quarta-feira, 7 de abril de 2010

[parte 11] O mundo de Sofia - Platão

Sofia acorda próximo as 5 da manhã e se assusta por estar de vestido. Lembra então de todo o ocorrido da noite anterior e vê que a fita de vídeo ainda esta em cima do seu guarda-roupa. "Ufa! Não foi tudo um sonho... Ou quase tudo?" pensa. Desce então bem devagar para não acordar sua mãe e vai até seu esconderijo ver se tem algo novo de seu professor misterioso.

O dia está lindo e tudo está levemente umedecido pelo orvalho da manhã. Pra sua decepção não acha nada em seu esconderijo então senta e começa a pensar sobre as perguntas feitas pelo suposto Platão, no vídeo da noite anterior.

Após muito refletir e filosofar, escuta alguns estalos e vê um labrador chegando com um envelope amarelo na boca. Era Hermes. Ele fica um pouco e após algum tempo ele sai em direção a floresta. Ela tenta segui-lo, mas não consegue e fica pelo caminho. Senta então em um tronco próximo a uma clareira e começa a ler as páginas datilografadas do envelope amarelo.

Platão

Outro filósofo de igual genialidade socrástica foi Platão (427-347 a.C.). Tinha vinte e nove anos quando seu mestre Sócrates bebeu o veneno que o levou a morte. Esse fato o marcou profundamente dado o tempo que conviveu com seu mestre. As cicatrizes ficam evidentes em todos seus escritos.

Graças à primeira faculdade criada por ele (chamada de academia em homenagem ao deus da sabedoria Academos) seus escritos são os mais bem conservados até hoje, propiciando a maioria do conhecimento sobe essa fase da filosofia. Ele particularmente adorava matemática. Isso de dava porque era racionalista e a matemática, em sua opinião, era a ciência que mais representava o racional ou aquilo que é imutável.

Platão, como Sócrates, também é um ícone no meio filosófico porque cunhou conceitos e teorias que são discutidas até os dias de hoje. Ele junta quase todos os conceitos filosóficos da época. Desde a filosofia natural até a filosofia
voltada para o homem e sua sociedade.

Platão aceitava a idéia de haver o algo eterno e imutável convivendo junto com o que “flui” na natureza, conceito pregado pelos sofistas. Contudo ele traz essa mesma idéia para o homem e a sociedade, algo que os sofistas e o próprio Sócrates não tinham ainda desenvolvido. Em suma, ele se acredita e procura descobrir o que “é eternamente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom” independente da sociedade que viva, indo contra o que diziam os sofistas (para os sofistas, a sociedade é que definia tais regras).

Para Platão tudo (absolutamente tudo) era feito por algum elemento básico (idéias de Empédocles e Demócrito), mas ele evoluiu essa idéia dizendo que há moldes (formas) em um mundo chamado de mundo das idéias para que se possa dar forma aos elementos básicos, montando elementos que conhecemos em nosso dia a dia. Quando esse molde é usado, um elemento é criado e sai do mundo das idéias para passar a viver no mundo dos sentidos, o mundo que flui e onde esse elemento é visível, nasce, se degrada, desgasta e morre com o passar do tempo... Enfim, o mundo que vivemos.

Por exemplo, peguemos os cavalos. Todos os cavalos são iguais? Sim se você pensar na forma “cavalo”, ou seja, embora cada cavalo tenha cor, tamanho e algumas outras características diferentes, é bem improvável que você confunda um cavalo com um hipopótamo. Isso acontece porque, segundo Platão, há uma forma que cria os elementos cavalos e detém em si todo conhecimento sobre cavalos. Portanto a idéia que ao conseguir ver essa forma veríamos também o que seria um cavalo perfeito é bem razoável, o que se aproxima de seu objetivo de algo imutável, belo e perfeito. Um exemplo prático disso são formas de bolos. Embora não vemos a forma quando vemos os bolos numa padaria, aceitamos que a forma possui o molde perfeito pra os bolos, independente se os bolos saem perfeitos ou não.

Essa teoria do mundo dos sentidos (onde vivemos e está tudo o que vemos) e mundo das idéias (onde estão as “imagens padrão” ou imagens primordiais das idéias) é chamada pela filosofia de teoria das idéias de Platão.

Com relação ao homem, Platão dizia que o corpo era o elemento que pertence ao mundo dos sentidos, mas a alma que esse corpo carrega, essa pertence ao mundo das idéias. Quando você nasce, sua alma (o molde de você) forma seu corpo e passa a habitar a terra. Então ela perde a memória do que conhecia no mundo das idéias, contudo as vezes acaba relembrando algumas coisas em dados momentos, explicando assim aquelas sensações do “algo me diz” que temos.

Mas Platão sofreu muito com a sociedade que vivia. Segundo ele a sociedade acaba sempre por matar aqueles que tentam trazer a verdade a tona porque gosta de ver apenas o que estão habituados a ver. Ele chega a descrever um governo utópico onde a razão (aquilo que nunca muda) deveria governar. Esse governo deveria ser formado pela cabeça (governantes ou a razão regida pela sabedoria), peito (soldados ou a vontade guiada pela coragem) e baixo do ventre (trabalhadores ou o desejo regido pela temperança), como funciona o corpo humano, mostrando que esse arranjo tem funcionamento perfeito e comprovado. Seu governo descrito também possui leis reintroduzindo as noções de propriedade privada e laços familiares.

Por ultimo, Platão defende a igualdade feminina dizendo que se você instruir uma mulher, ela terá total condição de executar o que um homem executa, mas persiste na idéia que, em seu governo utópico, as mulheres devem continuar a ficar abaixo dos homens.

Então Sofia se põe a pensar novamente e filosofar sob a ótica de Platão. Pensa sobre formas, modelos, mundo das idéias e principalmente se já tinha vivido antes. Será que ela trazia algo imune ao tempo, uma jóia, uma pepita de ouro que permaneceria para sempre?