segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Premiação para ideias nas empresa: Solução ou problemas?

Uma das grandes diferenças entre as empresas orientais e acidentais é a forma de motivar os funcionários. Para estimular a equipe a participar com ideias, muitas organizações têm o hábito de pagar por elas. parece uma forma eficiente, mas, na maioria das vezes, ocorre o efeito inverso. Como é possível? Acompanhe o raciocínio.

No início, as pessoas ficam animadas com a possibilidade de ganhar algum dinheiro extra. Mas, como a empresa só pagará por ideias aceitas, é grande a possibilidade de o sujeito ter sua sugestão recusada. E, naturalmente, ficará frustado. Depois de duas ou três negativas, possivelmente deixará de participar.

No livro Toyota, a fórmula de inovação, de Matthew May, há uma interessante história que demonstra como a remuneração pode roubar o poder criativo das pessoas:

"Uma velha senhora morava numa rua onde um grupo de meninos jogava bolas todas as tarde. Como eles faziam muito barulho, ela pensou em pedir que falassem mais baixo. Intuindo que não seria atendida, a mulher teve outra ideia.
Chamou a garotada e falou o contrário: que gostava demais de ouvir-los brincar, mas que estava com problemas de surdez e só poderiam escutá-los se gritassem mais alto ainda. E propôs um acordo: toda vez que fizessem muito barulho, cada um ganharia um dólar. Os garotos adoraram a proposta e toparam na hora. 
No dia seguinte, brincaram e gritaram como nunca. No final do dia, receberam o dinheiro combinado. Na tarde seguinte, a história se repetiu. Só que desta vez a senhora disse que estava sem dinheiro e só poderia pagar 50 centavos. Os meninos aceitaram, meio a contragosto. No outro dia, nova surpresa: ela disse que tinha menos ainda e que, desta vez, pagaria apenas 10 centavos para cada um. Os garotos se revoltaram e disseram que não voltariam mais: não valia a pena gritar por 10 centavos o dia."

Não é interessante? Ao decidir pagar por uma coisa que os garotos faziam de graça, a velha senhora tirou o prazer deles de brincar. A mesma coisa pode acontecer com sua equipe se você pagar apenas por idéias aceitas.

Num ambiente propício, os profissionais contribuem de graça, simplesmente porque o ser humano gosta de participar, sugerir, ser ouvido pelos outros, provar seu valor. No momento em que a empresa decide pagar, a magia se rompe: elas só criarão movidas pelo dinheiro.

No Sistema Toyota de Produção, ocorre o contrário: o hábito de formular ideia continuamente faz parte da cultura da empresa. Isso promove um forte espírito de cooperação e proatividade. As pessoas incorporam a criatividade no seu dia-a-dia, passa a fazer parte do trabalho.

Se funciona? De acordo com a pesquisa realizada em conjunto por duas importante associações trabalhistas (Employee Involvent Association e Japan Human Relations Association), o número de idéias dadas anualmente por funcionários de empresas japonesas chega a ser 100 vezes maior do que nas empresas americanas.

Claro, não são todas as companhias ocidentais que gratificam a equipe. A Disney, por exemplo, referência mundial na prestação de serviços, garante que jamais recompensa financeiramente um funcionário. A recompensa está no reconhecimento de um trabalho bem-feito. E só.

A vantagem disso é que as pessoas se esforçam pra dar o melhor de si no dia-a-dia.


Texto extraído do livro "Oportunidades Disfarçadas", escrito por Carlos Domingos, editora Sextante, 2009.