sexta-feira, 2 de abril de 2010

[parte 08] O mundo de Sofia - O homem no centro

Sofia desce para tomar café com sua mãe, questiona-a se pegou o jornal e sua mãe pede pra ela ver. Sofia atende sua mão obviamente com a finalidade principal de ver se seu professor misterioso já havia lhe respondido. Só encontra jornais e os traz pra mãe que aproveita pra alfinetá-la sobre seu repentino interesse por jornais. Sofia então percebe que foi bom não ter comentado mais nada sobre suas lições de filosofia, seu professor filósofo e decide também não contar nada a sua mãe sobre a echarpe que encontrou.

Algum tempo depois Sofia foi ao seu esconderijo para pensar melhor nas folhas sobre "destino" que havia recebido quando seu coração quase sai pela boca ao ver um envelope branco. Como alguém poderia saber que ela iria sempre ali? O curioso é que o envelope branco estava úmido nas beiradas novamente e também possuía 2 marcas fortes.

Meio que com a cabeça rodando de tantos pensamentos e perguntas simultâneas, Sofia abre e lê a resposta à sua carta. Seu professor (que assina como Alberto Knox) agradece a gentileza do convite mas o recusará por hora. Diz que vai se apresentar a ela no futuro, mas não por enquanto. Diz também que um pequeno ajudante fará o papel de mensageiro porque está muito arriscado levar suas cartas pessoalmente. Pede também a Sofia que, quando ela quiser mandar alguma carta pra ele, deixe sua mensagem dentro de um envelope rosa com um torrão de açúcar ou um doce para que o mensageiro pudesse entender e levar a correspondência até ele.

Ainda meio atordoada, Sofia vê que no verso havia algumas frases e perguntas, como sempre seu professor faz antes do próximo assunto:
  • Será que existe um sentimento natural de pudor?
  • Mais inteligente é aquele que sabe que não sabe.
  • O verdadeiro conhecimento vem de dentro.
  • Quem sabe o que é certo acaba fazendo a coisa certa.
Sofia, como uma boa aluna, começa fazer seu exercício de casa e passa a pensar sobre todos esses pontos. Perdida no tempo devido aos seus pensamentos, subitamente Sofia escuta um estalo próximo ao seu esconderijo. Depois outro. Ouve então algo ofegante se aproximando. Será seu professor? Percebe então que a respiração parece de um animal, não de uma pessoa. Algo está nitidamente próximo dela. Ela fica completamente paralisada e então um enorme cão labrador aparece em sua frente com um envelope amarelo, deixa no colo de Sofia e volta para a mata. Sofia só volta a conseguir esboçar alguma reação alguns instantes depois que o cão vai embora então finalmente chora pelo susto.

Um cão! É claro! Por isso as marcas e a umidade nos envelopes. Como ela não pensou nisso antes? Por isso o torrão ou docinho com o envelope dela quando ela quiser mandar algo ao professor. Ainda meio abalada, abre o envelope para ler as página datilografadas.

Antes de entrar no estudo da filosofia, seu professor misterioso escreve que o pequeno mensageiro se chama Hermes e é um cão muito bonzinho e manso. Ele cita que o nome não é por acaso, dado que Hermes era narrado pelo povo antigo como o mensageiro dos deuses na mitologia e era o deus dos marinheiro. Também cita uma curiosidade dizendo que a palavra hermético vem de Hermes e quer dizer oculto, separado, como o professor e Sofia estavam e precisam estar naquele momento. Há também uma pequena citação pedindo a Sofia que guarde a echarpe de Hilde, levando Sofia a acreditar que o professor misterioso também conhecia Hilde.

O homem no centro

Por volta de 450 a.C., Atenas transformou-se no centro cultural do mundo grego. Os filósofos eram pesquisadores naturais e o centro de interesse da sociedade passou a ser o homem e sua posição na sociedade.

Atenas desenvolveu aos poucos uma democracia com assembléias populares e tribunais, mas quem quisesse participar necessitava ter algum conhecimento mínimo (como falar bem ou retórica), por isso recorriam aos filósofos da cidade. Esses filósofos vinham de todos os cantos da Grécia e se denominavam Sofistas. Tinham em comum o olhar extremamente crítico frente a mitologia tradicional. Contudo algo em comum também era o fato de que esses filósofos simplesmente rejeitavam o que eles consideravam "especulação filosófica desnecessária", ou seja, buscar respostas seguras e definitivas para questões que ele acreditavam pertencer aos mistérios da natureza.

Referente ao comportamento humano temos a famosa frase "O homem é a medida de todas as coisas", palavras de Protágoras (487 - 420 a.C.) transmitindo que o certo e errado, bem e mal são medidas definidas e medidas pelo homem, não definidos pelos deuses como pregava a mitologia na época. Essa conclusão vinha do fato que ninguém poderia afirmar ou negar a existência de um deus ou deuses (essa afirmação sobre as indefinições dos deuses era original de um grupo conhecido como agnósticos).

Com esses pensamentos e após calorosos debates, chegavam a conclusões que nossos comportamentos, como o pudor por exemplo, não eram natos (natural) de nós, ser humanos, mas sim definidos por usos e costumes de uma sociedade.