipe de Richard Nixon. Kissinger se aliara a Nelson Rockefeller, que tinha falhado na sua tentativa de ser indicado pelo partido Republicano. Agora Rockefeller estava oferecendo à campanha de Nixon informações privilegiadas de grande valor sobre as negociações para a paz no Vietnã, que estavam sendo realizadas em Paris. Ele tinha um homem no grupo de negociadores que o mantinha informado sobre os últimos acontecimentos. A equipe de Nixon aceitou com prazer a oferta.<br />
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Ao mesmo tempo, entretanto, Kissinger também abordou o candidato dos democratas, Hubert Humphrey, e ofereceu a sua ajuda. O pessoal de Humphrey lhe pediu informações confidenciais sobre Nixon, e ele deu. “Veja”, disse Kissinger ao pessoal de Humphrey, “há anos que detesto o Nixon.” De fato, ele não tinha interesse em nenhum dos dois lados. O que ele queria na verdade foi o que conseguiu: a promessa de um posto de alto nível no ministério, tanto de Nixon quanto de Humphrey. Não importando qual dos dois vencesse nas eleições, a carreira de Kissinger estava garantida.<br />
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O vencedor, claro, foi Nixon, e Kissinger teve o seu cargo no ministério. Mesmo assim, ele teve o cuidado de não se parecer demais com um homem de Nixon. Quando ele foi reeleito, em 1972, homens muito mais fiéis do que Kissinger foram despedidos. Kissinger foi também o único alto funcionário do governo Nixon que sobreviveu a Watergate e serviu ao presidente seguinte, Gerald Ford. Mantendo uma ligeira distância, ele prosperou em épocas turbulentas.<br />
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Quem usa esta estratégia com freqüência nota um estranho fenômeno: as pessoas que correm para apoiar os outros tendem a ser pouco respeitadas, pois sua ajuda é obtida com muita facilidade, enquanto as que se retraem se vêem cercadas de pedintes. O distanciamento delas é poderoso, e todos as querem ao seu lado. Picasso, passados os primeiros anos de pobreza e já o artista de maior sucesso no mundo, não se comprometeu com este ou aquele marchand, embora o cercassem por todos os lados com ofertas atraentes e promessas formidáveis. Pelo contrário, ele parecia não se interessar por seus serviços. Esta técnica deixava os marchands loucos, e enquanto o disputavam o preço das suas obras subia.<br />
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Quando Henry Kissinger, como secretário de Estado dos Estados Unidos, quis relaxar a tensão com a Rússia, não fez concessões nem gestos conciliatórios, mas cortejou a China. Isto enfureceu e até<br />
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assustou os soviéticos — eles já estavam politicamente isolados e temiam ficar ainda mais se os Estados Unidos e a China se unissem. O movimento de Kissinger os empurrou para a mesa de negociações. A tática tem um paralelo na sedução: se quiser conquistar uma mulher, aconselha Stendhal, seduza primeiro a irmã dela. Mantenha-se distante e as pessoas se aproximarão de você. Será um desafio para elas conquistar o seu afeto. Desde que você imite a sábia Rainha Virgem e mantenha acesas as esperanças, estará sempre atraindo o interesse e o desejo.<br />
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Não se comprometa com ninguém nem com coisa alguma, pois isso é ser escravo, escravo de todos os homens... principalmente, mantenha-se livre de compromissos e obrigações — esses são artifícios do outro para mantê-lo em seu poder...</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Baltasar Gracián, 1601-1658</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Homens espertos são lentos no agir, pois é mais fácil evitar compromissos do que se sair bem de um deles. Nessas ocasiões teste o seu bom senso; é mais seguro evitá-los do que sair vitorioso de um deles. Uma obrigação leva a outra maior, e você chega à beira do desastre.</i></blockquote>
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Baltasar Gracián 1601-1658</div>
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PARTE II: NÃO SE COMPROMETA COM NINGUÉM - NÃO ENTRE NA BRIGA<br />
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Não se deixe arrastar para brigas mesquinhas e discussões. Pareça interessado e prestativo, mas encontre um jeito de se manter neutro; deixe que os outros briguem enquanto você se retrai, observando e aguardando. Quando as partes litigantes se cansarem, estarão maduras para a colheita. Você pode fazer disso uma prática, incentivar as discussões entre as pessoas, depois se oferecer como mediador, conquistando o poder como intermediário.<br />
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Quando você entra numa briga que não foi você que começou, perde a iniciativa. Os interesses dos combatentes tornam-se os seus interesses; você passa a ser uma ferramenta que eles usam. Aprenda a se controlar, a reprimir a sua natural tendência a tomar partido e entrar na briga. Seja amável e encantador com cada um dos combatentes, depois se afaste e deixe que eles se enfrentem. A cada batalha eles ficam mais fracos, enquanto você se fortalece a cada batalha que evita. Para ganhar no jogo do poder, você deve dominar suas emoções. Mas, ainda que você consiga esse autocontrole, não poderá controlar o temperamento das pessoas a sua volta. E aí é que está o perigo. A maioria das pessoas vive num redemoinho de emoções, constantemente reagindo, alimentando discussões e conflitos.<br />
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O seu autocontrole e autonomia só vai deixá-las aborrecidas e furiosas. Elas tentarão arrastálo para o turbilhão, implorando para que você tome partido nas suas intermináveis batalhas, ou faça as pazes por elas. Se você sucumbir às suas súplicas emocionais, pouco a pouco verá a sua mente e o seu tempo ocupados com os problemas delas. Não permita ser sugado por uma compaixão ou piedade qualquer que você possa sentir. Deste jogo você não sai vencedor; os conflitos só se multiplicam.<br />
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Por outro lado, você não pode ficar totalmente de fora, pois seria uma afronta inútil. Para fazer bem esse jogo, você deve parecer interessado nos problemas da outra pessoa, às vezes até tomar o seu partido. Mas, ao mesmo tempo que demonstra externamente o seu apoio, você deve manter interiormente a sua energia e sanidade íntegras, não se deixando envolver emocionalmente. Não importa o quanto as pessoas tentem atrair você, não deixe que o seu interesse pelos negócios e discussões delas passem além do superficial. Dê-lhes presentes, ouça com ar de simpatia, até ocasionalmente banque o sedutor — mas por dentro mantenha distância dos reis amáveis e dos pérfidos.<br />
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Recusando-se a se comprometer e mantendo assim a sua autonomia, a iniciativa continua sendo sua: seus movimentos continuam sendo escolha sua, e não reações defensivas ao puxa-empurra dos outros ao redor. Demorar para escolher as suas armas já pode ser, por si só, uma arma, especialmente se você deixar os outros se exaurirem lutando para depois se aproveitar da exaustão deles.<br />
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Na antiga China, o reinado de Chin certa vez invadiu o reinado de Hsing. Huan, o governante de uma província vizinha, achou que devia correr em defesa de Hsing, mas seu conselheiro lhe disse para esperar: “Hsing ainda não vai ser destruída”, falou ele, “e Chin ainda não está exausto. Se Chin não está exausto, [nós] não podemos influenciar muita coisa. Além disso, o mérito de apoiar um estado em perigo não é tão grande quanto a virtude de ressuscitar um estado em ruínas.” O argumento do conselheiro venceu e, como ele tinha previsto, Huan mais tarde teve a glória de salvar Hsing à beira da destruição e depois de conquistar um Chin exausto. Ele ficou de fora da briga até que as forças envolvidas nela se exauriram mutuamente, quando foi seguro para ele intervir.<br />
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Esta é a vantagem de se manter longe da confusão: você ganha tempo para se posicionar, para se aproveitar da situação assim que uma das partes começar a perder.<br />
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Você também pode levar o jogo um pouco mais adiante, prometendo apoio a ambos os lados num conflito enquanto manobra para ser você a levar vantagem na luta. Foi isso que Castruccio Castracani, governante da cidade italiana de Lucca, no século XIV, fez quando tinha seus planos para a cidade de Pistóia. Um cerco seria muito caro, em termos de vidas e dinheiro, mas Castruccio sabia que em Pistóia existiam duas facções, os Negros e os Brancos, que se odiavam. Ele negociou com os Negros, prometendo ajudá-los contra os Brancos; depois, sem que eles soubessem, prometeu aos Brancos que os ajudaria contra os Negros. E Castruccio manteve as suas promessas — enviou um exército para um dos portões da cidade controlado pelos Negros, que as sentinelas, é claro, deixaram entrar. Enquanto isso, outro exército seu entrava por um portão controlado pelos Brancos. Os dois exércitos se encontraram no meio do caminho, ocuparam a cidade, mataram os líderes das suas facções, terminaram a guerra interna e entregaram Pistóia a Castruccio.<br />
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Preservar a sua autonomia lhe dá opções quando as pessoas chegam às vias de fato — você pode bancar o mediador, o agente da paz, enquanto está na realidade garantindo os seus próprios interesses. Você pode prometer ajuda a um lado, e o outro terá que atraí-lo com uma oferta maior. Ou, como Castruccio, você pode parecer que está apoiando ambos os lados, depois representar o antagonista de um e de outro. Freqüentemente, num conflito, fica-se tentado a tomar o partido do mais forte, ou do que lhe oferecer as vantagens evidentes de uma aliança. Esse é um negócio arriscado. Primeiro, quase sempre é difícil prever qual dos lados prevalecerá a longo prazo. E mesmo que você acerte e se alie com o partido mais forte, poderá se ver engolido e perdido, ou convenientemente esquecido, quando eles se tomarem vitoriosos. Fique do lado do mais fraco, e você está condenado. Mas faça o jogo da espera, e não poderá perder.<br />
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Na França, depois de três dias de rebeliões durante a revolução de julho de 1830, o estadista Talleyrand, já idoso, sentou-se à sua janela em Paris ouvindo o repicar dos sinos que indicavam que as lutas tinham acabado. Voltando-se para um assistente, ele disse, “Ah, os sinos! Estamos ganhando..” ‘Nós’, quem, mon prince?”, perguntou o assistente. Fazendo um gesto para o homem se calar, Talleyrand replicou, “Nem uma palavra! Amanhã lhe direi quem somos nós”. Ele sabia muito bem que só os tolos se precipitam — que se comprometendo rápido demais você perde a capacidade de manobra. As pessoas também respeitam você menos por isso: quem sabe amanhã, pensam elas, você vai se comprometer com outra causa diferente, visto que se entregou tão facilmente a esta. A boa sorte é uma divindade volúvel que muda de lado com muita freqüência. O compromisso com uma das partes tira de você a vantagem do tempo e o luxo da espera. Deixe que os outros se apaixonem por este ou aquele grupo; mas você, não se apresse e nem perca a cabeça.<br />
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Finalmente, há ocasiões em que é mais sensato abandonar qualquer pretensão de parecer prestativo alardeando, pelo contrário, a sua independência e autoconfiança. A atitude aristocrática independente é importantíssima para quem precisa conquistar o respeito. George Washington reconheceu isso no seu esforço para dar à jovem república americana uma base firme. Como presidente, Washington fugiu à tentação de se aliar à França ou Inglaterra, apesar das pressões que sofria nesse sentido. Ele queria que o país conquistasse o respeito mundial por sua independência. Embora um tratado com a França talvez o tivesse ajudado no curto prazo, com o passar do tempo ele sabia que era mais eficaz estabelecer a autonomia da nação. A Europa tinha de ver os Estados Unidos como uma potência no mesmo pé de igualdade. Lembre-se: a sua energia e o seu tempo têm limite. Todos os momentos desperdiçados com os problemas alheios são subtraídos da sua energia. Você pode temer ser acusado de insensibilidade, mas no final, mantendo-se independente e confiante em si próprio, você será mais respeitado e conquistará o poder de escolher quando deve, ou não, tomar a iniciativa de ajudar os outros.<br />
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Quando a narceja e o mexilhão brigam, quem leva a melhor é o pescador.</i> </blockquote>
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Antigo ditado chinês</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Considere que não se comprometer exige mais coragem do que vencer uma batalha, e lá onde já existe um tolo interferindo, cuidado para não existirem dois. </i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Baltasar Gracián, 1601-1658</div>
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O INVERSO<br />
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Ambas as partes desta lei se voltarão contra você se você exagerar. O jogo proposto aqui é delicado e difícil. Se você colocar muitos partidos se enfrentando, eles acabarão percebendo a manobra e conspirarão contra você. Se você deixar um número cada vez maior de pretendentes esperando demais, não vai despertar o desejo mas, sim, a desconfiança. As pessoas vão começar a perder o interesse. Você vai acabar achando que vale mais a pena se comprometer com uma das partes — nem que seja só pelas aparências, para provar que é capaz de ser solidário.<br />
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Mesmo nesse caso, entretanto, a chave será manter a sua independência interior — não se permitir envolver emocionalmente. Preservar a opção tácita de poder sair a qualquer momento e reclamar a sua liberdade, se o partido ao qual você se aliou ameaçar vir abaixo. Os amigos que você fez, enquanto estava sendo cortejado, lhe oferecerão um lugar para ir depois de abandonar o navio.<br />
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000<br />
<br />Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-84615199243889698852014-02-11T15:21:00.000-02:002014-02-11T15:21:00.226-02:00Lei 19 - Saiba com quem está lidando - não ofenda a pessoa erradaNo mundo há muitos tipos diferentes de pessoas, e você não pode esperar que todas reajam da mesma forma às suas estratégias. Engane ou passe a perna em certas pessoas e elas vão passar o resto da vida procurando se vingar de você. São lobos em pele de cordeiro. Cuidado ao escolher suas vítimas e adversários. Na sua ascensão ao poder você pode cruzar com vários tipos de adversários, otários e vítimas. A arte do poder na sua forma mais refinada está em saber distinguir lobos de cordeiros, raposas de lebres, gaviões de abutres. Se você fizer bem essa distinção, conseguirá o que quer sem precisar coagir ninguém.<br />
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Mas se lidar às cegas com quem quer que cruzar o seu caminho, viverá em constante pesar, se chegar a viver tanto assim. Ser capaz de reconhecer os tipos de pessoas, e agir de acordo, é importantíssimo. Os tipos a seguir são os cinco mais perigosos e difíceis da selva, conforme identificados por artistas — vigaristas ou não — do passado. O Homem Arrogante e Orgulhoso. Embora ele possa inicialmente disfarçar isso, a suscetibilidade orgulhosa deste homem o toma muito perigoso. Ao mais leve sinal, ele quer se vingar de uma forma extremamente violenta. Você pode dizer, “Mas eu só falei isso-e-aquilo numa festa, onde estavam todos bêbados...” Não importa. Não há sanidade na sua reação exagerada, portanto não perca tempo tentando entendê-lo. Se em algum momento, ao lidar com uma pessoa, você perceber um orgulho exageradamente sensível e ativo, fuja. Seja lá o que você estiver esperando dela, não vale a pena.<br />
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O Homem Irremediavelmente Inseguro. Este homem está relacionado com o tipo orgulhoso e arrogante, mas é menos violento e mais difícil de identificar. Seu ego é frágil, sua noção de identidade insegura, e se ele se sentir enganado ou atacado, a mágoa fica contida. Ele o irá mordendo aos poucos, e vai levar um tempão para essa mordida aumentar e você perceber o que está acontecendo. Se você descobrir que enganou ou magoou um homem desses, suma por um bom tempo. Não fique perto dele, ou ele o irá mordiscando até você morrer.<br />
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O Desconfiado. Outra variante dos tipos acima é um futuro Stalin. Ele vê o que ele quer ver — em geral, o pior — nas outras pessoas e imagina que todos estão atrás dele. O desconfiado é de fato o menos perigoso dos três: genuinamente desequilibrado, ele é fácil de enganar, assim como o próprio Stalin era constantemente iludido. Jogue com a sua natureza desconfiada para fazê-lo se voltar contra as outras pessoas. Mas, se você se tornar o alvo das suas desconfianças, cuidado.<br />
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A Serpente de Longa Memória. Se magoado ou enganado, este homem não demonstrará superficialmente a sua raiva, ele vai calcular e aguardar. Depois, quando estiver em posição de virar a mesa, irá reclamar uma vingança marcada por uma fria sagacidade. Reconheça este homem por sua cautela e astúcia em diferentes áreas da sua vida. Ele costuma ser frio e insensível. Redobre a sua atenção com esta serpente, e, se você de alguma forma o feriu, esmague-o totalmente ou tire-o da sua frente. O Homem Simples, Despretensioso, com Freqüência Pouco Inteligente. Ah, suas orelhas coçam quando você encontra uma vítima tão tentadora. Mas este homem é muito mais difícil de enganar do que você imagina. Cair num engodo em geral exige inteligência e imaginação — uma idéia da possibilidade de lucrar alguma coisa com isso. O homem bronco não morde a isca porque não a reconhece. Ele é distraído a esse ponto. O perigo não é que este homem vá magoá-lo ou querer se vingar, mas tentar enganá-lo é simplesmente perda de tempo, energia e recursos, e até da sua sanidade mental. Tenha à mão um teste para o otário — uma piada, uma história. Se a reação dele for totalmente literal, este é o tipo com o qual está lidando. Se quiser continuar, o risco é por sua Conta.<br />
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Não pense jamais que a pessoa com quem está lidando é mais fraca ou menos importante do que você. Alguns homens demoram para se ofender, o que pode levar você a achar que são insensíveis, e a não se preocupar em insultá-los. Mas ofendidos na sua honra e orgulho, partirão para cima de você com uma violência que parece repentina e exagerada pela demora da reação. Se você quer se opor a alguém, é melhor agir com educação e respeito, mesmo achando a solicitação atrevida ou a oferta absurda. Não rejeite as pessoas insultando-as antes de conhecê-las melhor. Os homens, na sua maioria, aceitam a humilhação de terem sido enganados com uma certa resignação. Eles aprendem a lição, reconhecendo que nada é gratuito, e que foi a sua própria ganância pelo dinheiro fácil que os derrubou. Alguns, entretanto, recusam-se a engolir o sapo. Em vez de refletir sobre a própria ingenuidade e avareza, eles se consideram vítimas totalmente inocentes.<br />
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Homens assim podem parecer estar pregando a justiça e a honestidade, mas na verdade são pessoas excessivamente inseguras. O fato de terem passado por idiotas, de terem sido enganados, ativou essa insegurança e eles ficam desesperados para consertar o dano.<br />
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Todo mundo é inseguro, e quase sempre a melhor maneira de se enganar um trouxa é jogando com suas inseguranças. Mas quando se trata de poder, tudo é uma questão de grau. E a pessoa decididamente mais insegura do que a média dos mortais representa um grande perigo. Cuidado: se você pratica algum tipo de fraude ou dissimulação, estude bem a sua vítima. A insegurança e a fragilidade do ego de algumas pessoas não suportam a mais leve ofensa. Para saber se está lidando com um desses tipos, teste-o primeiro — brinque de leve, digamos, às suas custas. A pessoa confiante achará graça; a excessivamente insegura reagirá como a um insulto pessoal. Se você desconfia de que está lidando com um tipo assim, procure outra vítima. Você nunca sabe ao certo com quem está lidando. O homem que hoje não é importante nem rico pode ser uma pessoa poderosa amanhã. Esquecemos de muitas coisas nas nossas vidas, mas raramente de um insulto.<br />
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Saber avaliar as pessoas e conhecer com quem você está lidando é o mais importante para conquistar e manter o poder. Sem essa habilidade você fica cego: não só ofenderá as pessoas erradas, como escolherá para trabalhar os tipos errados, e pensará que está elogiando as pessoas quando na verdade as está insultando. Antes de iniciar qualquer movimento, avalie a sua vítima ou adversário em potencial. Do contrário, estará desperdiçando o seu tempo e criando mal-entendidos. Estude as fraquezas das pessoas, as brechas nas suas armaduras, as suas áreas de orgulho e insegurança. Conheça as suas particularidades, antes de decidir se deve ou não fazer negócio com elas.<br />
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Mais duas palavras de alerta: primeiro, ao julgar e avaliar o seu adversário, não confie jamais nos seus instintos. Você cometerá o maior erro da sua vida se confiar em indicadores tão imprecisos. Nada pode substituir o conhecimento concreto. Estude e espione o seu adversário pelo tempo que for necessário; valerá a pena a longo prazo. Segundo, não confie nas aparências. Um coração de serpente pode se esconder sob um manto de aparente bondade; quem externamente faz muito escarcéu costuma ser na realidade um covarde. Aprenda a entender as aparências com suas contradições. Não confie na versão que as pessoas dão de si próprias — ela não é nada confiável.<br />
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Creia, não há pessoas tão insignificantes e desprezíveis, e elas podem, qualquer dia desses, ser úteis a você; o que elas certamente não serão se você já as tratou com desprezo. Injustiças se esquecem, desprezo, jamais. Nosso orgulho guarda essa lembrança para sempre. </i></blockquote>
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Lord Chesterfield, 1694-1773</div>
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O INVERSO<br />
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Que benefício pode haver em não conhecer os outros? Aprenda a diferenciar leões de cordeiros, ou arque com as conseqüências. Obedeça totalmente a esta lei, ela não tem inverso — nem se preocupe em procurar.<br />
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-45028699459853179892014-02-08T15:19:00.000-02:002014-02-08T15:19:00.046-02:00Lei 18 - Não construa fortalezas para se proteger - o isolamento é perigosoO mundo é perigoso e os inimigos estão por toda a parte – todos precisam se proteger. Uma fortaleza parece muito segura. Mas o isolamento expõe você a mais perigos do que o protege deles – você fica isolado de informações valiosas, transformase num alvo fácil e evidente. Melhor circular entre as pessoas, descobrir aliados, se misturar. A multidão serve de escudo contra os seus inimigos. Retire-se para uma fortaleza e você perde o contato com as fontes do seu poder. Você não ouve o que esta acontecendo ao seu redor, e perde o senso de limite. Em vez de ficar mais seguro, você se isola do conhecimento de que depende para viver. Não se distancie tanto das ruas a ponto de não escutar mais o que acontece por perto, inclusive o que estão tramando contra você.<br />
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Maquiavel argumenta que num sentido estritamente militar a fortaleza é sempre um erro. Ela se torna símbolo do isolamento do poder, e é um alvo fácil para os inimigos do seu construtor. Projetada para defender você, a fortaleza na verdade o isola de qualquer tipo de ajuda e tolhe a sua flexibilidade. Ela pode parecer inexpugnável, mas depois que você se enfiou lá dentro, todos sabem onde você está; e não é preciso ter êxito num cerco para transformar a sua fortaleza numa prisão. Com seus espaços pequenos e confinados, as fortalezas são extremamente vulneráveis à peste e a doenças contagiosas.<br />
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Do ponto de vista estratégico, o isolamento de uma fortaleza não oferece proteção, e cria mais problemas do que soluções. Como os seres humanos são criaturas sociais por natureza, o poder depende da interação social e da circulação. Para se tornar poderoso, você deve se colocar no centro das coisas, como fez Luís XIV em Versalhes.<br />
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Toda atividade deve girar em torno de você, e você deve estar atento a tudo que acontece na rua, e a qualquer pessoa que possa estar armando planos contra você. Para a maioria das pessoas, o perigo surge quando elas se sentem ameaçadas. Nessas ocasiões elas tendem a se retrair e cerrar fileiras, buscar a segurança em algum tipo de fortaleza. Ao fazer isso, entretanto, elas passam a depender das informações de um círculo cada vez menor, e perdem a perspectiva do que ocorre ao redor. Elas perdem a capacidade de manobra e se tornam alvos fáceis, e o isolamento as torna paranoicas. Como na guerra e na maioria dos jogos estratégicos, o isolamento quase sempre precede a derrota e a morte.<br />
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Nos momentos de incerteza e perigo, você precisa lutar contra este desejo de se voltar para dentro. Em vez disso, torne-se mais acessível, busque antigos e novos aliados, force a sua entrada em círculos mais numerosos e diferentes. Este tem sido o truque das pessoas poderosas por séculos.<br />
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O estadista romano Cícero era da nobreza inferior e tinha poucas chances de poder a não ser que conseguisse abrir espaço entre os aristocratas que controlavam a cidade. Ele fez isso com brilhantismo, identificando todas as pessoas influentes e descobrindo as conexões entre elas. Ele se misturava por toda parte, conhecia todo mundo, e tinha uma rede de conexões tão vasta que um inimigo aqui poderia facilmente ser contrabalançado por um aliado ali.<br />
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O estadista francês Talleyrand fazia o mesmo jogo. Embora viesse de uma das famílias aristocráticas mais antigas da França, ele fazia questão de manter contato com o que estava acontecendo nas ruas de Paris, o que lhe permitia prever tendências e problemas. Ele sentia até um certo prazer em se misturar com tipos criminosos de má fama, que lhe forneciam informações valiosas. Sempre que havia uma crise, uma transição de poder — o fim do Diretório, a queda de Napoleão, a abdicação de Luís XVIII—, ele conseguia sobreviver e até prosperar, porque jamais se fechou num círculo pequeno, associando-se sempre com a nova ordem.<br />
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Esta lei é para reis e rainhas, e para quem está nos níveis máximos do poder: assim que você perde contato com o seu povo, buscando a segurança no isolamento, a rebelião começa a fermentar. Não pense jamais estar num cargo tão elevado a ponto de se permitir o luxo de se afastar até mesmo do escalão mais baixo. Retirando-se para uma fortaleza, você se torna alvo fácil dos seus súditos conspiradores, que vêem o seu isolamento como um insulto e motivo para rebelião.<br />
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Como os seres humanos são criaturas muito sociais, segue-se daí que as artes sociais que nos tornam companhias agradáveis só podem ser praticadas pela constante exposição e circulação. Quanto mais você está em contato com os outros, mais gracioso e à vontade você se toma. O isolamento, por sua vez, gera uma estranheza nos seus gestos que leva a um isolamento ainda maior, quando as pessoas passam a evitar você. Em 1545, o duque Cosimo 1 de Medici resolveu, para garantir a imortalidade do seu nome, encomendar alguns afrescos para a capela principal da igreja de San Lorenzo, em Florença. Ele podia escolher entre vários bons pintores, e acabou ficando com Jacopo da Pontormo. Já com uma certa idade, Pontormo quis fazer destes afrescos a sua obra-prima e herança para a humanidade. Sua primeira decisão foi fechar a capela com paredes, divisórias e cortinas. Não queria que ninguém testemunhasse a criação da sua obra-prima, ou roubasse as suas idéias. Ele superaria o próprio Michelangelo. Quando alguns rapazes curiosos forçaram a entrada na capela, Jacopo a trancou ainda mais.<br />
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Pontormo encheu o teto da capela com cenas bíblicas — a Criação, Adão e Eva, a arca de Noé, e outras. No alto da parede central ele pintou Cristo em toda sua majestade, ressuscitando os mortos no Dia do Juízo Final. O artista trabalhou na capela durante onze anos, raramente saindo de lá, visto que desenvolvera uma fobia pelo contato humano e temia que roubassem suas idéias.<br />
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Pontormo morreu antes de completar os afrescos, e nenhum deles sobreviveu. Mas o grande escritor renascentista, Vasari, amigo de Pontormo que os viu logo depois da morte do artista, deixou registrado o que ele achou. A falta de proporção era total. As cenas esbarravam umas nas outras, figuras de histórias diferentes se justapunham, numa quantidade enlouquecedora. Pontormo ficara obcecado com os detalhes, mas perdera o sentido da composição em geral. Vasari interrompeu a descrição dos afrescos dizendo que, se continuasse, “Acho que enlouqueceria e ficaria tão enredado nesta pintura, assim como acredito que nos onze anos que Jacopo passou pintando, ele se confundiu e a todos que a viram”. Em vez de coroar a carreira de Pontormo, a obra foi a sua ruína.<br />
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Estes afrescos foram o equivalente visual dos efeitos do isolamento sobre a mente humana: uma perda de proporção, uma obsessão por detalhes, combinada com uma incapacidade de ver o quadro geral, um tipo de feiúra extravagante que não comunica mais nada. Nitidamente, o isolamento é tão mortal para as artes criativas quanto para as artes sociais. Shakespeare é o escritor mais famoso da história da literatura porque, como dramaturgo dos palcos populares, ele se abriu para as massas, tornando as suas obras acessíveis a todos, independente de gosto e educação. Os artistas que se enfiam em suas fortalezas perdem as medidas, suas obras comunicam apenas ao seu pequeno círculo de conhecidos. Esse tipo de arte permanece encurralada e impotente.<br />
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Por fim, como o poder é uma criação humana, ele aumenta inevitavelmente em contato com outras pessoas. Em vez de ceder à mentalidade da fortaleza, veja o mundo da seguinte maneira: ele é um imenso Versalhes, cada quarto se comunicando com o outro. Você precisa ser permeável, capaz de entrar e sair de círculos diferentes e misturar-se com diferentes tipos de pessoas. É essa mobilidade e contato social que o protegerão de conspiradores, que não conseguirão esconder de você os seus segredos, e de inimigos, que não conseguirão isolar você dos seus aliados. Sempre mudando, você se mistura nos quartos do palácio, sem se sentar ou descansar num único lugar. Não há caçador capaz de acertar a mira sobre uma criatura tão ligeira.<br />
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Um príncipe bom e sábio, desejoso de manter esse caráter e impedir que seus filhos tenham oportunidade de se tornar tirânicos, não construirá fortalezas, para que eles possam confiar na boa vontade de seus súditos e não na força de cidadelas.</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Nicolau Maquiavel, 1469-1527</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<i>O isolamento é um perigo para a razão, sem favorecer a virtude... Lembre-se de que o mortal solitário é certamente lascivo, provavelmente supersticioso e possivelmente louco.</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Dr. Samuel Johnson, 1709-1784</div>
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O INVERSO<br />
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Nem sempre é certo e propício escolher o isolamento. Sem escutar o que acontece lá fora, você não pode se proteger. O contato humano constante só não facilita o pensamento. A constante pressão da sociedade para que tudo esteja de acordo, e a falta de um distanciamento das outras pessoas, torna impossível pensar com clareza sobre o que está acontecendo ao seu redor. Como um recurso temporário, portanto, o isolamento ajuda você a ver melhor as coisas. Muitos pensadores sérios foram produzidos nas prisões, onde a única coisa que se tem para fazer é pensar. Maquiavel só pôde escrever O príncipe porque estava exilado e sozinho no campo, longe das intrigas políticas de Florença.<br />
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O perigo, entretanto, é que esse isolamento gere idéias estranhas e pervertidas. Você pode ter uma perspectiva geral melhor, mas perde a noção da sua própria pequenez e limitações. Também, quanto mais isolado você estiver, mais difícil será sair do seu isolamento quando quiser — sem perceber, você caiu num poço de areia movediça. Mas se você precisa de tempo para pensar, só escolha o isolamento como último recurso, e apenas em pequenas doses. Preste atenção para deixar aberto o caminho de volta à sociedade.<br />
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-15475621324274052312014-02-04T15:16:00.000-02:002014-02-04T15:16:00.075-02:00Lei 17 - Mantenha os outros em um estado latente de terror: Cultive uma atmosfera de imprevisibilidadeOs homens são criaturas de hábitos com uma necessidade insaciável de ver familiaridade nos atos alheios. A sua previsibilidade lhes dá um senso de controle. Vire a mesa: seja deliberadamente imprevisível. O comportamento que parece incoerente ou absurdo os manterá desorientados, e eles vão ficar exaustos tentando explicar seus movimentos. Levada ao extremo, esta estratégia pode intimidar e aterrorizar. O xadrez contém a essência da vida: primeiro, porque para vencer você tem que ser extremamente paciente e previdente; segundo, porque o jogo se baseia em padrões, sequências inteiras de movimentos que já foram feitos antes e continuarão sendo feitos, com ligeiras alterações, em qualquer jogo.<br />
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O adversário analisa os padrões que você está usando e os aproveita para tentar prever os seus movimentos. Não lhe dando nada de previsível em que basear a sua estratégia, você consegue uma grande vantagem. No xadrez, como na vida, quando não conseguem imaginar o que você está fazendo, as pessoas ficam em estado de terror — aguardando, incertas, confusas.<br />
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Nada é mais aterrorizante do que o repentino e imprevisível. Por isso tememos tanto os terremotos e tornados: não sabemos quando eles vão acontecer. Depois do primeiro, esperamos aterrorizados o segundo. Em grau menor, é assim que o comportamento humano imprevisível atua sobre nós.<br />
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Os animais têm um padrão fixo de comportamento, por isso é possível caçá-los e matá-los. Só o homem tem a capacidade de alterar conscientemente o seu comportamento, de improvisar e se livrar do peso da rotina e do hábito. Mas a maioria dos homens não percebe esse poder. Preferem o conforto da rotina, da natureza animal que os faz repetir sempre as mesmas ações, compulsivamente várias vezes. Agem assim pela lei do menor esforço, e porque se enganam achando que se não perturbarem ninguém, ninguém o perturbará. Compreenda: a pessoa com poder infunde um certo medo ao perturbar deliberadamente as pessoas a sua volta mantendo a iniciativa do seu lado. Às vezes você precisa atacar de repente, deixar os outros tremendo quando menos esperam por isso. E um artifício usado pelos poderosos há séculos. Filippo Maria, o último dos duques Visconti de Milão, na Itália do século XV, fazia conscientemente o contrário do que se esperava dele. Por exemplo, às vezes ele enchia de atenções um cortesão, e aí, quando o homem já estava começando a achar que ia ser promovido, de um momento para o outro ele passava a tratá-lo com o maior desprezo. Confuso, o homem deixava a corte, mas o duque de repente se lembrava dele e voltava a tratá-lo bem.<br />
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A imprevisibilidade é com freqüência a tática do mestre, mas o pobre-diabo também pode usá-la com grande eficácia. Se você estiver em minoria ou encurralado, faça uma série de movimentos imprevisíveis. Seus inimigos ficarão tão confusos que se retrairão ou cometerão um erro tático.<br />
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Na primavera de 1862, durante a Guerra Civil americana, o general Stonewall Jackson, com um exército de 4.600 soldados confederados, estava atormentando os exércitos maiores da União no vale Shenandoah. Enquanto isso, não muito longe dali, o general George Brinton McClellan, chefiando um exército de 90 mil soldados da União, saía de Washington marchando para o sul a fim de cercar Richmond, na Virgínia, a capital confederada. Durante aquela campanha, Jackson várias vezes saiu com seus soldados do vale Shenandoah e depois voltou.<br />
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Seus movimentos não faziam sentido. Estaria ele se preparando para ajudar a defender Richmond? Estaria marchando sobre Washington, agora que a ausência de McClellan a deixara desprotegida? Dirigia-se para o norte para arrasar tudo por lá? Por que o seu pequeno exército se movia em círculos?<br />
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Os movimentos inexplicáveis de Jackson fizeram os generais da União retardarem a marcha sobre Richmond, enquanto aguardavam para descobrir o que ele estava tramando. Nesse meio tempo, o Sul conseguiu enviar reforços para a cidade. Uma batalha que poderia ter esmagado a Confederação se transformou num empate. Jackson usou esta tática repetidas vezes ao enfrentar forças numericamente superiores.<br />
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“Desoriente, confunda e surpreenda o inimigo sempre, se possível”, dizia ele, “... essas táticas vencerão sempre e um pequeno exército será capaz, portanto, de destruir outro maior.”<br />
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Esta lei se aplica não só à guerra, mas às situações do cotidiano. Os outros estão sempre tentando entender o motivo das suas ações e usar a sua previsibilidade contra você. Faça um movimento totalmente imprevisível e os colocará na defensiva. Sem entender nada, eles ficam aflitos e, nesse estado, é fácil intimidá-los. Pablo Picasso disse certa vez, “O melhor cálculo é a ausência de cálculo. Quando você alcança um certo grau de reconhecimento, os outros em geral imaginam que se você faz alguma coisa, deve ser por um motivo inteligente. Portanto, é tolice planejar com muito cuidado e antecedência os seus movimentos. É melhor agir caprichosamente”.<br />
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Durante uns tempos, Picasso trabalhou com o marchand Paul Rosenberg. Deixava-o livre para vender seus quadros, mas um dia, sem nenhum motivo aparente, ele disse ao sujeito que não lhe daria mais nenhuma obra para vender. Segundo Picasso, “Rosenberg ficou quarenta e oito horas tentando imaginar por quê. Eu estaria reservando peças para um outro marchand? Eu continuava trabalhando e dormindo, e Rosenberg imaginando. Dois dias depois ele voltou, nervoso, ansioso, dizendo, ‘Afinal de contas, caro amigo, você não me abandonaria se eu lhe oferecesse tudo isso, dizendo uma quantia substancialmente maior, por esses quadros em vez do preço que estou acostumado a pagar, não é mesmo?”’<br />
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A imprevisibilidade não é apenas um instrumento de terror: embaralhando os seus padrões diariamente, você agita as coisas e estimula o interesse. As pessoas falarão de você, atribuirão motivos e darão explicações que nada têm a ver com a verdade, mas estarão sempre pensando em você. No final, quanto mais caprichoso você parecer, mais respeito conquistará. Só os extremamente subordinados agem de maneira previsível.<br />
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O governante esclarecido é tão misterioso que parece não ter morada, é tão inexplicável que não se sabe onde buscá-lo. Ele repousa na inação lá em cima, e seus ministros tremem cá em baixo. Han-fei-tzu, filósofo chinês, século 3 a.C.<br />
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<blockquote class="tr_bq">
<i>A vida na corte é um jogo de xadrez sério e melancólico, onde temos que colocar em formação nossas armas e batedores, criar um plano, persegui-lo e nos defender do plano do nosso adversário. Às vezes, entretanto, é melhor arriscar e fazer a jogada mais caprichosa e imprevisível.</i></blockquote>
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Jean de La Brugêre, 1645-1696</div>
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O INVERSO<br />
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Às vezes, a previsibilidade funciona a seu favor: criando um padrão com o qual as pessoas se sintam à vontade, você as deixa anestesiadas. Elas armam tudo de acordo com o que sabem sobre você. Essa tática pode ser útil de várias maneiras: primeiro, é uma cortina de fumaça, uma fachada confortável por trás da qual você poderá enganar os outros. Segundo, permite que você em raras ocasiões faça algo totalmente contrário ao padrão, perturbando de tal forma o adversário que ele desmonta sozinho.<br />
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Em 1974, Muhammad Ali e George Foreman estavam prestes a se enfrentar numa luta do campeonato mundial de boxe de pesos pesados. Todos sabiam o que ia acontecer: o grandalhão George Foreman tentaria acertar um nocaute enquanto Ali dançaria ao seu redor, até ele ficar exausto. Era assim que Ali lutava, esse era o seu padrão, e há dez anos ele fazia a mesma coisa. Mas neste caso isso parecia dar a Foreman uma vantagem: ele tinha um soco devastador e, se esperasse, mais cedo ou mais tarde Ali teria de se aproximar. Ali, mestre estrategista, tinha outros planos: nas entrevistas coletivas antes da grande luta, ele disse que ia mudar de estilo e socar Foreman. Ninguém, muito menos Foreman, acreditou. O plano era um suicídio; Ali estava brincando, como de costume. Mas aí, antes da luta, o treinador de Ali afrouxou as cordas do rinque, como é hábito fazer quando um boxeador pretende ser muito agressivo. Ninguém, entretanto, acreditou na manobra; só podia ser uma armação. Para espanto de todos, Ali fez exatamente o que tinha dito. Enquanto Foreman esperava que ele começasse a dançar ao seu redor, Ali partiu direto para cima dele e lhe deu um soco. E perturbou totalmente a estratégia do adversário. Confuso, Foreman acabou exausto, não corria atrás de Ali mas disparava socos feito um desvairado, recebendo outros tantos de volta. Finalmente, Ali acertou um cruzado de direita drástico que nocauteou Foreman.<br />
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O hábito de supor que o comportamento de uma pessoa se ajustará sempre aos seus padrões anteriores é tão arraigado que nem mesmo Ali, anunciando uma mudança de estratégia, conseguiu alterar isso. Foreman caiu numa armadilha — a armadilha sobre a qual tinham lhe avisado.<br />
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Atenção: a imprevisibilidade às vezes é um tiro que sai pela culatra, especialmente se você estiver numa posição inferior. Há ocasiões em que é melhor deixar as pessoas ao seu redor se sentindo à vontade e tranqüilas. O excesso de imprevisibilidade é visto como sinal de indecisão, ou até de algum problema psíquico mais grave. Os padrões têm um poder muito grande, e se você os quebra pode deixar as pessoas assustadíssimas. Deve se ter bom senso ao usar esse poder.<br />
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-70719703509673896592014-02-01T15:10:00.000-02:002014-02-01T15:10:00.198-02:00Lei 16 - Use a ausência para alimentar o respeito e a honraCirculação em excesso faz os preços caírem: quanto mais você é visto e escutado, mais comum vai parecer. Se você já se estabeleceu em um grupo, afastando-se temporariamente se tornará uma figura mais comentada, até mais admirada. Você deve saber quando se afastar. Crie um valor com a escassez.<br />
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O que se retrai, o que se torna escasso, de repente parece merecer o nosso respeito e estima. O que permanece tempo demais, saturando-nos com sua presença, desperta o nosso desprezo. Na Idade Média, as senhoras exigiam constantemente de seus cavaleiros provas de amor, enviando-os para longas e árduas buscas — tudo para criar uma oscilação entre ausências e presenças.<br />
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Tudo no mundo depende de ausências e presenças. Uma forte presença atrai o poder e as atenções para você — você brilha mais do que as pessoas ao seu redor. Mas tem um ponto, inevitavelmente, em que a presença em demasia cria o efeito contrário: quanto mais você é visto e ouvido, mais o seu valor diminui. Você se torna um hábito. Não importa o quanto você tente ser diferente, sutil, sem você saber por que as pessoas começam a respeitá-lo cada vez menos. E preciso aprender a se retirar no momento certo, antes que elas inconscientemente o forcem a isso. E um jogo de pique-esconde. A verdade dessa lei pode ser comprovada facilmente quando se trata de amor e sedução. No início, a ausência da pessoa amada estimula a sua imaginação, envolvendo, a ele ou a ela, numa espécie de aura. Mas esta aura desaparece quando você sabe demais — quando a sua imaginação não tem mais espaço para divagar. O ser amado se torna uma pessoa como outra qualquer, alguém cuja presença não desperta mais tanto interesse. E por isso que a cortesã francesa do século XVII aconselhava fingir sempre está se afastando da pessoa amada. “O amor não morre de inanição”, ela escreveu, “mas com freqüência, sim, de indigestão.”<br />
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Quando você se permite ser tratado como uma pessoa qualquer, já é tarde demais — já foi engolido e digerido. Para que isso não aconteça, você tem de deixar que o outro anseie pela sua presença. Imponha respeito ameaçando-o com a possibilidade de perdê-lo para sempre; crie um padrão de presenças e ausências. Depois de morto, tudo relacionado com você muda. Você fica imediatamente envolto numa aura de respeitabilidade. As pessoas se lembram das críticas que lhe fizeram, das discussões que vocês tiveram, e ficam cheias de arrependimento e culpa. Elas sentem falta de uma presença que não voltará mais. Mas você não precisa esperar até morrer: afastando-se totalmente por uns tempos, você cria uma espécie de morte anterior à morte. E, quando voltar, será como se estivesse voltado do outro mundo — um clima de ressurreição ficará associado a você, e as pessoas se sentirão aliviadas com a sua volta.<br />
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Outro aspecto mais corriqueiro desta lei, mas que demonstra ainda melhor a sua verdade, é a lei da escassez na economia. Retirando um produto do mercado, você cria instantaneamente um valor.<br />
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Ajuste a lei da escassez às suas próprias habilidades. Torne raro e difícil de encontrar aquilo que você oferece ao mundo, e estará na mesma hora aumentando o seu valor.<br />
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Sempre chega a hora em que aqueles que estão no poder abusam da nossa hospitalidade. Ficamos cansados deles, perdemos o respeito; passamos a vê-los como iguais ao resto da humanidade, o que significa dizer que os vemos como piores, pois inevitavelmente comparamos o que vemos agora com o que víamos antes. E uma arte saber quando se retirar. Praticando-a corretamente, recupera-se o respeito perdido e se conserva uma parte do seu poder.<br />
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Torne-se disponível demais e a aura de poder que você construiu a sua volta desaparecerá. Vire o jogo: Torne-se menos acessível e aumentará o valor da sua presença.<br />
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O INVERSO<br />
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Esta lei só se aplica depois que já se alcançou um certo nível de poder. A necessidade de se retirar de cena só aparece depois que você estabeleceu a sua presença; afaste-se cedo demais, e você não será mais respeitado, será simplesmente esquecido. Quando você estiver começando a atuar no palco do mundo, crie uma imagem que possa ser reconhecida, reproduzida e vista por toda a parte. Enquanto você não alcançar este status, a ausência é perigosa — em vez de atiçar as chamas, ela as extinguirá.<br />
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No amor e na sedução, similarmente, a ausência só é eficaz se você tiver envolvido o outro com a sua própria imagem, se ele, ou ela, já o estiver vendo por toda a parte. Tudo deve lembrar ao seu amor da sua presença, de tal forma que, se você resolver se afastar, ele estará sempre pensando em você, sempre vendo você mentalmente. Lembre-se: no início, não desapareça, seja onipresente. Só o que é visto, apreciado e amado deixará saudades na sua ausência.<br />
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Use a ausência para criar respeito e estima. Se a presença diminui a fama, a ausência a faz crescer. O homem que quando ausente é considerado um leão torna-se, quando presente, comum e ridículo. Os talentos perdem o brilho quando nos acostumamos a eles, pois o revestimento exterior da mente é visto com mais facilidade do que o seu núcleo interior mais rico. Até mesmo o grande gênio se retrai para que os homens o respeitem e para que o desejo despertado por sua ausência o faça estimado.</i></blockquote>
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Baltasar Gracián, 1601-1658</div>
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000</div>
Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-92029446109257469292014-01-28T15:37:00.000-02:002014-01-28T15:37:00.107-02:00Lei 15 - Aniquile totalmente o inimigoTodos os grandes líderes sabem que o inimigo perigoso deve ser esmagado totalmente. Se restar uma só brasa, por menor que seja, acabará se transformando em fogueira. Perde-se mais fazendo concessões do que pela total aniquilação: o inimigo se recuperará, e se vingará. Esmague-o, física e espiritualmente.<br />
<br />
A ideia é simples: Seus inimigos não gostam de você. O que eles mais querem é acabar com você. Se ao combatê-los você parar no meio do caminho, ou mesmo depois de percorrer três quartos do caminho, por misericórdia ou esperança de reconciliação, você só os tornará mais determinados, mais amargurados, e um dia eles se vingarão. Eles podem agir cordialmente por uns tempos, mas isso só porque você os derrotou. Eles não têm outra escolha a não ser aguardar.<br />
<br />
A solução: Não ter misericórdia. Esmagá-los totalmente, como eles o esmagariam. A única paz e segurança que você pode esperar dos seus inimigos é quando eles desaparecem. O princípio por trás de “esmagar o inimigo” é tão antigo quanto a Bíblia: o primeiro a colocá-lo em prática foi Moisés, que a aprendeu com o próprio Deus, que abriu o mar Vermelho para os judeus e depois deixou que as águas fluíssem novamente afogando os egípcios que vinham logo atrás, de forma a “não sobrar nem um só deles”. Moisés, quando desceu do Monte Sinai com os Dez Mandamentos e viu seu povo adorando o Bezerro de Ouro, mandou matar todos os pecadores. E pouco antes de morrer, ele contou ao seu povo, finalmente prestes a entrar na Terra Prometida, que ao derrotarem as tribos de Canaã deveriam tê-las “destruído totalmente... sem aliança e nem misericórdia”.<br />
<br />
A vitória total como meta é um dos axiomas da guerra moderna, e foi codificada como tal por Carl von Clausewitz, o ministro filósofo da guerra. Analisando as campanhas de Napoleão, von Clausewitz escreveu, “Nós sustentamos que a aniquilação total das forças inimigas deva sempre ser a idéia predominante (...) Uma vez obtida uma grande vitória não se pode falar em descansar, em respirar (...) mas apenas de perseguir, de ir atrás do inimigo novamente, conquistar a sua capital, atacar suas reservas e tudo mais que possa dar ao seu país ajuda e conforto”. Isso porque depois da guerra vêm as negociações e a divisão de território. Se você teve apenas uma vitória parcial, vai inevitavelmente perder nas negociações o que lucrou com a guerra.<br />
<br />
A solução é simples: não dê opção aos seus inimigos. Aniquile-os e você é quem vai trinchar o território deles. O objetivo do poder é controlar seus inimigos totalmente, fazê-los sujeitar-se ao que você deseja. Você não pode se dar ao luxo de fazer concessões. Sem outra opção, eles serão forçados a fazer o que você manda. Esta lei não se aplica apenas ao campo de batalha. Negociações são como uma víbora insidiosa que corrói a sua vitória, portanto não negocie nada com o inimigo, não lhe dê nenhuma esperança, nenhum espaço de manobra. Eles estão esmagados e ponto final.<br />
<br />
Entenda isto: na sua luta pelo poder você vai despertar rivalidades e criar inimigos. Haverá pessoas que você não conseguirá convencer, que permanecerão suas inimigas não importa o que aconteça. Mas seja qual a dor que você lhes causar, deliberadamente ou não, não leve o ódio delas para o lado pessoal. Reconheça apenas que não há possibilidade de paz entre vocês dois, principalmente se você continuar no poder. Se você deixar que elas fiquem por perto, elas vão procurar se vingar, com tanta certeza quanto depois do dia vem a noite. Esperar que elas mostrem suas cartas é tolice.<br />
<br />
Seja realista: com um inimigo assim por perto, você jamais terá segurança. Aprenda com os exemplos da história, e com a sabedoria de Moisés: não faça concessões. Não é uma questão de morte, é claro, mas de exílio. Suficientemente enfraquecidos e depois banidos para sempre da sua corte, seus inimigos se tornam inofensivos. Não têm mais esperanças de se recuperar, de vir se insinuando e ferir Você. E se for impossível bani-los, pelo menos saiba que eles estão tramando contra você, e não dê atenção aos seus gestos fingidos de amizade. A sua única arma numa situação dessa é a sua própria cautela. Se não puder bani-los imediatamente, então planeje o melhor momento para agir.<br />
<br />
O INVERSO<br />
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Raramente se deve ignorar esta lei, mas acontece que às vezes é melhor deixar que os seus inimigos se destruam, se isso for possível, do que fazê-los sofrer nas suas mãos. Na guerra, por exemplo, um bom general sabe que atacando um exército encurralado seus soldados lutarão com muito mais entusiasmo. Por isso, às vezes é melhor lhes deixar uma saída de emergência, uma escapatória. Recuando eles se desgastam, e a retirada os deixa mais desmoralizados do que qualquer derrota nas mãos desse general no campo de batalha. Se você tem alguém com a corda no pescoço, então — mas só se você tiver certeza de não haver chances de recuperação — é melhor deixar que ele se enforque. Que ele mesmo seja o agente da sua própria destruição. O resultado será o mesmo, e você não se sentirá tão mal.<br />
<br />
Finalmente, ao esmagar um inimigo às vezes você o irrita tanto que ele passa anos a fio tramando uma vingança. O Tratado de Versalhes teve esse efeito sobre os alemães. Há quem diga que a longo prazo é melhor mostrar uma certa demência. O problema é que a sua demência implica um outro risco — ela pode encorajar o inimigo, que ainda guarda rancor, mas agora tem mais espaço para agir. Quase sempre é mais sensato esmagar o inimigo. Se anos depois ele quiser se vingar, não baixe a guarda, simplesmente esmague-o de novo.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Pois é preciso notar que os homens devem ser afagados ou então aniquilados; eles se vingarão de pequenas ofensas, mas não poderão fazer o mesmo nas grandes ofensas; quando ofendemos um homem, portanto, devemos fazê-lo de modo a não ter de temer a sua vingança. </i></blockquote>
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Nicolau Maquiavel, 1469-1527</div>
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-35220918383721521182014-01-25T15:34:00.000-02:002014-01-25T15:34:00.160-02:00Lei 14 - Banque o amigo, aja como espiãoConhecer seu rival é importantíssimo. Use espiões para colher informações preciosas que o colocarão um passo à frente. Melhor ainda: represente você mesmo o papel de espião. Em encontros sociais aprenda a sondar. Faça perguntas indiretas para conseguir que as pessoas revelem seus pontos fracos e intenções. Todas as ocasiões são oportunidades para uma ardilosa espionagem.<br />
<br />
Assim é o poder da espionagem bem-feita: faz você parecer onipotente, clarividente. O conhecimento que você tem da sua vítima pode também fazer você parecer encantador, capaz de prever tão bem os seus desejos. Ninguém vê a fonte do seu poder, e o que não se pode ver não se pode combater.<br />
<br />
Na esfera do poder, o seu objetivo é um certo grau de controle sobre acontecimentos futuros. Parte do seu problema, portanto, é que as pessoas não lhe dirão tudo que pensam, sentem e planejam. Controlando o que dizem, elas quase sempre mantêm ocultas as partes mais críticas da sua personalidade — suas fraquezas, seus motivos secretos, suas obsessões. O resultado é que não se pode prever seus movimentos, e fica-se constantemente no escuro. O truque é achar um meio de sondá-las, descobrir seus segredos e intenções ocultas, sem deixar que saibam o que você está pretendendo fazer.<br />
<br />
Não é assim tão difícil como você pensa. Uma fachada cordial permitirá que você colha informações sigilosas de amigos e inimigos igualmente. Deixe que os outros consultem o horóscopo, ou as cartas do tarô: você tem meios mais concretos de ver o futuro. A maneira mais comum de espionar é usando outras pessoas. O método é simples, eficaz, mas arriscado: você certamente obtém informações. mas tem pouco controle sobre as pessoas que estão fazendo o trabalho. Talvez por inépcia elas revelem a sua espionagem, ou até secretamente se voltem contra você. É muito melhor ser você mesmo o espião, posar de amigo enquanto sigilosamente colhe informações.<br />
<br />
Nas reuniões sociais e encontros inocentes, preste atenção. É quando as pessoas baixam a guarda. Abafando a sua própria personalidade, você pode fazê-las revelar coisas. A vantagem da manobra é que elas confundirão o seu interesse com amizade, e você não só fica sabendo das coisas como conquista aliados.<br />
<br />
Não obstante, você deve praticar esta tática com prudência. Se as pessoas começarem a desconfiar de que você está extraindo delas segredos sob o disfarce de uma conversa, elas o evitarão terminantemente. Dê ênfase ao bate-papo amigo, não às informações preciosas. Sua busca de preciosidades não pode ser óbvia demais, ou suas sondagens revelarão mais sobre você mesmo e as suas intenções do que sobre o que você quer saber.<br />
<br />
Um truque para tentar a espionagem nos é dado por La Rochefoucauld, que escreveu, “Encontra-se a sinceridade em pouquíssimos homens, e com freqüência ela é a mais esperta das artimanhas — se é sincero para atrair a confiança e obter os segredos do outro”. Fingindo abrir o seu coração, você, em outras palavras, faz com que a outra pessoa se incline a revelar os seus próprios segredos. Faça-lhe uma confissão falsa e ela lhe fará uma verdadeira. Outro truque foi identificado pelo filósofo Arthur Schopenhauer, que sugeria veementemente contradizer a pessoa com quem você está conversando para irritá-la, até ela perder o controle do que está dizendo. Reagindo com a emoção, ela revelará toda a verdade sobre si mesma, verdade que você depois poderá usar contra ela.<br />
<br />
Outro método indireto de espionagem é testar as pessoas, armar pequenas armadilhas que as farão revelar coisas sobre si mesmas. Ao tentar fazer com que as pessoas cometam determinados atos, você fica sabendo sobre a sua lealdade, honestidade e outras coisas mais. E este tipo de conhecimento quase sempre é o<br />
mais valioso de todos: com essa arma, você pode prever como as pessoas agirão no futuro.<br />
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O INVERSO<br />
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A informação é fundamental para o poder, mas, assim como você espiona os outros, deve se preparar para também ser espionado. Uma das armas mais eficazes na luta pelas informações, portanto, é divulgar informações falsas. Como disse Winston Churchill, “A verdade é tão preciosa que deveria estar sempre escoltada por mentiras”. Você deve se cercar desses guarda-costas para proteger a sua verdade.<br />
<br />
Divulgando as informações que você mesmo escolhe, o jogo está nas suas mãos.Divulgando informações falsas, portanto, você ganha uma enorme vantagem. Enquanto a espionagem dá a você um terceiro olho, a desinformação deixa o inimigo cego de um olho. Um ciclope, ele erra sempre o alvo.<br />
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Ora, o que faz um soberano brilhante e um sábio general conquistarem sempre o inimigo, e suas realizações superarem as dos homens comuns, é a presciência da situação do inimigo. Essa “presciência” não vem dos espíritos, nem dos deuses, nem de uma analogia com acontecimentos passados, nem de cálculos astrológicos. Deve ser obtida de homens que conhecem a situação do inimigo — dos espiões.</i></blockquote>
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Sun Tzu, A arte da guerra, século 4 a.C.</div>
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-74929663032868592052014-01-21T15:31:00.000-02:002014-02-03T20:14:06.052-02:00Lei 13 - Ao pedir ajuda, apele para o egoísmo das pessoas, jamais para a sua misericórdia ou gratidãoSe precisar pedir ajuda a um aliado, não se preocupe em lembrar a ele a sua existência e boas ações no passado. Ele encontrará um meio de ignorar você. Em vez disso, revele algo na sua solicitação, ou na sua aliança que o beneficiará, e exagere na ênfase. Ele reagirá entusiasmado se vir que pode lucrar alguma coisa com isso.<br />
<br />
Na sua busca de poder, você vai se encontrar constantemente na posição de ter que pedir ajuda aos mais poderosos. Pedir ajuda é uma arte, que depende da sua capacidade para compreender a pessoa com quem está lidando, e não confundir o que você precisa com as necessidades dela.<br />
<br />
As pessoas, na sua maioria, não conseguem isso, porque estão totalmente presas aos seus próprios desejos e necessidades. Elas começam supondo que as pessoas com quem estão lidando têm um interesse altruísta em ajudá-las. Falam como se as suas necessidades tivessem alguma importância para estas pessoas — que provavelmente não estão dando a mínima. Às vezes elas se referem a questões maiores: uma grande causa, ou emoções grandiosas como amor e gratidão. Preferem o quadro geral, quando as simples realidades cotidianas seriam muito mais atraentes. O que elas não percebem é que até a pessoa mais poderosa está presa ao seu próprio conjunto de necessidades, e que se você não acenar para o seu egoísmo ela simplesmente o verá como alguém desesperado ou, na melhor das hipóteses, uma perda de tempo.<br />
<br />
Cada pessoa com quem você lida é como se fosse uma outra cultura, uma terra estranha com um passado que nada tem a ver com o seu. No entanto é possível desfazer as diferenças entre dois apelando para o egoísmo do outro. Não seja sutil: você tem um conhecimento valioso para dividir, você vai encher os cofres dele de ouro, você tornará a sua vida mais longa e feliz. Esta é uma linguagem que todos nós falamos e compreendemos.<br />
<br />
Um passo essencial nesse processo é compreender a psicologia do outro. Ele é vaidoso? Está preocupado com a sua reputação ou posição social’? Tem inimigos que você poderia ajudar a vencer? A sua motivação é apenas o dinheiro e o poder’? O egoísmo é a alavanca que move as pessoas. Se conseguir que elas vejam que você pode, de alguma forma, satisfazer as suas necessidades ou favorecer a sua causa, a resistência aos seus pedidos de ajuda desaparece como que por um passe de mágica. A cada etapa no caminho da conquista do poder, você deve procurar sempre ver o que passa pela cabeça da outra pessoa, quais são as necessidades e interesses dela, para afastar a cortina dos seus próprios sentimentos que obscurecem a verdade. Domine esta arte e não haverá limites para você.<br />
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O INVERSO<br />
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Há pessoas que consideram o apelo ao seu egoísmo como uma atitude feia e ignóbil. Elas na verdade preferem poder exercitar a caridade, a misericórdia e a justiça, que é a sua maneira de se sentirem superiores a você: quando você lhes implora ajuda, está enfatizando o poder e a posição delas. Elas são fortes o bastante para não precisarem nada de você, exceto a chance de se sentirem superiores. É este o vinho que as embriaga. Estão morrendo de vontade de patrocinar o seu projeto, apresentar você a pessoas poderosas — desde, é claro, que tudo isto seja feito em público, e por uma boa causa (em geral, quanto mais público melhor). Nem todos, portanto, podem ser abordados usando o egoísmo cínico. Algumas pessoas ficarão desconcertadas, porque não querem parecer motivadas por essas coisas. Elas querem uma oportunidade para exibir o seu bom coração.<br />
<br />
Não seja tímido. Dê a elas essa oportunidade. Não é que você esteja abusando da sua boa-fé pedindo ajuda — elas realmente sentem prazer em dar, e serem vistas dando. Você deve saber diferenciar as pessoas poderosas e descobrir quais são os seus motivos e necessidades básicas. Se elas transpiram ganância, não apele para a sua caridade. Se elas querem parecer nobres e caridosas, não apele para a sua ganância.<br />
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<blockquote class="tr_bq">
<i>A maneira mais rápida e eficaz de fazer fortuna é deixar as pessoas verem claramente que é do interesse delas promover o seu.</i></blockquote>
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Jean de La Bruyêre, 1645-1696</div>
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-57920780608805678232014-01-18T15:28:00.000-02:002014-01-18T15:28:00.669-02:00Lei 12 - Use a honestidade e a generosidade seletivas para desarmar a sua vítimaUm gesto sincero e honesto encobrirá dezenas de outros desonestos. Até as pessoas mais desconfiadas baixam a guarda diante de atitudes francas e generosas. Uma vez que a sua honestidade seletiva as desarma, você pode engana-las e manipulá-las à vontade. Um presente oportuno - um cavalo de Tróia - será igualmente útil.<br />
<br />
A melhor maneira de conseguir isso é aparentando sinceridade e honestidade. Quem vai desconfiar de uma pessoa literalmente apanhada num ato honesto? A essência da trapaça é a distração. Distraindo as pessoas a quem pretende enganar, você ganha tempo e espaço para fazer algo que elas não perceberão. Um gesto delicado, generoso ou honesto muitas vezes é a forma mais eficaz de distração porque desarma as suspeitas da outra pessoa. Elas ficam como crianças, aceitando ansiosas qualquer demonstração de afeto.<br />
<br />
É melhor usar a honestidade seletiva logo no primeiro encontro. Somos todos criaturas de hábitos, e nossas primeiras impressões duram muito. Se alguém acreditar desde o início que você é honesto, vai demorar para convencer essa pessoa do contrário. Você ganha espaço para manobra.<br />
<br />
Em geral, não basta uma única atitude honesta. O que é necessário é a reputação de pessoa honesta, baseada numa série de atitudes — mas estas podem ser bastante inconsequentes. A honestidade é uma das melhores formas de desarmar o previdente, mas não é a única.<br />
<br />
Qualquer tipo de atitude nobre, aparentemente altruísta, serve. Talvez a melhor, entretanto, seja a generosidade. Raras são as pessoas que resistem a um presente, mesmo do inimigo mais ferrenho, por isso esta costuma ser a maneira perfeita de desarmar as pessoas. Um presente desperta em nós a criança, derrubando na mesma hora as nossas defesas. Apesar de olharmos com descrença o comportamento das outras pessoas, raramente vemos o elemento maquiavélico de um presente, com freqüência escondendo segundas intenções. Um presente é o objeto perfeito para esconder uma atitude falsa.<br />
<br />
A bondade seletiva com freqüência desarma o inimigo mais obstinado: acertando em cheio no coração, ela corrói o desejo de revidar. Lembre-se: jogando com as emoções dos outros, gestos calculados de bondade podem transformar um AI Capone numa criança ingênua. Como qualquer abordagem emocional, a tática deve ser praticada com prudência: se as pessoas perceberem, os sentimentos de gratidão e cordialidade frustrados se transformarão em ódio e desconfiança na sua forma mais violenta. Se não for capaz de fazer o gesto parecer sincero, não brinque com fogo.<br />
<br />
O INVERSO<br />
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Quando você já tem um histórico de dissimulações, não há honestidade, generosidade ou gentileza que consiga enganar as pessoas. De fato, isso só chamará mais atenção. Quando você já é visto como falso, uma atitude honesta de repente é apenas suspeita. Nestes casos, é melhor bancar o patife.<br />
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Nada na esfera do poder está escrito em pedra. A falsidade declarada às vezes encobre as suas pegadas, e até o faz ser admirado pela honestidade da sua desonestidade.<br />
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-91899131047578345752014-01-14T15:26:00.000-02:002014-01-14T15:26:00.300-02:00Lei 11 - Aprenda a manter as pessoas dependentes de vocêPara manter a sua independência você deve sempre ser necessário e querido. Quanto mais dependerem de você, mas liberdade você terá. Faça com que as pessoas dependam de você para serem felizes e prósperas, e você não terá nada o que temer. Não lhes ensine o bastante ao ponto de poderem se virar sem você.<br />
<br />
Poder é a capacidade de conseguir que os outros façam o que você quer. Se você consegue isso sem forçar nem magoar as pessoas, se elas de boa vontade lhe dão o que você deseja, então o seu poder é intocável. A melhor maneira de alcançar esta posição é criando uma relação de dependência. O senhor precisa dos seus serviços; ele é fraco, ou incapaz de funcionar sem você, que se misturou de tal forma no trabalho dele que, eliminando-o, ele ficaria em grandes dificuldades, ou pelo menos perderia um tempo precioso para treinar outra pessoa para substituir você. Uma vez estabelecida uma relação dessas, você é quem tem o controle, a influência para forçar o senhor a fazer o que você quer. E o caso clássico do homem por trás do trono, o servo do rei que na verdade controla o rei.<br />
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Não seja como tantos que se enganam acreditando que poder é independência. O poder implica um relacionamento entre as pessoas; você sempre vai precisar dos outros como aliados, peões, ou até como senhores fracos que servem de fachada para você. O homem totalmente independente viveria numa cabana na floresta — estaria livre para ir e vir à vontade, mas não teria poder. O máximo que você pode esperar é que os outros fiquem tão dependentes de você que você passa a usufruir um tipo inverso de independência: a necessidade que eles sentem de você o deixa livre.<br />
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Você não precisa ter o talento de um Michelangelo, basta uma habilidade que o destaque da multidão. Você deve criar uma situação tal que possa sempre se apegar a outro senhor ou patrono, mas que o seu senhor não seja capaz de encontrar facilmente outro servo com o seu talento particular. E se, na realidade, você não for mesmo indispensável, deve encontrar um jeito de parecer que é. Aparentar ser dono de um conhecimento e uma habilidade especializados lhe dá uma margem de segurança para fazer os seus superiores acharem que não vivem sem você. A dependência real por parte do seu senhor, entretanto, o deixa mais vulnerável a você do que a falsa, e você sempre poderá tornar a sua habilidade indispensável.<br />
Isto é o que se entende por destinos entrelaçados: como a hera que vai se agarrando no muro, você está tão enredado na origem do poder, que será muito traumático arrancá-lo dali. E você não precisa necessariamente ficar entrelaçado com o senhor; outra pessoa ficará, desde que ela também seja indispensável na cadeia.<br />
<br />
Para fazer com que os outros dependam de você, um caminho a tomar é a tática do serviço secreto. Sabendo o segredo das outras pessoas, guardando informações que elas não gostariam de ver divulgadas, o seu destino fica selado ao delas. Você fica intocável. Os ministros da polícia secreta mantiveram esta posição por séculos: eles podem fazer ou derrubar um rei.<br />
<br />
Um último aviso: não pense que o seu senhor, porque depende de você, vai amá-lo. De fato, ele pode se ressentir e ter medo de você. Mas, como disse Maquiavel, é melhor ser temido do que amado. O medo você pode controlar; o amor, não. Depender de sentimentos tão sutis e inconstantes como amor ou amizade só deixa você inseguro. É melhor que os outros dependam de você por temer as conseqüências de perdê-lo do que por gostar da sua companhia.<br />
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O INVERSO<br />
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O lado negativo de fazer os outros dependerem de você é que você, de certa forma, fica dependente deles. Mas não aceitar isso significa livrar-se dos seus superiores — ficar sozinho, sem depender de ninguém. Esse é o impulso monopolista de um J. P. Morgan ou de um John D. Rockefeller — eliminar toda a concorrência, ficar no controle total. Se você pode encurralar o mercado, melhor.<br />
<br />
Toda independência tem o seu preço. Você é forçado a se isolar. Os monopólios com freqüência se voltam para dentro e se destroem pela pressão interna. Eles também despertam fortes ressentimentos, fazendo os inimigos se unirem contra eles. O impulso para o controle total é muitas vezes pernicioso e inútil. A interdependência é a regra, a independência uma rara e quase sempre fatal exceção. É preferível se colocar numa posição de dependência mútua, portanto, e seguir esta regra do que procurar o inverso. Você não sofrerá a insuportável pressão de estar no topo, e o senhor acima de você é que será o seu escravo, pois ele é quem vai depender de você.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Faça as pessoas dependerem de você. Ganha-se mais com essa dependência do que cortejando-as. Quem já saciou a sua sede, dá logo as costas para a fonte, não precisando mais dela. Não havendo dependência, desaparece também a civilidade e a decência, e depois o respeito. A primeira coisa que se aprende com a experiência é manter viva a esperança, porém nunca satisfeita, manter até um patrono real sempre precisando de você</i>.</blockquote>
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Baltasar Gracián, 1601-1658</div>
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-10902553878146507462014-01-11T14:51:00.000-02:002014-01-11T14:51:00.379-02:00Lei 10 - Contágio: Evite o infeliz e azaradoA miséria alheia pode matar você - estados emocionais são tão contagiosos quanto as doenças. Você pode achar que está ajudando o homem que se afoga, mas só está precipitando o seu próprio desastre. Os infelizes às vezes provocam a própria infelicidade; vão provocar a sua também. Associe-se aos felizes e afortunados.<br />
<br />
O tipo de personalidade contagiosa não se restringe às mulheres, nada tem a ver com gênero. A sua raiz está numa instabilidade interior que irradia, atraindo desastres. Existe quase que um desejo de destruir e perturbar. Você poderia passar a vida inteira estudando a patologia das personalidades contagiantes, mas não perca o seu tempo — aprenda a lição apenas. Se desconfiar de que está na presença de uma pessoa contagiosa, não discuta, não tente ajudar, não passe a pessoa adiante para seus amigos, ou você cairá na teia. Fuja ou sofrerá as conseqüências. Aqueles infelizes derrubados por circunstâncias fora do seu controle merecem toda a nossa ajuda e simpatia. Mas há outros que não nasceram infelizes ou desventurados, mas atraem a infelicidade e a desventura com seus atos destrutivos e o efeito perturbador que exercem sobre<br />
os outros. Seria ótimo se pudéssemos chamá-los de volta à vida, mudar seus padrões, mas quase sempre são esses padrões que são assimilados por nós e nos mudam. A razão é simples — os seres humanos são extremamente suscetíveis a humores, emoções e até maneiras de pensar daqueles com quem convivem.<br />
<br />
A pessoa irremediavelmente infeliz e instável tem um poder de contaminação muito forte porque sua personalidade e emoções são muito intensas. Ela costuma se apresentar como vítima, o que torna difícil ver logo de início que é ela mesma a origem desse sofrimento. Até você perceber a verdadeira natureza dos seus problemas, já está contaminado. Compreenda isto: no jogo do poder, as pessoas com quem você se associa são importantíssimas. O risco de se associar a contaminadores é que você desperdiça tempo e energia preciosos para se livrar disso. Culpado por uma espécie de associação, você também será um sofredor aos olhos dos outros. Jamais subestime o perigo do contágio.<br />
<br />
São muitos os tipos de pessoas contagiosas com os quais devemos ter cuidado; um dos mais insidiosos porém é o que sofre de insatisfação crônica. Só existe uma solução para isso: quarentena. Mas, quando você reconhece o problema, em geral já é tarde.<br />
<br />
Como se proteger desses vírus insidiosos? A resposta está em julgar as pessoas pelos efeitos que elas exercem sobre o mundo e não pelas razões que elas dão para os seus próprios problemas. As pessoas contagiantes são reconhecidas pela infelicidade que atraem sobre si mesmas, por seu passado turbulento, pela extensa fileira de relacionamentos rompidos, por suas carreiras instáveis e pela própria força de uma personalidade que se apodera de você e o faz perder o juízo. Esteja alerta a estes sinais do contaminador; aprenda a olhar o descontente no olho. E, o mais importante, não tenha dó. Não se complique tentando ajudar. O contaminador não vai mudar, mas você se confunde.<br />
<br />
O outro aspecto da contaminação é igualmente válido, e talvez mais fácil de compreender: há pessoas que atraem a felicidade com o seu bom humor, com a sua natural animação e inteligência. Elas são fonte de prazer e você deve se associar a elas para partilhar a prosperidade que atraem sobre si mesmas.<br />
<br />
Não estamos falando apenas de bom humor e sucesso: todas as qualidades positivas podem nos contagiar.<br />
Tire proveito do aspecto positivo desta osmose emocional. Se você for triste por natureza, por exemplo, jamais ultrapassará um certo limite; apenas as almas generosas atingem a grandeza. Associe-se com os generosos, portanto, e eles o contaminarão, soltando o que está apertado e contido dentro de você. Se você é melancólico, gravite em torno das pessoas animadas. Se tender ao isolamento, force-se a ser amigo do gregário. Jamais se associe com quem tem os seus mesmos defeitos — eles reforçarão tudo o que trava o seu caminho. Crie associações apenas com afinidades positivas. Que esta seja uma regra de vida, e você se beneficiará mais do que com todas as terapias do mundo.<br />
<br />
O INVERSO<br />
<br />
Esta lei não aceita o inverso. Sua aplicação é universal. Nada se lucra associando-se com quem pode contagiar com sua miséria; só se obtém poder e sorte associando-se com os afortunados. Ignore esta lei por sua própria conta e risco.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Reconheça o afortunado de modo a poder escolher a sua companhia, e o desafortunado para poder evitá-la. O infortúnio é em geral uma tolice, e entre os que sofrem dela não há doença mais contagiosa: Não abra a sua porta para a menor das infelicidades, pois, se o fizer, muitas </i><i>outras virão em seguida... Não morra da infelicidade</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Baltasar Gracián, 1601— 1658</div>
<br />
<br />
Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-11408071721359967692014-01-07T14:43:00.000-02:002014-01-07T14:43:00.842-02:00Lei 9 - Vença por suas atitudes, não discutaQualquer triunfo momentâneo que você tenha alcançado discutindo é na verdade uma vitória de Pirro: o ressentimento e a má vontade que você desperta são mais fortes e permanentes do que qualquer mudança momentânea de opinião. É muito mais eficaz fazer os outros concordarem com você por suas atitudes, sem dizer uma palavra. Demonstre, não explique.<br />
<br />
O argumentador não compreende que as palavras não são neutras, e que ao discutir com um superior ele coloca em dúvida a inteligência de alguém mais poderoso do que ele. Ele também não percebe com quem está falando. Visto que todo homem acredita que está certo, e palavras raramente o convencerão do contrário, o raciocínio do argumentador cai em ouvidos surdos. Se encurralado, ele só faz acrescentar mais argumentos, cavando o seu próprio túmulo. Depois de fazer a outra pessoa se sentir insegura e inferior na sua crença, nem a eloqüência de Sócrates salva a situação.<br />
<br />
Não se trata apenas de evitar discutir com quem está acima de você. Todos nós acreditamos que somos mestres no reino das opiniões e dos raciocínios. Você precisa tomar cuidado, portanto: aprenda a demonstrar a certeza das suas idéias indiretamente.<br />
<br />
Na esfera do poder, você deve aprender a julgar seus movimentos por seus efeitos a longo prazo sobre as outras pessoas. O problema em tentar provar que está certo ou conseguir uma vitória com argumentos é que no final você nunca tem certeza de como isso afeta as pessoas com quem está discutindo: elas podem parecer concordar com você por educação, mas intimamente ficam magoadas. Ou talvez algo que você disse inadvertidamente até as ofendeu — as palavras têm uma insidiosa capacidade de ser interpretadas de acordo com o estado de humor ou insegurança da outra pessoa. Até mesmo o melhor argumento não tem fundamentos sólidos, pois todos nós desconfiamos da natureza escorregadia das palavras. E dias depois de concordar com alguém, com freqüência voltamos a nossa antiga opinião só por hábito.<br />
<br />
Compreenda isto: palavras custam um tostão a dúzia. Todos sabem que, no calor da discussão, nós todos falamos qualquer coisa para defender a nossa causa. Citamos a Bíblia, mencionamos estatísticas não averiguáveis. Quem se convence com essas bolhas de ar? Atitudes e demonstrações têm muito mais poder e sentido. Elas estão ali, diante dos nossos olhos — “Sim, agora o nariz da estátua parece correto”. Não há termos ofensivos, nenhuma possibilidade de mal-entendidos. Ninguém pode discutir com uma prova visível. Como Baltasar Gracián observa, “A verdade é geralmente vista, raramente ouvida”.<br />
<br />
Sir Christopher Wren foi a versão inglesa do homem renascentista. Ele havia dominado as ciências da matemática, astronomia, física e fisiologia. No entanto, durante a sua carreira extremamente longa como o mais famoso arquiteto da Inglaterra, seus patronos com freqüência lhe diziam para fazer alterações pouco práticas em seus projetos. Nem uma só vez ele discutiu ou ofendeu. Tinha outras maneiras de provar que estava com a razão. Em 1688, Wren projetou um magnífico prédio para a prefeitura da cidade de Westminster. O prefeito, entretanto, não ficou satisfeito; de fato, estava nervoso. Ele disse a Wren que temia que o segundo andar não estivesse firme, e que pudesse vir abaixo destruindo o seu escritório no primeiro andar. Ele exigiu que Wren acrescentasse duas colunas de pedra como um apoio extra. Wren, excelente engenheiro, sabia que estas colunas não serviriam de nada e que os temores do prefeito não tinham fundamento. Mas ele as construiu, e o prefeito agradeceu. Só anos mais tarde é que os operários em cima de um andaime alto viram que as colunas terminavam pouco antes do teto. Eram falsas. Mas os dois homens conseguiram o que desejavam: o prefeito pôde relaxar e Wren garantiu que a posteridade soubesse que o seu projeto original funcionava e que as colunas eram desnecessárias.<br />
<br />
O poder de demonstrar a sua idéia é que os seus adversários não ficam na defensiva, e por conseguinte estão mais dispostos a ser convencidos. Fazê-los sentir literal e fisicamente o que você quer dizer é muitíssimo mais eficaz do que discutir. Um sujeito certa vez interrompeu Nikita Khrushchev no meio de um discurso em que ele denunciava os crimes de Stalin. “O senhor foi colega de Stalin”, gritou o sujeito, “por que não o impediu na época?” Khrushchev aparentemente não podia ver o cara e rosnou, “Quem disse<br />
isso?” Ninguém levantou a mão. Ninguém moveu um músculo. Passados alguns segundos de tenso silêncio, Khrushchev disse com voz tranqüila, “Agora você sabe por que eu não o impedi”. Em vez de simplesmente argumentar que qualquer pessoa diante de Stalin teria medo, sabendo que o mais leve sinal de rebeldia significa morte certa, ele os fez sentir o que era enfrentar Stalin — os fez sentir a paranóia, o medo de falar em voz alta, o terror do confronto com o líder, neste caso, Khrushchev. A demonstração foi cabal e não se discutiu mais.<br />
<br />
A forma de persuasão ainda mais eficaz do que a atitude é o símbolo. O poder de um símbolo — bandeira, história mítica, monumento a um episódio carregado de emoções — é que todos compreendem sem você ter de dizer nada. Quando a meta é ter poder, ou tentar conservá-lo, busque sempre a via indireta. E<br />
também escolha com cuidado as suas batalhas. Se a longo prazo não tiver importância que a outra pessoa concorde ou não com você — ou se o tempo e a própria experiência a fizerem compreender o que você quer dizer — então é melhor nem mesmo se preocupar em mostrar nada. Poupe a sua energia e afaste-se.<br />
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O INVERSO<br />
<br />
O argumento verbal tem uma utilidade vital na esfera do poder: distrair e ocultar suas pegadas quando você está praticando a dissimulação ou for apanhado mentindo. Nesses casos, você ganha mais argumentando com toda a convicção possível. Leve a outra pessoa a uma discussão para distraí-la dos seus movimentos dissimulados. Quando apanhado mentindo, quanto mais emocionado e seguro você parecer, menor a probabilidade de parecer que está mentindo.<br />
<br />
Esta técnica salvou a pele de muitos charlatões. Certa vez o conde Victor Lustig, trapaceiro por excelência, tinha vendido a dezenas de vítimas em todo o país uma caixa esquisita que ele dizia ser capaz de copiar dinheiro. Vendo que tinham sido enganadas, as vítimas em geral preferiam não procurar a polícia, para não se arriscarem ao constrangimento do caso tornado público. Mas um xerife Richards, de Remsen County, em Oklahoma, não era o tipo de homem que aceitasse ser lesado em 10 mil dólares, e uma manhã seguiu Lustig até um hotel em Chicago.<br />
<br />
Lustig ouviu baterem à porta. Ao abrir, viu o cano de uma espingarda. “Qual é o problema?”, perguntou ele calmamente. “Seu filho da mãe”, gritou o xerife, “eu vou matá-lo. Você me enganou com aquela sua caixa!” Lustig fingiu não entender. “Quer dizer que não está funcionando?”, perguntou. “Você sabe que não está”, retrucou o xerife. “Mas isso é impossível”, disse Lustig. “Não tem como não funcionar. Você usou como devia?” “Fiz exatamente o que você me disse para fazer”, disse o xerife. “Não, você deve ter feito alguma<br />
coisa errada”, disse Lustig. A discussão não saía do lugar. O cano da espingarda foi gentilmente baixado.<br />
Lustig passou à fase seguinte da tática da argumentação: despejou um monte de jargões técnicos sobre a operação da caixa, deixando o xerife atordoado, parecendo menos seguro e argumentando com menos insistência. “Olhe”, disse Lustig, “Vou lhe devolver o dinheiro agora mesmo. Também vou lhe dar instruções por escrito sobre o funcionamento da máquina, e vou a Oklahoma me certificar de que está funcionando corretamente. Não há o que perder num negócio desses.” O xerife concordou relutante. Para deixá-lo totalmente satisfeito, Lustig pegou cem notas de cem dólares e lhe deu, dizendo para relaxar e ter um bom final de semana em Chicago. Mais calmo e um pouco confuso, o xerife finalmente foi embora. Nos dias que se seguiram a esse encontro, Lustig conferia o jornal todas as manhãs. Acabou encontrando o que procurava: um pequeno artigo com a notícia da prisão, julgamento e condenação do xerife Richard por passar notas falsas. Lustig ganhou a discussão: o xerife nunca mais o importunou.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Não discuta. Em sociedade nada deve ser discutido: dê apenas resultados.</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Benjamin Disraeli, 1804-1881</div>
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-88662019618093650722014-01-04T14:38:00.000-02:002014-01-04T14:38:00.154-02:00Lei 8 - Faça as pessoas virem até você - Use uma isca, se for precisoQuando você força os outros a agir, é você que está no controle. É sempre melhor fazer o seu adversário vir até você, abandonando seus próprios planos no processo. Seduza-o com a possibilidade de ganhos fabulosos - depois ataque, é você quem dá as cartas. Quantas vezes este cenário se repetiu na história: um líder agressivo inicia uma série de movimentos ousados que começam por lhe trazer muito poder. Lentamente, entretanto, o seu poder chega a um ponto máximo, e em breve tudo se volta contra ele. Seus inúmeros inimigos se unem; tentando manter o seu poder, ele se esgota indo de um lado para o outro e,<br />
inevitavelmente, entra em colapso. O motivo para este padrão é que a pessoa agressiva raramente está em pleno controle da situação. Ela não enxerga mais do que um ou dois movimentos adiante, não pode ver as conseqüências deste ou daquele movimento ousado. Como está constantemente sendo forçada a reagir aos movimentos do seu crescente exército de inimigos, e às conseqüências imprevisíveis das suas próprias ações temerárias, sua energia agressiva se volta contra ela.<br />
<br />
Na esfera do poder, você deve se perguntar, de que adianta correr daqui para ali, tentando solucionar problemas e derrotar Inimigos, se nunca me sinto no controle? Por que tenho sempre de reagir aos acontecimentos em vez de direcioná-los? A resposta é simples: A sua idéia de poder está errada. Você confunde atitudes agressivas com atitudes eficazes. E, quase sempre, o que funciona melhor é ficar parado, manter a calma, e deixar que os outros se frustrem com as armadilhas que você coloca para eles, jogando para conquistar o poder a longo prazo e não para alcançar uma vitória rápida.<br />
<br />
Lembre-se: a essência do poder é a capacidade de ter a iniciativa, fazer com que os outros reajam aos seus movimentos, deixar o seu adversário e as pessoas ao seu redor na defensiva. Quando você faz as pessoas virem até você, de repente é você que está no controle da situação. E quem controla tem o poder. Duas coisas precisam acontecer para colocar você nesta posição: você mesmo tem de aprender a dominar suas emoções, e jamais se deixar levar pela raiva; enquanto isso, deve aproveitar a tendência natural das pessoas de reagir com raiva quando forçadas e enganadas. A longo prazo, a capacidade de fazer as pessoas virem até você é uma arma muito mais poderosa do que qualquer ferramenta agressiva.<br />
<br />
Todos nós temos um limite para nossas energias, e há um momento em que elas estão no auge. Quando você faz com que a outra pessoa venha até você, ela se desgasta, desperdiça energia pelo caminho.<br />
Uma outra vantagem em fazer o adversário vir até você é que isso o força a operar no seu território. Estar em terreno hostil o deixa nervoso e quase sempre ele se afoba e comete erros.<br />
<br />
Em negociações ou reuniões, é sempre mais sensato atrair os outros para o seu território, ou para<br />
o território que você escolher. Você tem os seus referenciais, enquanto ele não vê nada familiar e fica sutilmente colocado na defensiva. A manipulação é um jogo perigoso. Quando alguém desconfia de que está sendo manipulado, fica cada vez mais difícil de controlar. Mas quando você faz o seu adversário chegar até você, cria a ilusão de que é ele que está no controle.<br />
<br />
Tudo depende da suavidade da sua isca. Se a sua armadilha é suficientemente atraente, a turbulência das emoções e desejos dos seus inimigos não os deixarão ver a realidade. Quanto mais gananciosos, melhor poderão ser conduzidos.<br />
<br />
O grande barão ladrão do século XIX, Daniel Drew, era mestre em jogar na bolsa de valores. Quando queria que uma determinada ação fosse comprada ou vendida, fazendo subir ou baixar os preços, ele raramente recorria a um método direto. Um dos seus truques era passar correndo por um clube exclusivo perto de Wall Street, obviamente a caminho da bolsa de valores, e tirar do bolso o seu costumeiro lenço vermelho para secar o suor da testa. Um pedacinho de papel caía e ele fingia não perceber. Os membros do clube estavam sempre tentando prever os movimentos de Drew e pulavam em cima do papel, que invariavelmente continha uma dica sobre uma ação. A notícia se espalhava, e os membros em bando compravam ou vendiam as ações, dançando nas mãos de Drew.<br />
<br />
Se você conseguir que as pessoas cavem as suas próprias sepulturas, por que gastar o seu suor? Os batedores de carteira são mestres nisto. A chave para bater uma carteira é saber em que bolso ela está. Batedores experientes costumam exercer o seu ofício em estações de trem e outros lugares onde existem cartazes em que se lê claramente, CUIDADO COM OS BATEDORES DE CARTEIRA. Os transeuntes, ao verem o cartaz, invariavelmente colocam a mão no bolso da carteira para ver se ela ainda está lá. Para os batedores atentos, isto é cair a sopa no mel. Sabe-se até que eles mesmos colocam os cartazes de CUIDADO COM OS BATEDORES DE CARTEIRA para garantir o seu sucesso.<br />
<br />
Quando você faz as pessoas virem até você, às vezes é melhor deixar que elas saibam que você está forçando. Você troca a dissimulação pela manipulação declarada. As ramificações psicológicas são profundas: a pessoa que faz os outros irem até ela parece poderosa, e exige respeito.<br />
<br />
Se numa determinada ocasião você considerar uma questão de honra as pessoas virem até você, e conseguir que elas venham, elas continuarão fazendo isso mesmo depois de você parar de tentar.<br />
<br />
O INVERSO<br />
<br />
Embora em geral seja mais sensato fazer os outros se exaurirem correndo atrás de você, há casos inversos em que atacar repentina e agressivamente o inimigo o desmoraliza tanto que suas energias se esvaem. Em vez de fazer os outros virem até você, você vai até eles, insiste, toma a liderança. O ataque rápido pode ser uma arma assustadora, pois força a outra pessoa a reagir sem tempo para pensar ou planejar. Sem tempo para pensar, as pessoas cometem erros de julgamento, e se colocam na defensiva. Esta tática é o oposto de esperar e colocar a isca, mas tem a mesma função: você faz o seu inimigo reagir segundo os seus próprios termos.<br />
<br />
Um movimento rápido e imprevisto apavora e desmoraliza. Você deve escolher suas táticas de acordo com a situação. Se tiver o tempo a seu favor, e souber que você e os seus inimigos estão no mínimo em igualdade de forças, então esgote a força deles fazendo-os vir até você. Se o tempo não estiver a seu favor — seus inimigos são mais fracos, e a espera só lhes dará chance de se recuperar —, não lhes dê essa oportunidade. Ataque rapidamente e eles não terão para onde ir. Como diz o pugilista Joe Louis, “Ele corre, mas não se esconde”.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Os bons guerreiros fazem os outros irem até eles, e não vão até os outros. Este é o princípio do vazio e do cheio na relação do eu com o outro. Se você induz os adversários a virem até você, a força deles se esvazia; desde que você não vá até eles, a sua força estará sempre cheia. Atacar o vazio com o cheio é como jogar pedras em ovos.</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Zhang Yu, comentarista do século XI sobre a A arte da guerra</div>
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000</div>
Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-5159139610638026732014-01-02T14:56:00.000-02:002014-01-02T14:56:00.487-02:00Lei 7 - Faça com que os outros trabalhem por você mas sempre fique com o créditoUse a sabedoria, o conhecimento e o esforço físico dos outros em causa própria. Não só essa ajuda lhe economizará um tempo e uma energia valiosos, como lhe dará uma aura divina de eficiência e rapidez. No final, seus ajudantes serão esquecidos e você lembrado. Não faça você mesmo o que os outros podem fazer por você. Muitos alimentam a ilusão de que a ciência, por lidar com fatos, está acima de rivalidades mesquinhas que atrapalham o resto do mundo. Nikola Tesla era um desses. Ele acreditava que a ciência nada tinha a ver com a política, e dizia não se preocupar com a fama ou a riqueza. Mais velho, entretanto, isto arruinou o seu trabalho científico. Sem estar associado a nenhuma descoberta em particular, ele não poderia atrair investidores para suas muitas idéias. Enquanto ele ficava imaginando grandes invenções para o futuro, outros roubavam as patentes que ele já havia desenvolvido e ficavam com a glória.<br />
<br />
Temos duas lições: primeiro, o crédito por uma invenção ou criação é tão importante, se não mais importante, do que a própria invenção. Você deve garantir para si próprio o crédito e impedir que outros o roubem, ou fiquem pendurados nas suas costas. Para isso você deve se manter vigilante e implacável, guardar silêncio sobre a sua invenção até ter certeza de não haver nenhum abutre voando por perto. Segundo, aprenda a tirar vantagem do trabalho dos outros em causa própria. O tempo é precioso e a vida é curta. Se tentar fazer tudo sozinho, você vai se desgastar, desperdiçar energias e se queimar. É muito melhor conservar as suas forças, deitar as garras no trabalho que os outros já fizeram e descobrir um jeito de se apoderar dele. A dinâmica do mundo do poder é a da selva: há os que vivem caçando e matando, e há também um vasto número de criaturas (hienas, abutres) que vivem do que os outros caçam. Estes últimos, tipos menos imaginativos, com freqüência são incapazes de fazer o trabalho essencial para a criação de poder. Eles compreendem desde cedo, entretanto, que, se esperarem bastante, sempre encontrarão outro animal para trabalhar por eles.<br />
<br />
Não seja ingênuo: agora mesmo, enquanto você se esforça em algum projeto, existem abutres ao redor tentando imaginar um jeito de sobreviver e até prosperar com a sua criatividade. É inútil ficar se queixando, ou sofrer amargurado, como fez Tesla. Melhor se proteger e aprender a jogar. Uma vez tendo estabelecido uma base de poder, torne-se você mesmo um abutre, e poupe um bocado do seu tempo e energia. A essência da Lei: aprenda a fazer com que os outros trabalhem por você enquanto você fica com o crédito, e parecerá que você tem energia e poder divinos. Se você acha importante fazer o trabalho todo sozinho, não irá muito longe, e vai sofrer muito. Encontre gente com as habilidades e a criatividade que você não tem. Contrateos, e coloque o seu nome em primeiro lugar na frente dos nomes deles, ou descubra um jeito de roubar o trabalho deles e dizer que foi você quem fez. A criatividade deles, portanto, se torna sua, e o mundo o verá como um gênio.<br />
<br />
Existe uma outra aplicação desta lei que não exige que você explore o trabalho dos seus contemporâneos: use o passado, um vasto arsenal de conhecimento e sabedoria. Isaac Newton chamou isso de “subir nos ombros de gigantes”. Ele queria dizer que, ao fazer suas descobertas, ele tinha se baseado em conquistas alheias. A grande parte da sua aura de gênio, ele sabia, podia ser atribuída à sua sagaz habilidade para aproveitar ao máximo as visões dos cientistas da antigüidade, medievais ou renascentistas. Shakespeare pediu emprestado enredos, caracterizações e até diálogos de Plutarco, entre outros autores, pois sabia que ninguém suplantava Plutarco na sutil psicologia e nas citações espirituosas. Quantos outros autores depois, por sua vez, tomaram emprestado — plagiaram — de Shakespeare?<br />
<br />
Nós sabemos como é raro os políticos atualmente escreverem os seus próprios discursos. Suas próprias palavras não lhes conquistaria um só voto; sua eloqüência e sagacidade, se ela existe, se deve a um redator de discursos. Outras pessoas fazem o trabalho, eles ficam com o crédito. O avesso é que esse tipo de poder está disponível para todos. Aprenda a usar o conhecimento do passado e você parecerá um gênio, mesmo que na realidade não passe de um esperto plagiador.<br />
<br />
Escritores que se aprofundaram na natureza humana, antigos mestres da estratégia, historiadores da estupidez e loucura humana, reis e rainhas que aprenderam da maneira mais difícil a lidar com o peso do poder — o conhecimento deles está acumulando poeira, esperando que você suba nos seus ombros. A sagacidade deles pode ser a sua sagacidade, a capacidade deles pode ser a sua capacidade, e eles não virão dizer que você não tem nada de original. Você pode batalhar, cometer erros sem fim, gastar tempo e energia tentando fazer coisas a partir da sua própria experiência. Ou pode usar os exércitos do passado. Como disse Bismarck certa vez, “Os tolos dizem que aprendem pela experiência. Eu prefiro aproveitar a experiência dos outros”.<br />
<br />
O INVERSO<br />
<br />
Há momentos em que ficar com o crédito pelo trabalho dos outros não é o mais sensato: se o seu poder não está solidamente estabelecido, vai parecer que você está empurrando os outros para longe dos refletores. Para ser um brilhante explorador de talentos, a sua posição tem de ser inabalável, ou você será acusado de fraude. Tenha certeza de saber quando é interessante para você dividir o crédito com os outros. É muito importante não ser ganancioso quando se tem um mestre em posição superior. A histórica visita do presidente Richard Nixon à República Popular da China foi originalmente idéia dele, mas jamais teria se realizado não fosse a hábil diplomacia de Henry Kissinger. Nem teria tido tanto sucesso sem a habilidade de Kissinger. Não obstante, na hora de ficar com o crédito, Kissinger sabiamente deixou que Nixon ficasse com a parte do leão. Sabendo que a verdade acabaria se revelando, ele teve o cuidado de não colocar em risco a sua posição no curto prazo apropriando-se das luzes. Kissinger jogou com esperteza: ficou com o crédito pelo trabalho dos que estavam abaixo dele, enquanto graciosamente deu o crédito do seu próprio esforço aos que estavam acima. É assim que se joga.<br />
<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Há muito o que saber, a vida é curta, e a vida não é vida sem conhecimento. É, por conseguinte, um excelente truque adquirir o conhecimento de todo mundo. Assim, enquanto os outros suam, você ganha a reputação de um oráculo. </i>Baltasar Gracián, 1601-1658</blockquote>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Todos roubam no comércio e na indústria. Eu mesmo roubei muito. Mas eu sei como roubar.</i> Thomas Edison, 1847-1931</blockquote>
<div>
<br /></div>
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000</div>
Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-31020326265534219132014-01-01T19:45:00.000-02:002014-01-01T19:45:00.131-02:00Enfim, a FÓRMULA DE DEUS<b>Fique atento:</b> O português desse texto está escrito no português de Portugal.<br />
<br />
<br />
<i>Tomás apontou para a palavra no topo da folha com a chave.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Está a ver este nome?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Alberti?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Sim."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"O que tem ele?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"É uma idéia inteligente, sabe? Einstein brincou aqui com o seu nome próprio, Albert. Um leigo que veja isto pensa que se trata de uma mera referência italianizada ao seu nome, mas um criptanalista logo percebe que está perante algo bem diferente."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Ah, sim? O quê?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Leon Battista Alberti era um polímata florentino do século XV. Foi uma destacada figura do Renascimento italiano, uma espécie de Leonardo da Vinci em escala pequena, está a ver? Era filósofo, compositor, poeta, arquiteto e pintor, autor da primeira análise científica da perspectiva, mas também de um tratado, veja só, sobre a mosca doméstica." Sorriu. "Foi ele quem concebeu a primeira Fonte Trevi de Roma."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Greg abanou a cabeça e curvou os lábios.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Nunca ouvi falar."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Não é importante", disse o criptanalista com um gesto vago. "Um dia, Alberti andava a passear pelos jardins do Vaticano quando encontrou um seu amigo que trabalhava para o Papa. A conversa informal abordou alguns pontos interessantes da criptografia e encorajou Alberti a preparar um ensaio sobre o assunto. Entusiasmado, Alberti propôs uma nova forma de cifra. A sua idéia era utilizar dois alfabetos de cifra, cada letra alternando entre um e outro alfabeto, de modo a confundir os criptanalistas. Foi uma idéia genial, uma vez que implicava que a mesma letra do texto simples não aparecia necessariamente como a mesma letra no alfabeto da cifra, o que dificultava a decifração."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Não estou a perceber."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Tomás ajeitou a folha com a chave e apontou para as linhas com os alfabetos.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"É fácil", disse. "Na primeira linha encontra-se o alfabeto simples, não é? As duas linhas de baixo são as dos alfabetos de cifra. Imagine que eu quero escrever aacc. A letra do primeiro alfabeto de cifra correspondente ao a é o f e ao c é o b, não é? E no segundo alfabeto de cifra são, respectivamente, as letras g e x. Então, a mensagem aacc, quando cifrada através deste sistema, fica fgbx, está a ver? Alternando-se a mensagem original entre os dois alfabetos, não há repetição de letras, o que dificulta a decifração."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Ah, entendi."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"O que Einstein nos deu foi a informação de que tinha usado uma cifra de Alberti e mostrou-nos quais as duas sequências corretas dos alfabetos de cifra."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Greg apontou para a segunda linha da mensagem cifrada.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Se utilizarmos esse método, saberemos qual a mensagem ocultada por este !ya ovqo?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Sim, em princípio sim."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Então do que estamos à espera? Let's do it, pal!"</i><br />
<i><br /></i>
<i>Tomás pegou na caneta e comparou cada letra aos alfabetos de cifra.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Ora bem, vamos lá a ver o que significa este !ya ovqo." Suspirou. "O y do primeiro alfabeto de cifra corresponde a um i e o a no segundo alfabeto de cifra corresponde a um l." Rabiscou as letras. "Hmm... o o dá r e o v dá s. O q é um v e o o é um b."</i><br />
<i><br /></i>
<i>A frase emergiu no papel.</i><br />
<br />
<i><br /></i>
<div style="text-align: center;">
<i><b>!il rrsvb</b></i></div>
<i><br /></i>
<br />
<i><br /></i>
<i>"Não estou a perceber", disse Greg, carregando as sobrancelhas. "Il rsvb”? Mas o que é isto?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"É a mensagem original cifrada por Einstein", explicou Tomás.</i><br />
<i><br /></i>
<i>O americano ergueu os olhos e mirou-o com uma expressão interrogativa.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Mas isto não significa nada..."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Pois não."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"E então?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"E então, temos de prosseguir a decifração, não acha?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Prosseguir a decifração? Como assim? Isto não está decifrado?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"É evidente que não", exclamou Tomás. "Como você constatou, il rsvb não significa nada. O que quer dizer que apenas cumprimos um passo da decifração."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Há mais passos, é?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Claro que há." Apontou para a última palavra rabiscada por baixo das linhas com os alfabetos. "Está a ver este nome aqui?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Sim. O que tem?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Consegue ler?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>Greg inclinou-se sobre o papel.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"At... uh... atbart?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Atbash."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Atbask", repetiu o americano. "O que é isso?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"O atbask é uma forma tradicional de cifra de substituição hebraica, utilizada para ocultar significados no Antigo Testamento. A idéia é pegar numa letra que está, por exemplo, a três lugares do início do alfabeto e substituí-la pela letra correspondente a três lugares do fim do alfabeto. Assim o c torna-se x, não é? A terceira letra a contar do princípio é substituída pela terceira do fim, e assim sucessivamente."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Estou a entender."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Há vários exemplos de atbasb no Antigo Testamento. Em Jeremias aparece por vezes a palavra chechac, começando por duas letras hebraicas shin e por um kaph. Ora, o shin é a penúltima letra do alfabeto hebraico. Substituindo-a pela segunda do alfabeto ficamos com beth. Kaph é a décima segunda letra a contar do fim, pelo que vamos substituí-la pela décima segunda letra a contar do princípio, o lamed. Portanto, o shinshinkaph, que dá chechac, torna-se beth-beth-lamed. Babel. Chechac quer dizer Babel. Entendeu?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Sim, é engenhoso."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Engenhoso e simples."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Einstein utilizou atbash nesta sua cifra?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"É o que diz a anotação, não é? Repare. Alberti significa, como é óbvio, a cifra de Alberti, com os correspondentes alfabetos de cifra. Atbash significa que temos agora de procurar as letras simétricas correspondentes a il rsvb, não é?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Parece lógico", concordou Greg. "Vamos a isso?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>Tomás cravou os olhos na anotação com !il rsvb e contou a posição de cada letra no alfabeto.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Ora, o i é a nona do princípio. A nona do fim é... uh... o r. O l é a décima segunda do princípio, o que corresponde a... a... ao o. O r dá... dá i, o s... uh... dá h, o v dá... dá e e o b remete para o... o y."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Apresentou o resultado.</i><br />
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<div style="text-align: center;">
<i><b>!ro ihey</b></i></div>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i>"O que é isto?", perguntou Greg. "Ro ihey? O que significa isso?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>O criptanalista estreitou os olhos e estudou a mensagem, intrigado.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Realmente... uh..." gaguejou, mordendo o lábio inferior. "Não sei... não sei o que seja."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Será uma língua estranha?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>A sugestão fez Tomás arregalar os olhos.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Pois é óbvio que é", exclamou. "Se é um sinal do Gênesis, tem de ser em hebraico, não é?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"E você sabe hebraico?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Estou a aprender", disse. "Mas já sei o suficiente para perceber que o hebraico se lê da direita para a esquerda e não da esquerda para a direita." Pegou na caneta. "Espere aí, vou pôr à nossa maneira."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Inverteu a sequência das letras.</i><br />
<i><br /></i>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><b>Yehi or!</b></i></div>
<i><br /></i>
<br />
<i><br /></i>
<i>"Yehi or!", leu Greg. "O que quer dizer isso?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>Tomás empalideceu.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Meu Deus! Meu Deus!"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"O que foi?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Yehi or! Não está a perceber? Yehi or!"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Mas o que é isso?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"See sign Gênesis. Yehi or!" Bateu com o indicador na frase rabiscada no papel. "É este o sinal do Gênesis. Yehi or!"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Sim, mas o que significa yehi or?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>Tomás olhou para Greg e para Ariana, estupefacto, embasbacado, digerindo a enormidade do que acabara de lhe ser revelado, invadido por um tropel de imagens e sons e palavras e pensamentos que, naquele instante, como que coreografados em súbita sincronia, como uma sublime melodia que emerge da orquestra mais caótica, se encaixaram uns nos outros e extraíram da treva a verdade mais profunda.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Om.</i><br />
<i><br /></i>
<i>O om primordial que criou o universo ressoou-lhe na memória pelo coro cavado dos monges tibetanos. Foi ao som penetrante do mantra fundador que se lembrou do permanente bailado de nascimento e morte, de criação e destruição, a divina coreografia incorporada na eterna dança de Shiva; e foi ainda com aquela sílaba sagrada a ecoar-lhe na mente que compreendeu o segredo da Criação, o enigma por detrás do Alfa e para além do Ômega, a equação que faz do universo o universo, o misterioso desígnio de Deus, o surpreendente objetivo da vida, o software inscrito no hardware do cosmos.</i><br />
<i><br /></i>
<i>O endgame da existência.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Diante de si, rabiscada a caneta, inscrevia-se a fórmula que rompe a não-existência e tudo cria.</i><br />
<br />
<i>Tudo, incluindo o Criador.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Tomás", insistiu o americano, impaciente, quase abanando o seu interlocutor. "O que diabo significa yehi or?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>O criptanalista olhou para ele e para Ariana, olhou-os com espanto e maravilha, olhou-os como se tivesse despertado de um longo transe e, num sopro tênue, quase temeroso, nomeou enfim a equação mágica, o enunciado a que a inteligência que se espalhar pelo universo terá um dia de recorrer para escapar ao cataclismo do fim dos tempos e começar tudo de novo.</i><br />
<i><br /></i>
<i>A fórmula de Deus.</i><br />
<i><br /></i>
<div style="text-align: center;">
<i><b>"Faça-se luz!"</b></i></div>
<i><br /></i>
<i>O rosto de Greg permaneceu inexpressivo, como uma janela fechada que esconde o brilho do dia para lá dela, como uma tela branca que espera o pincel colorido que lhe dará vida.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Faça-se luz?", murmurou por fim. "Não estou a perceber..."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Tomás inclinou-se para a frente, aproximando o seu rosto excitado da face opaca do americano.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"É esta a prova bíblica da existência de Deus. Faça-se luz!"</i><br />
<i><br /></i>
<i>O seu interlocutor abanou a cabeça, ainda sem nada compreender.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Desculpe, mas isso não faz qualquer sentido. Como é que esta expressão prova a existência de Deus?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>O criptanalista suspirou, impaciente.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Ouça, Greg. A expressão em si não prova a existência de Deus. Ela tem de ser interpretada no contexto das descobertas feitas no campo da ciência, está a perceber? É essa a verdadeira razão pela qual Einstein não quis divulgar o seu manuscrito. Ele sabia que este enunciado bíblico não chegava, era necessária confirmação científica." Recostou-se no assento e arregalou os olhos, num crescente empolgamento. "Essa confirmação já surgiu. Entende? Essa confirmação já surgiu e mostra que a Bíblia, por mais incrível que pareça, encerra verdades científicas profundas. E é nesse sentido que a expressão faça-se luz! prova a existência de Deus."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Desculpe, mas continuo sem ver essa prova. Explique lá isso melhor."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Muito bem", exclamou Tomás, massageando o rosto com a ponta dos dedos enquanto reordenava os pensamentos. Inspirou fundo e fitou o seu interlocutor. "A Bíblia diz que o universo começou com uma explosão de luz, não é verdade? Deus disse: faça-se luz! E a luz fez-se."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Sim."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Einstein intuiu que este enunciado bíblico era verdadeiro. Anos depois da sua morte, a descoberta da radiação cósmica de fundo veio provar que a hipótese do Big Bang era correta. O universo nasceu de fato de uma espécie de explosão inicial, o que significa que afinal a Bíblia tinha razão: tudo começou quando a luz se fez."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Sim."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"A questão que se coloca agora é a de determinar quem é a entidade que obrigou a luz a fazer-se."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Está a falar de Deus..."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Chame-lhe Deus se quiser, o nome não interessa. O que interessa é o seguinte: o universo começou com o Big Bang e vai acabar com o Big Freeze ou com o Big Crunch. Einstein suspeitava que será com o Big Crunch."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Que é o Big Bang ao contrário."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Exato", confirmou Tomás. Voltou a inclinar-se para a frente, irrequieto de excitação. "Agora preste atenção a isto. A revelação do Princípio Antrópico, associada à descoberta de que tudo está determinado desde o início dos tempos, demonstra que sempre houve uma intenção de criar a humanidade. O mistério é saber porquê. Por que razão se criou a humanidade? Qual o seu desígnio? Por que raio andamos aqui? Por que motivo fomos criados?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Mistérios insondáveis..."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Talvez não sejam tão insondáveis quanto isso."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"O que quer você dizer? Há resposta para essas perguntas?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Claro que há." Acenou com a folha rabiscada, a linha yehi or! claramente visível sobre o papel. "A resposta está inscrita aqui na fórmula de Deus. Faça-se luz! Einstein concluiu que a humanidade não é o endgame do universo, mas um instrumento para se alcançar o endgame."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Um instrumento? Não estou a entender."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Repare na história do universo. A energia gera matéria, a matéria gera vida, a vida gera inteligência." Pausa. "E a inteligência? O que vai ela gerar?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Não faço a menor idéia."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Ao identificar o faça-se luz! com a fórmula divina, Einstein foi o primeiro a responder essa pergunta."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Ah, sim? E o que concluiu ele?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Deus."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Como?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"A inteligência gera Deus."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Greg contraiu as sobrancelhas e abanou a cabeça.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Não sei se estou a acompanhar o seu raciocínio..."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"É muito simples", murmurou Tomás. "A humanidade foi criada para desenvolver uma inteligência ainda mais sofisticada do que a biológica. A inteligência artificial. Os computadores. Daqui a centenas de anos, os computadores serão mais inteligentes do que o homem e, dentro de milhões de anos, estarão habilitados a escapar às alterações cósmicas que ditarão o fim da vida biológica. Os seres vivos baseados no átomo de carbono não serão viáveis daqui a muitos milhões de anos, quando as condições cósmicas se alterarem, mas os seres vivos baseados noutros átomos poderão sê-lo. São os computadores. Eles vão espalhar-se pelos quatro cantos do universo e, colocados em rede daqui a milhares de milhões de anos, tornar-se-ão uma única entidade, onisciente e onipresente. Nascerá o grande computador universal. O problema é que a sua sobrevivência será ameaçada pelo Big Crunch, não é? O grande computador universal ver-se-á então colocado perante este problema: como escapar ao fim do universo? A resposta vai emergir de forma terrível." Fez uma pausa. "Não há escapatória, o fim é inexorável."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Então acaba-se tudo."</i><br />
<br />
<i>Tomás sorriu, malicioso.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Não exatamente. Há uma maneira de o grande computador universal garantir que voltará a existir."</i><br />
<i><br /></i>
<i>O criptanalista fez uma pausa, como se quisesse criar suspense.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Qual?", quis saber o americano.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"O grande computador universal terá de controlar ao pormenor a forma como o Big Crunch irá ocorrer. Terá de controlar tudo segundo uma fórmula que lhe permita recriar o mesmo universo depois do Big Crunch, de modo a que tudo possa voltar a existir. Tudo, incluindo ele próprio."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Recriar tudo?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Sim. O grande computador universal vai desaparecer com o Big Crunch, mas, entretanto, conceberá uma fórmula que lhe permitirá reaparecer no novo universo. Essa fórmula implicará uma distribuição da energia com um rigor e afinação tais que, evoluindo depois de modo determinista segundo leis e constantes com valores devidamente definidos, permitirá que reapareça no novo universo a matéria, depois a vida e finalmente a inteligência, aplicando assim de novo o Princípio Antrópico."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"E que fórmula será essa?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>Tomás encolheu os ombros.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Não sabemos, é algo de tão complexo que só uma superinteligência a poderá conceber. Mas a fórmula vai existir e a sua concepção está metaforicamente inscrita na Bíblia."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Faça-se luz!", sussurrou Greg, os olhos azuis cintilando.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Nem mais." Tomás sorriu. "Faça-se luz!" Inclinou a cabeça. "A fórmula de Deus."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Espere um momento", cortou o americano, erguendo as mãos como quem pede um intervalo. "Você está a insinuar que Deus é um computador?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Toda a inteligência é computadorizada", devolveu o criptanalista num tom condescendente. "Isso foi uma coisa que eu aprendi com os físicos e os matemáticos." Bateu com o dedo na testa. "Inteligência é computação. Os seres humanos, por exemplo, são uma espécie de computadores biológicos. Uma formiga é um computador biológico simples, nós somos mais complexos. Só isso."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Essa definição parece-me um pouco forte..."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Tomás encolheu os ombros.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Ouça, se isso o incomoda não lhe chamemos grande computador universal, está bem? Chamemos-lhe... sei lá, chamemos-lhe... uh... inteligência criadora, grande arquiteto, entidade superior, o que você quiser. Não interessa o nome. O que interessa é que é essa inteligência que está na raiz de tudo."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Estou a ver."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Einstein concluiu que o universo existe para criar a inteligência que irá gerar o próximo universo. É esse o software do universo, é esse o endgame da existência. Faça-se luz! é a metáfora bíblica para a fórmula da criação do universo, a fórmula que o grande computador universal irá enunciar quando ocorrer o Big Crunch, a fórmula que provocará um novo Big Bang e tudo irá recriar. Tudo, incluindo Deus. O objetivo último do universo é recriar Deus e nós não passamos de um instrumento desse ato."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Os olhos do americano dançaram entre Tomás e Ariana. Olhou para o rascunho que o criptanalista segurava com intensidade entre os dedos e compreendeu enfim o derradeiro segredo de Einstein — a revelação da existência de Deus, do propósito do universo, do desígnio da humanidade.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Isso é... é incrível."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Tomás não respondeu. Abriu a porta do carro e espreitou para a rua. Já não chovia; uma aragem fresca acariciou-lhe o rosto, era leve e pura, quase perfumada de tão límpida. Pequenas poças de água espalhavam-se pelo passeio e pela estrada, cristalinas, refletindo como espelhos o céu denso, era como se a chuva tudo tivesse lavado. A manhã pintava-se de azul, serena e melancólica, respirando ao ritmo das bátegas de água que pingavam grossas das folhas e tombavam no solo húmido com estalidos molhados, quase musicais. A luz do sol espraiava-se com bonomia, filtrada suavemente pelas nuvens que se afastavam lá em cima, umas carregadas e pachorrentas, outras pálidas e ligeiras.</i><br />
<i><br /></i>
<i>O historiador endireitou-se cá fora, deu a mão a Ariana e ajudou-a a sair. Os seguranças americanos, que se tinham refugiado por baixo de um carvalho frondoso e ainda lacrimejante, aproximaram-se e interrogaram Greg com os olhos, como se pedissem instruções. O adido fez-lhes um sinal silencioso com a cabeça, estava tudo bem, e os homens descontraíram.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Antes de se afastar, Tomás voltou-se para a porta da limusina e encarou Greg uma derradeira vez.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"É estranho como durante tanto tempo a humanidade em geral intuiu a verdade intrínseca por detrás do universo", comentou. "Já reparou nisso?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"O que quer você dizer?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Antes de morrer, o meu pai contou-me que os hindus consideram que tudo é cíclico. O universo nasce, vive, morre, entra na não-existência e volta a nascer, num ciclo infinito, num eterno retorno a que chamam a noite e o dia de Brahman. A história hindu da criação do mundo é a do ato pelo qual Deus se torna o mundo, o qual se torna Deus."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Espantoso."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Tomás sorriu.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"É, não é?" Respirou fundo. "Ele recitou-me também um interessante aforismo de Lao Tzu, um poema taoísta que encerra o segredo do universo. Quer ouvir?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>“Sim.”</i><br />
<i><br /></i>
<i>Um súbito sopro de vento agitou os carvalhos, agreste e violento, arrancando folhas e vergastando os vultos sombrios que rodeavam a limusina molhada. Parecia agora que o céu uivava, ululando de modo quase sinistro, como se tentasse romper a doce brandura que se instalara depois da chuva, como se ameaçasse desencadear um novo e punitivo dilúvio, como se clamasse vingança por ver arrancado ali o seu mistério mais profundo.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Mas Tomás não se intimidou e recitou o poema como se ainda o escutasse dos lábios trêmulos do pai; recitou-o com fervor, com paixão, com a intensidade de quem sabe que encontrou o caminho e que percorrê-lo é o seu destino.</i><br />
<i><br /></i>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"No fim do silêncio está a resposta,</i><i><br /></i><i>No fim dos nossos dias está a morte.</i><i><br /></i><i>No fim da nossa vida, um novo início."</i></blockquote>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i>Um novo início.</i><br />
<br />
<br />
Texto extraído do livro "A fórmula de Deus", escrito por José Rodrigues dos Santos, editora Record, 2008.Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-83659193992231986682013-12-30T14:53:00.000-02:002014-01-02T14:42:38.589-02:00Lei 6 - Chame a atenção a qualquer preçoJulga-se tudo pelas aparências; o que não se vê não se conta. Não fique perdido no meio da multidão, destaque-se, fique visível a qualquer preço. Atraia a atenção das pessoas parecendo maior, mais colorido, mais misterioso do que as massas tímidas e amenas.<br />
<br />
<b>PARTE I: CERQUE O SEU NOME DE ESCÂNDALO E SENSACIONALISMO</b><br />
<br />
Chame atenção sobre você criando uma imagem inesquecível, até controvertida. Faça escândalo. Faça qualquer coisa para parecer exagerado e brilhe mais do que todos ao seu redor. Não discrimine os diferentes tipos de atenção — qualquer espécie de notoriedade lhe trará mais poder. Que falem mal, mas falem de você. As multidões tendem a agir em conjunto. Se uma pessoa interrompe o que está fazendo para ver o seu mendigo colocando tijolos na rua, outras farão o mesmo. Elas se juntam como chumaços de poeira. Aí, então, um empurrãozinho, e elas entram no seu museu ou assistem ao seu show. Para criar uma multidão você tem que fazer alguma coisa diferente e excêntrica. Qualquer tipo de curiosidade serve, pois as multidões são atraídas magneticamente pelo inusitado e inexplicável. E uma vez tendo conquistado a atenção dela, não a abandone. Se ela se desviar para outras pessoas, fará isso às suas custas.<br />
<br />
No início da sua ascensão até o topo, portanto, use toda a sua energia chamando a atenção. Mais importante: a qualidade da atenção é irrelevante. A pior coisa do mundo para o homem que quer a fama, a glória e, é claro, o poder, é ser ignorado. Brilhar mais do que as pessoas que estão ao seu redor não é uma habilidade inata. Tem de se aprender a chamar a atenção, “com tanta certeza quanto o ímã atrai o ferro”. No início da sua carreira, você deve associar o seu nome e reputação a uma qualidade, uma imagem, que o destacará dos outros. Esta imagem pode ser algo como um estilo de se vestir característico, ou um cacoete da personalidade que diverte as pessoas e elas comentam. Uma vez estabelecida a imagem, você tem uma aparência, um lugar no céu para a sua estrela.<br />
<br />
É um erro comum imaginar que esta sua aparência peculiar não deva ser polêmica, que ser atacado é uma coisa ruim. Nada está mais longe da verdade. Para evitar ser um sucesso frustrado ou ter a sua notoriedade eclipsada por outro, você não deve discriminar entre tipos diferentes de atenção; no final, todos lhe serão favoráveis. A sociedade gosta de figuras exageradas, pessoas que se colocam acima da mediocridade geral. Não tenha medo, portanto, das qualidades que o tornam diferente dos outros e chamam atenção para você. Corteje a controvérsia, até o escândalo. É melhor ser atacado, até caluniado, do que permanecer ignorado. Todas as profissões obedecem a esta lei, e todos os profissionais devem ter um pouco de exibicionista. Se você se encontrar numa posição inferior, com pouca oportunidade de chamar atenção, um truque que funciona é atacar a pessoa mais visível, a mais famosa, a mais poderosa que encontrar. Um ataque difamador a uma pessoa em posição de poder teria um efeito semelhante. Lembre-se, entretanto, de usar essas táticas raramente depois de chamar a atenção do público, para não desgastá-la.<br />
<br />
Uma vez em evidência, você deve sempre renovar, adaptar e variar o seu método de chamar a atenção. De outra forma, o público se cansa, se acostuma com você e volta os olhos para uma nova estrela. O jogo requer constante vigilância e criatividade.<br />
<br />
Compreenda: as pessoas se sentem superiores àquelas cujas ações elas são capazes de prever. Se você lhes mostrar quem está no controle jogando contra as suas expectativas, ao mesmo tempo infunde respeito e retesa os fios da atenção que estão escapulindo.<br />
<br />
<br />
<b>PARTE II: CRIE UM AR DE MISTÉRIO</b><br />
<br />
Em um mundo cada vez mais banal e familiar o que parece enigmático chama logo atenção. Nunca deixe claro demais o que você está fazendo ou vai fazer. Não revele todas as suas cartas. Um ar de mistério acentua a sua presença; também cria expectativa — todos estarão olhando para ver o que acontecerá em seguida. Use o mistério para enganar, seduzir e até assustar.<br />
<br />
No passado, o mundo estava cheio de coisas aterrorizantes e desconhecidas — doenças, desastres, déspotas caprichosos, o próprio mistério da morte. O que não podíamos compreender, reimaginávamos na forma de mitos e espíritos. Com o passar dos séculos, todavia, conseguimos, por meio da ciência e da razão, dar luz à escuridão: o que era misterioso e proibido se tornou familiar e confortável. Mas esta luz tem um preço: num mundo cada vez mais banal, sem mais espaço para os seus mistérios e mitos, nós intimamente ansiamos por enigmas, pessoas ou coisas que não possam ser instantaneamente interpretadas, compreendidas, consumidas.<br />
<br />
Este é o poder do misterioso: ele convida a várias interpretações, excita a nossa imaginação, nos seduz a acreditar que esconde algo maravilhoso. O mundo se tornou tão familiar, e seus habitantes tão previsíveis, que aquilo que estiver envolto em mistério quase sempre atrai a luz dos refletores e nos faz olhar. Não imagine que para criar um ar de mistério você tenha de ser magnífico e espantoso. O mistério que está entremeado no seu comportamento diário, e é sutil, tem esse poder de fascinar e atrair atenção. Lembre-se: as pessoas, em sua maioria, são francas, são como um livro aberto, raras se preocupam em controlar suas palavras ou imagem, e são irremediavelmente previsíveis. Contendo-se apenas, ficando em silêncio, pronunciando de vez em quando frases ambíguas, aparentando deliberadamente incoerência e sutil excentricidade, você emanará uma aura de mistério. E as pessoas ao redor, tentando constantemente interpretar você, ampliarão essa aura.<br />
<br />
Artistas e charlatões compreendem o elo vital entre ser misterioso e atrair o interesse.<br />
<br />
Um ar de mistério pode fazer o medíocre parecer inteligente e profundo. É muito fácil — fale pouco sobre o seu trabalho, provoque e excite com comentários sedutores, até contraditórios, depois recue e deixe que os outros tentem entender. Pessoas misteriosas colocam os outros numa espécie de situação inferior — a de tentar entendê-las. Em graus controláveis, elas também evocam o medo que envolve tudo que é incerto ou desconhecido. Todos os grandes líderes sabem que uma aura de mistério chama atenção e cria uma presença intimidante.<br />
<br />
Se a sua posição social o impede de envolver totalmente seus atos em mistério, você deve pelo menos aprender a se fazer menos óbvio. De vez em quando, aja de uma forma que não combine com a idéia que as outras pessoas têm de você. Assim você mantém as pessoas ao seu redor na expectativa, provocando o tipo de atenção que o torna poderoso. Feita corretamente, a criação do enigma pode também atrair o tipo de atenção que inspira terror no seu inimigo.<br />
<br />
Se você se vir numa armadilha, encurralado e na defensiva, tente uma experiência simples: faça algo que não possa ser facilmente explicado ou interpretado. Escolha uma ação simples, mas execute-a de uma forma que desestabilize o seu adversário, com muitas interpretações possíveis, tornando obscuras as suas intenções. Não seja simplesmente imprevisível (embora esta tática também possa dar certo — ver Lei 17).Vai parecer que a sua loucura não tem propósito, é sem pé nem cabeça, sem nenhuma explicação possível. Se você fizer isso certo, vai deixar todos tremendo de medo e as sentinelas abandonarão seus postos. Chame a isso de tática da “loucura fingida de Hamlet”, pois Hamlet a usa com grande efeito na peça de Shakespeare, assustando o padrasto Cláudio com seu comportamento enigmático. O misterioso faz a sua força parecer maior, o seu poder mais aterrorizante.<br />
<br />
O INVERSO<br />
<br />
No início da sua subida ao topo, você deve chamar atenção a todo custo, mas durante a subida você deve ir constantemente se adaptando. Não canse o público sempre com a mesma tática. Um ar de mistério funciona como uma maravilha para aqueles que precisam desenvolver uma aura de poder e se fazer notados, mas deve parecer uma atitude comedida e controlada. Não deixe que o seu ar de mistério se transforme lentamente numa reputação de trapaceiro. O mistério que você criar deve parecer um jogo, divertido e inofensivo. Reconheça quando está indo longe demais, e recue.<br />
<br />
Há momentos em que a necessidade de atenção deve ser adiada, e quando a última coisa que se quer é o escândalo e a notoriedade. A atenção que você chama jamais deve ofender ou desafiar a reputação dos que estão acima de você — não, de maneira alguma, se eles estiverem seguros. Comparado com eles, você não só parecerá mesquinho como desesperado. É uma arte saber quando chamar a atenção e quando se retrair.<br />
<br />
Por conseguinte, não pareça estar excessivamente querendo atenção, porque isso é sinal de insegurança, e insegurança afasta o poder. Compreenda que existem momentos em que não é interessante para você ser o centro das atenções. Na presença de um rei ou rainha, por exemplo, ou o equivalente, incline-se e fique na sombra; não entre em competição.<br />
<br />
<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Quando você não se declara imediatamente, cria expectativas...... Misture um pouco de mistério em tudo, e o próprio mistério despertará a veneração. E quando você explicar, não seja muito explícito... Desta maneira, você imita o jeito divino quando faz os homens ficarem observando maravilhados.</i> Baltasar Gracián, 1601-1658</blockquote>
<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Ostente e seja visto... O que não é visto é como se não existisse... Foi a luz que deu brilho a toda a criação. A exibição preenche muitos espaços vazios, encobre deficiências, e faz tudo renascer, especialmente se apoiada pelo mérito autêntico. </i>Baltasar Gracián, 1601-1658</blockquote>
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Se acontecer de o cortesão participar de uma luta num espetáculo publico como uma justa (...) deve assegurar que o seu cavalo esteja belamente ajaezado, que ele mesmo esteja adequadamente vestido, com divisas apropriadas e expedientes engenhosos para atrair o olhar dos espectadores em sua direção com tamanha certeza quanto o ímã atrai o ferro.</i> Baidassare Castiglione, 1478-1529</blockquote>
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000<br />
<br />Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-19162443565368612672013-12-26T14:48:00.000-02:002013-12-26T14:48:00.616-02:00Lei 5 - Muito depende da reputação: dê a própria vida para defendê-laA reputação é a pedra de toque do poder. Com a reputação apenas você pode intimidar e vencer; um deslize, entretanto, e você fica vulnerável, e será atacado por todos os lados. Torne a sua reputação inexpugnável. Esteja sempre alerta aos ataques em potencial e frustre-os antes que aconteçam. Enquanto isso, aprenda a destruir seus inimigos minando as suas próprias reputações. Depois afaste-se a deixa a opinião pública acabar com eles.<br />
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As pessoas que nos cercam, até nossos melhores amigos, serão sempre até um certo ponto misteriosas e inescrutáveis. Suas personalidades possuem nichos secretos que elas não revelam. Se ficarmos pensando muito nisso, o mistério dos outros pode ser uma coisa incômoda porque tornaria impossível para nós julgar realmente as outras pessoas. Portanto, preferimos ignorar este fato e julgar as pessoas pela aparência, pelo que é mais visível aos nossos olhos — roupas, gestos, palavras, atos. Na esfera social, as aparências são o barômetro de quase todos os nossos julgamentos, e você não deve se iludir acreditando em outra coisa. Um escorregão em falso, uma estranha ou repentina mudança na sua aparência, pode se mostrar desastroso. Esta é a razão da suprema importância de fazer e manter uma reputação que tenha sido criada por você mesmo. Essa reputação o protegerá do perigoso jogo das aparências, distraindo os olhos inquisidores dos outros e impedindo que eles saibam como você é realmente, e dando a você um certo controle sobre como o mundo o julga — uma posição poderosa. A reputação tem um poder mágico: com um só golpe da varinha, ela pode dobrar a sua força. Pode também fazer as pessoas fugirem de você em disparada. Se as mesmas ações parecem brilhantes ou horríveis, depende inteiramente da reputação de quem as praticou.<br />
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No início, você deve se esforçar para criar uma reputação por uma qualidade importante, seja generosidade, honestidade ou astúcia. Esta qualidade o colocará em evidência e fará com que falem de você. Aí, então, faça com que o maior número possível de pessoas conheça a sua reputação (sutilmente, entretanto: tome cuidado para construí-la aos poucos, e sobre bases firmes), e veja como ela se espalha como fogo selvagem.<br />
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Uma sólida reputação aumenta a sua presença e exagera a sua força sem que você precise gastar muita energia. Ela também pode criar uma aura ao seu redor que infunde respeito, até medo.<br />
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Como se diz, a sua fama inevitavelmente chega antes, e se ela inspira respeito, grande parte do trabalho já estará feito quando você entrar em cena, ou pronunciar uma simples palavra. O seu sucesso parece predestinado por seus triunfos no passado. Faça com que a sua reputação seja simples e baseada numa qualidade autêntica. Esta única qualidade — a eficiência, digamos, ou a sedução — torna-se uma espécie de cartão de visita que anuncia a sua presença e enfeitiça os outros. A fama de honestidade permitirá que você pratique todos os tipos de fraudes. Talvez você já tenha manchado a sua reputação, e não possa mais criar outra. Sendo assim, é prudente associar-se com alguém cuja imagem se contraponha a sua, usando o bom nome dessa pessoa para limpar e melhorar o seu. E difícil, por exemplo, limpar a reputação de desonesto sozinho; mas um modelo de honestidade pode ajudar. Reputação é um tesouro que deve ser cuidadosamente colecionado e guardado. Especialmente quando você está começando, deve protegê-la rigidamente, prevendo todos os ataques. Quando ela estiver sólida, não fique com raiva ou na defensiva com os comentários difamadores de seus inimigos — isso revela insegurança, falta de confiança na sua reputação. Pegue o caminho mais fácil, e jamais demonstre desespero na hora de se defender. Por outro lado, o ataque à reputação de outro homem é uma arma poderosa, particularmente se você tem menos poder do que ele. Ele tem muito mais a perder numa disputa como essa, e a sua própria reputação, ainda pequena, é um alvo pequeno quando ele tentar atirar de volta. Mas esta tática deve ser praticada com habilidade; você não deve parecer interessado numa vingança mesquinha. Se você não for esperto na hora de prejudicar a reputação do seu inimigo, estará inadvertidamente arruinando a sua.<br />
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Thomas Edison, considerado o inventor que controlou a eletricidade, acreditava que um sistema viável deveria se basear na corrente contínua (DC). Quando o cientista sérvio Nikola Tesla pareceu ter conseguido criar um sistema baseado na corrente alternada (AC), Edison ficou furioso. Ele decidiu acabar com a reputação de Tesla, fazendo o público acreditar que o sistema AC era inerentemente inseguro, e Tesla responsável por promovê-lo.<br />
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Com este objetivo, ele capturou animaizinhos domésticos de todos os tipos e os eletrocutou, matando-os, com uma corrente AC. Não bastando isso, em 1890 ele conseguiu que as autoridades da prisão do estado de Nova York procedessem à primeira execução de um condenado à morte com choque elétrico, usando uma corrente AC. Mas todas as experiências de eletrocussão realizadas por Edison tinham sido com pequenas criaturas; a carga era muito fraca, e o homem ficou só meio morto. Na execução que talvez tenha sido a mais cruel autorizada pelo estado no país, o procedimento teve de ser repetido. Foi um espetáculo horrível. Embora, a longo prazo, o que subsistiu foi o nome de Edison, na época a sua campanha prejudicou mais a sua própria reputação do que a de Tesla. Ele se retraiu. A lição é simples — não exagere em ataques como este, porque chamará mais atenção para a sua própria índole vingativa do que para a pessoa que você está difamando. Quando a sua própria reputação é sólida, use táticas mais sutis, como a sátira e o ridículo, para enfraquecer o seu adversário enquanto você se mostra um charmoso brincalhão. O poderoso leão brinca com o camundongo que cruza o seu caminho — qualquer outra atitude prejudicaria a sua temível reputação.<br />
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O INVERSO<br />
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Não há inverso. A reputação é crítica; não há exceções a esta lei. Talvez, não se importando com o que as pessoas pensem a seu respeito, você ganhe fama de insolente e arrogante, mas esta por si só é uma imagem valiosa — Oscar Wilde a usou com grande proveito. Visto que temos de viver em sociedade e depender da opinião alheia, nada se ganha negligenciando a própria reputação. Quando você não se preocupa com a maneira como as pessoas o vêem, está deixando que os outros decidam isso por você. Seja dono do seu próprio destino, e também da sua reputação.<br />
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<blockquote class="tr_bq">
<i>Portanto, eu desejaria que o cortesão defendesse o seu valor inerente com habilidade e astúcia, e garantisse que, onde quer que chegue como estrangeiro, seja precedido por uma boa reputação... Pois a fama que parece apoiar-se nas opiniões de muitos favorece uma certa fé inabalável no valor de um homem, o qual em seguida é facilmente reforçado nas mentes já predispostas e preparadas</i>. Baldassare Castiglione, 1478-1529</blockquote>
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-28440891877451998112013-12-25T19:40:00.000-02:002013-12-25T19:40:00.828-02:00Qual a sua fome?<b>Fique atento:</b> O português desse texto está escrito no português de Portugal.<br />
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<i>Manuel afagou carinhosamente o braço do filho.</i><br />
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<i>"Quero pedir-te desculpa por não ter sido um melhor pai."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Oh, não diga isso. O pai foi formidável."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Não fui e sabes que não fui." Arfou. "Fui um pai ausente, sem paciência para ti, mergulhado apenas nas minhas equações e teoremas, nas minhas investigações, no meu mundo."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Não se preocupe. Sempre tive muito orgulho em si, sabe? É melhor um pai que procura nas equações os segredos do universo do que um pai que não sabe o que procura."</i><br />
<i><br /></i>
<i>O velho matemático sorriu, encontrava energia onde supunha não a ter.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Oh, sim. Muita gente não sabe o que procura." Fixou os olhos no teto. "A maior parte das pessoas passa por esta vida como se fosse sonâmbula, percebes? Querem possuir coisas, fazer dinheiro, consumir tudo. As pessoas estão tão inebriadas com o acessório que perdem de vista o essencial. Desejam um novo carro, uma casa maior, umas roupas mais vistosas. Querem perder peso, tentam agarrar a juventude, sonham em impressionar os outros." Respirou fundo, para recuperar o fôlego, e olhou para o filho. "Sabes por que o fazem?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Porquê?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Porque têm fome de amor. Têm fome de amor e não o encontram. É por isso que se voltam para o acessório. Os carros, as casas, as roupas, as jóias... tudo isso são substitutos. Não têm amor e procuram substitutos." Abanou a cabeça. "Mas isso não resulta. O dinheiro, o poder, a posse de coisas... nada substitui o amor. É por isso que, quando compram um carro, uma casa, uma peça de roupa, a satisfação que sentem é efêmera. Acabaram de comprar mas procuram já um novo carro, uma nova casa, uma nova peça de roupa. Procuram algo que não está ali." Nova pausa para respirar. "Nenhuma dessas coisas traz satisfação duradoura porque nenhuma dessas coisas é verdadeiramente importante. Estão todos com pressa à procura de algo que não encontram. Quando compram o que querem, descobrem que se sentem vazios. É porque o que compraram não era afinal o que queriam. Querem amor, não querem coisas. As coisas não passam de substitutos, de acessórios que mascaram o essencial."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Mas o pai não foi assim..."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Assim, como?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Assim... sempre a querer comprar coisas, sempre preocupado com o dinheiro."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Eu andei noutras corridas. Nunca quis ter coisas, é verdade. Mas vivi a minha vida à procura do conhecimento."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Está a ver? Isso é bem melhor, não?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Claro que é melhor. Mas o preço foi negligenciar-te. Não sei se isso foi bom." Arfou de novo. "Sabes, chego à conclusão de que o mais importante é dedicarmo-nos às pessoas. Dedicarmo-nos à família e à comunidade. Só isso nos preenche. Só isso tem significado."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Mas não encontrou significado no seu trabalho?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Claro que sim."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Está a ver? Valeu a pena."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Mas o preço foi negligenciar a família..."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Oh, não faz mal. Eu não me queixo. A mãe não se queixa. Estamos bem e temos orgulho em si."</i><br />
<i><br /></i>
<i>Voltaram a abraçar-se e, por momentos, o silêncio impôs-se naquele pequeno quarto.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Nunca percebi por que razão as pessoas não vêem o que me parece óbvio e andam tão ocupadas a fazer coisas irrelevantes. Zangam-se, afligem-se, preocupam-se com o que não tem importância, desgastam-se com o acessório. Foi um pouco por isso que me refugiei na matemática, sabes? Achei que nada era importante a não ser percebermos a essência do mundo que nos rodeia."</i><br />
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<i>"Foi isso o que procurou na matemática?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Sim. Andei à procura da essência das coisas. Descubro agora, não sei se com embaraço, que, afinal, andei todo este tempo à procura de Deus." Sorriu. "Através da matemática, andei à procura de Deus."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"E encontrou-O?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>O velho pareceu desfocar os olhos.</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Não sei", acabou por dizer. "Não sei." Suspirou. "Encontrei algo de muito estranho. Não sei se é Deus, mas é algo de... extraordinário."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"O quê? O que encontrou?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Encontrei inteligência na concepção do universo. Isso é inegável. O universo está concebido com inteligência. Às vezes descobrimos uma coisa curiosa na matemática, uma qualquer brincadeira que, à primeira vista, parece absolutamente irrelevante. Mais tarde acabamos por constatar que aquela curiosidade numérica desempenha afinal um fundamental papel na estruturação de alguma coisa feita pela natureza."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Estou a ver."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"O que é mais estranho na natureza é que tudo está ligado. Percebes? Mesmo coisas que parecem absolutamente díspares, sem relação umas com as outras... mesmo essas coisas estão ligadas. Quando raciocinamos, alguns electrões deslocam-se no nosso cérebro. Pois essa alteração ínfima acaba por influenciar, mesmo que minusculamente, a história de todo o universo." Fez um olhar sonhador. "Interrogo-me se nós não somos Deus."</i><br />
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<i>"Como assim? Não percebo..."</i><br />
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<i>"Ouve, Tomás. Deus é tudo. Quando olhas para algo da natureza, estás a ver uma faceta de Deus. Ora, como nós fazemos parte da natureza, nós somos também Deus. Entendes?"</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Estou a ver."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"É como se Deus fosse o nosso corpo e nós fôssemos os neurônios desse corpo." Falava pausadamente, como se cada palavra fosse a última, mas atrás dela vinha outra e outra ainda, o velho matemático descobria forças onde já não as parecia ter. "Imagina os nossos neurônios. Com toda a certeza, cada neurônio não sabe que faz parte da fatia pensante e consciente do meu corpo, pois não? Cada um acha que está separado de mim, que não faz parte de mim, que tem a sua individualidade. E, no entanto, a minha consciência é a soma de todas essas individualidades, as quais, aliás, não são individualidades nenhumas, são antes partes de um todo. Quer dizer, uma célula do meu braço não pensa, é como uma pedra na natureza, não tem consciência. Mas os neurônios no cérebro pensam. Eles, se calhar, encaram-me a mim como se fosse Deus e não se apercebem de que eu sou eles em conjunto. Da mesma maneira, nós, os seres humanos, talvez sejamos os neurônios de Deus e não nos apercebemos disso. Achamos que somos individuais, separados do resto, quando afinal fazemos parte de tudo." Sorriu. "Einstein acreditava que Deus é tudo o que vemos e ainda tudo o que não vemos."</i><br />
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Texto extraído do livro "A fórmula de Deus", escrito por José Rodrigues dos Santos, editora Record, 2008.</div>
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Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4330430328161712265.post-60343910414125073262013-12-23T14:44:00.000-02:002013-12-23T14:44:00.131-02:00Lei 4 - Diga menos que o necessárioQuando você procura impressionar as pessoas com palavras, quanto mais você diz, mais comum aparenta ser, e menos controle da situação parece ter. Mesmo que você esteja dizendo algo banal, vai parecer original se você o tornar vago, amplo e enigmático. Pessoas poderosas impressionam e intimidam falando pouco. Quanto mais você fala, maior a probabilidade de dizer uma besteira.<br />
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O poder é de várias maneiras um jogo de aparências, e, quando você diz menos do que o necessário, inevitavelmente parecerá maior e mais poderoso do que é. O seu silêncio deixará as pessoas pouco à vontade. Os seres humanos são máquinas de interpretar e explicar e explicar: precisam saber o que o outro está pensando. Se você controla cuidadosamente o que revela, eles não conseguirão penetrar nas suas intenções ou nos seus pensamentos.<br />
<br />
As respostas curtas que você der e o seu silêncio os colocarão na defensiva, e eles, nervosos, se apressarão a preencher o silêncio com diversos comentários que acabam revelando informações valiosas sobre eles mesmos e as suas fraquezas. Eles sairão de uma reunião com você sentindo-se roubados, e irão para casa pensar em todas as palavras que você disse. Esta atenção extra às suas parcas observações só aumentará o poder que você tem.<br />
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Dizer menos do que o necessário não é só para os reis e estadistas. Em quase todas as áreas da vida, quanto menos você diz, mais profundo e misterioso parece. Quando jovem, o artista Andy Warhol teve a revelação de que era impossível convencer as pessoas a fazer o que se queria delas apenas conversando. Elas se voltariam contra você, subverteriam os seus desejos, desobedeceriam a você por simples perversidade. Certa vez ele disse a um amigo, “Aprendi que na verdade você tem mais poder quando fica de boca fechada”.<br />
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Falando menos do que o necessário, você cria a aparência de significado e de poder. Também, quanto menos você diz, menor é o risco de falar uma bobagem ou até algo perigoso. Em 1825, um novo czar, Nicolau I, subiu ao trono) da Rússia. Imediatamente houve uma rebelião liderada por liberais que exigiam que o país se modernizasse — que suas indústrias e estruturas civis se igualassem às do resto da Europa. Esmagando brutalmente esta revolta (a Insurreição de Dezembro), Nicolau I condenou à morte um de seus líderes, Kondrati Rileive. No dia da execução, Rileiev subiu ao patíbulo, a corda no pescoço. O alçapão se abriu — mas, quando Rileiev ficou suspenso no ar, a corda se rompeu e ele foi ao chão. Na época, essas ocorrências eram sinal da providência ou vontade divina e quem se salvasse da morte dessa forma costumava ser perdoado. Quando Rileive se levantou, sujo e arranhado, mas acreditando que estava com o pescoço à salvo, gritou para a multidão, “Estão vendo, na Rússia não sabem fazer nada direito, nem mesmo uma corda!” Um mensageiro seguiu imediatamente para o Palácio de Inverno com a notícia do enforcamento que não tinha acontecido. Apesar de irritado com essa reviravolta frustrante, Nicolau I começou a assinar o perdão. Mas aí: Releiev disse alguma coisa depois deste milagre?”, o czar perguntou ao mensageiro. “Senhor”, o mensageiro respondeu, “ele disse que na Rússia não se sabe nem fazer uma corda.” “Nesse caso”, disse o czar, “vamos provar o contrário”, e rasgou o perdão. No dia seguinte, Rileiev foi para a forca de novo. Desta vez a corda não se partiu.<br />
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Aprenda a lição: As palavras, depois de pronunciadas, não podem ser tomadas de volta. Mantenha-as sob controle. Cuidado particularmente com o sarcasmo: a satisfação momentânea que se tem dizendo frases sarcásticas será menor do que o preço que se paga por ela.<br />
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O INVERSO<br />
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Há momentos em que não é sensato ficar calado. O silêncio pode despertar suspeitas e até insegurança, especialmente nos seus superiores; um comentário vago e ambíguo pode expor você a interpretações com as quais não contava. Ficar em silêncio e dizer menos do que o necessário são técnicas que devem ser praticadas com cautela, portanto, e na ocasião certa. Ocasionalmente, é mais sensato imitar o bobo da corte, que se faz de tolo mas sabe que é mais esperto do que o rei. Ele fala e fala, e distrai todo mundo, ninguém desconfia de que ele não é tão tolo assim.<br />
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Às vezes, as palavras também funcionam como uma espécie de cortina de fumaça quando você quer enganar os outros. Enchendo os seus ouvintes com palavras, você os distrai e hipnotiza; quanto mais você falar, menos eles desconfiam de você. A verborragia não é percebida como maliciosa e manipuladora, mas como sinal de incompetência e ingenuidade. Isto é o inverso da política do silêncio utilizada pelos poderosos: falando mais, e parecendo mais fraco e menos inteligente do que é, você pratica a dissimulação com muito mais facilidade.<br />
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<i>Não abra a boca antes dos seus subordinados. Quanto mais você permanecer calado, mais rápido os outros começam a dar com a língua nos dentes. Quando eles movem os lábios e dão com a língua nos dentes, eu posso compreender suas verdadeiras intenções... Se o soberano não é misterioso, os ministros terão oportunidade de se aproveitar.</i> Han-fei-tsé, filósofo chinês, século 3 a.C.</blockquote>
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Fonte: "As 48 leis do Poder", Robert Greene e Joost Elffers, Editora Rocco, 2000Alessandro Emerichhttp://www.blogger.com/profile/12485957233765945706noreply@blogger.com