sábado, 31 de agosto de 2013

Conhecendo seu inconsciente

Podemos olhar diretamente para as pessoas sem vê-las, ou ouvir as pessoas falarem, mas não escutá-las. Jesus sabia que forças fora da nossa percepção consciente atuam na nossa mente, freqüentemente impedindo que lidemos com as coisas que estão bem na nossa frente. Ele conhecia este aspecto da mente humana que hoje chamamos de inconsciente.

O inconsciente é uma maneira de descrever o modo como a mente filtra o pensamento. É o jeito que a nossa mente tem de evitar que pensemos a respeito de tudo de uma vez só. Como não podemos lidar com tudo de uma única vez, não podemos estar plenamente conscientes de tudo o que se passa na nossa mente em um determinado momento. O problema não é o fato de a nossa mente operar inconscientemente e sim de não termos consciência disso.

Trabalhamos os nossos assuntos inacabados no inconsciente. Questões problemáticas ou não resolvidas do passado ficam armazenadas no inconsciente e são freqüentemente revisitadas. Sem perceber, ficamos repetindo o passado na tentativa de corrigi-lo. Por isso é importante conhecer o inconsciente. Sem essa percepção, “estaremos sempre ouvindo, mas nunca entendendo”, porque algumas coisas muito importantes que precisamos compreender estão ocultas no nosso inconsciente.



Somos criaturas de hábitos

Somos criaturas de hábitos. Encontramos segurança nas nossas rotinas e identidade nas nossas tradições. Alguns hábitos são bons e Jesus recomendou que seguíssemos certas tradições para nos relacionarmos melhor uns com os outros e com Deus. Ele sabia que precisamos de gestos concretos para expressar o amor nos nossos relacionamentos.

O problema surge quando ficamos presos inconscientemente aos hábitos, porque esta atitude nos faz repetir atividades do passado sem que nos apercebamos disso. Jesus não queria que as pessoas seguissem hábitos e tradições sem estar conscientes das razões pelas quais faziam assim. Seguir tradições pode ser benéfico, mas aderir inconscientemente a elas pode trazer prejuízos.

Jesus nos disse que tomássemos cuidado ao nos prendermos às tradições, não por elas serem más, mas porque com freqüência as repetimos inconscientemente. A questão não é se temos ou não tradições familiares e sim por que as temos. Se as nossas tradições são fator de crescimento para a nossa família, elas são boas, mas, se acontece o contrário, precisamos prestar atenção à advertência de Jesus.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: "Os hábitos fundamentados no medo corrompem as tradições baseadas no respeito."


Não tenha tanta certeza de si mesmo

Pensamentos inconscientes são experimentados como fatos. Como não sabemos que algo é inconsciente, temos certeza de que é verdadeiro. Quando vivemos baseados em pensamentos e sentimentos inconscientes, achamos que sabemos o que estamos fazendo, mas a verdade é que desconhecemos as razões que nos levam a agir de determinada forma. Jesus nunca pediu às pessoas que estivessem absolutamente certas com relação a si mesmas; ele pedia que elas refletissem a respeito de si mesmas.

Infelizmente, as pessoas que têm idéias negativas inconscientes a respeito de si mesmas acham que essas idéias refletem “exatamente a maneira como elas são”. Os resultados podem ser devastadores. Pessoas passam a adolescência envolvido em comportamentos autodestrutivos que só reforçavam o conceito que tem de si mesmo. As coisas só mudaram quando começam a compreender que não eram os outros que o desvalorizavam, fazendo agir destrutivamente. São eles mesmo que inconscientemente se desvalorizam e por isso precisam lutar contra esse sentimento. Quando através da terapia se convencem, passam a se aceitarem melhor, a não rejeitarem os outros e a mudar seus comportamentos.

Pessoas assim agem como se tivessem convicção absoluta de que estão certas. Jesus freqüentemente desafiava aqueles que tinham essa maneira rígida de pensar, exortando-os a serem mais flexíveis. Ele sabia que quando as pessoas têm um raciocínio muito inflexível, elas freqüentemente deixam de perceber verdades importantes a respeito dos outros e muitas vezes também a respeito de si mesmas.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: "Se você pensa rigidamente que está certo, reveja seu pensamento."



A cura acontece de dentro pra fora

No nível mais profundo, todos nós vivemos em função das convicções armazenadas no inconsciente. Elas guiam automaticamente o nosso comportamento sem que o percebamos. Quando essas convicções são negativas, nosso comportamento, com freqüência, é autodestrutivo. Tomar consciência dessas convicções inconscientes é a única maneira de modificar o comportamento externo de uma forma duradoura.

Jesus sabia que o único modo de mudar o comportamento externo das pessoas era modificando o que elas acreditam interiormente. A não ser que sejamos capazes de ter acesso às nossas profundezas, estamos destinados a viver uma vida influenciada pelas marcas do passado. Mudanças no comportamento ou na aparência externa têm pouca probabilidade de durar se não descobrirmos os motivos enterrados na profundidade do nosso ser. Foi por esse motivo que Jesus nos disse para limpar primeiro o interior do copo.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: "A mudança duradoura acontece de dentro para fora."



O que não sabemos pode nos ferir

Estamos continuamente transferindo as nossas convicções inconscientes baseadas nas experiências passadas para o mundo que nos cerca hoje, observando constantemente o presente através do filtro inconsciente do nosso passado. Geralmente não sabemos que estamos fazendo isso, porque o fazemos automaticamente. A única maneira pela qual podemos abrir espaço para experiências novas é tomando consciência de como estamos projetando essas antigas convicções no nosso mundo de hoje.

O fato de não termos consciência de uma coisa não significa que ela não possa nos prejudicar. Nossa realidade atual nos diz uma coisa, mas as nossas convicções inconscientes nos dizem outra. Infelizmente, o inconsciente geralmente sai vencedor. Esta é freqüentemente a origem dos problemas psicológicos da nossa vida que podem ter conseqüências perniciosas.

Jesus exortou-nos a ser mais conscientes. Esta consciência é a solução para resolver uma “família dividida”. Quando acreditamos inconscientemente em uma coisa que está em conflito com o que pensamos conscientemente, travamos uma batalha com nós mesmos e ficamos “divididos”. Jesus quer que tomemos consciência das convicções que nos dividem para sermos inteiros.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: "Não podemos vencer uma luta contra nós mesmos."



Curando o ódio

Odiamos nos outros o que não conseguimos suportar em nós mesmos. Uma das perguntas que me fazem de tempos em tempos é a seguinte: “Como posso saber o que existe no meu inconsciente que pode estar me prejudicando?” Para responder a esta pergunta, digo às pessoas que pensem a respeito de tudo que elas não gostam nos outros. A seguir, peço-lhes para fazer uma lista das cinco coisas que mais detestam nas pessoas que as cercam. É provável que essas cinco coisas estejam enterradas em um lugar profundo que os analistas junguianos chamam de o “lado da sombra” do inconsciente.

Jesus parecia compreender que quando nos descobrimos odiando alguma coisa nos outros devemos parar e verificar se temos algo parecido em nós. Condenar os outros por um defeito contra o qual lutamos em nós mesmos é como preocupar-nos com o “cisco” nos olhos de uma pessoa, a respeito do qual nada podemos fazer, enquanto temos uma “trave” no olho que requer uma atenção imediata. Às vezes, a cura do nosso ódio pelas outras pessoas começa com um exame sincero do que guardamos no inconsciente.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: "O ódio aos outros freqüentemente é sintoma de uma ferida interna em nós mesmos."


A história se repete, a não ser...

Quando fui fazer terapia pela primeira vez, eu sabia que meu principal problema era o meu relacionamento com o meu pai. Eu estava constantemente em conflito com ele e ressentia-me da maneira como havia sido tratado na infância e na adolescência. Eu raramente tinha contato com meu pai depois de adulto e encurtara as minhas visitas à casa dele durante as festas para evitar que acabássemos tendo uma das nossas típicas brigas sem sentido.

Lembro-me de uma sessão na qual eu estava explicando ao meu terapeuta como a minha infância tinha sido horrível. “Era uma síndrome de ‘chutar o cachorro’”, expliquei. “Ele tinha um dia difícil no trabalho, voltava para casa e descarregava a raiva em cima de nós. Como eu era a pessoa que mais falava na família, bastavam algum minutos para que ele começasse a gritar comigo por alguma coisa.”

Para enfatizar o que eu estava querendo dizer, descrevi a ocasião em que eu tinha 18 anos e havia secretamente cronometrado o discurso do meu pai a respeito do comprimento do meu cabelo. “Eu sabia que a coisa ia ser difícil naquele dia, de modo que fiquei olhando para o meu relógio. Duas horas e meia depois ele ainda estava gritando comigo, sem que eu tivesse dito uma palavra. Você consegue acreditar? Duas horas gritando sem nenhuma provocação da minha parte? Nunca me esquecerei do que o meu terapeuta disse. “Talvez ele tenha amado muito você.” “O quê?”, perguntei boquiaberto. “Claro”, prosseguiu ele. “Que outro motivo seu pai teria para gastar toda aquela energia tentando corrigir você? Não acho que ele estava brigando com você; ele estava lutando por você da melhor maneira que sabia.”

Eu nunca tinha pensado naquilo daquele jeito. Lembro-me de ter sentido que o meu terapeuta tinha entrado em um dos armários mais escuros da minha casa psicológica e derrubado no chão um monstro com o qual eu não conseguia lidar. Até aquele momento eu só tinha olhado para a raiva do meu pai de uma determinada maneira, achando que ele me desvalorizava. Mas talvez ele estivesse zangado comigo porque queria que minha vida fosse melhor. Do seu jeito desajeitado, talvez meu pai estivesse tentando fazer com que eu olhasse para coisas que ele considerava importantes.

A história com o meu pai se repetia todas as vezes em que estávamos juntos, porque eu interpretava a raiva dele exatamente da mesma maneira. O meu terapeuta fez com que uma janela de oportunidade se abrisse e me ajudasse a romper o ciclo. Depois desse dia continuei a sentir-me tentado a ter as mesmas antigas discussões com o meu pai, mas de um jeito um pouco diferente. Como eu me tornara mais consciente da maneira inconsciente pela qual interpretava a raiva dele como uma rejeição, comecei a perceber que eu poderia ser capaz de vê-la como uma outra coisa. O nosso relacionamento não foi magicamente restaurado a partir dali, mas melhorou bastante.

Jesus sabia que nós não temos que ser condenados a repetir a mesma história, mas esta se repetirá enquanto não recebermos ajuda dos outros. Precisamos do ponto de vista dos outros a fim de verdadeiramente compreender a nós mesmos. Podemos então optar por viver uma vida nova e diferente, porque estamos mais conscientes das influências inconscientes que estão determinando nossos comportamentos e nossa vida.

A missão espiritual que guiou a vida de Jesus resultou em benefícios psicológicos para todos os que tiveram contato com ele. Hoje em dia chamamos isso de psicoterapia. Na vida de Jesus, era simplesmente sua maneira de ser. As pessoas tomam consciência de seus mecanismos inconscientes com a ajuda de outra pessoa. Às vezes, o “homem forte” que precisamos que outra pessoa nos ajude a amarrar é a nossa parte inconsciente.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: "A mudança nos pontos de vista tem o poder de mudar a história."




Texto extraído do livro "Jesus, o maior psicólogo que já existiu", escrito por Mark W. Baker, editora Sextante, 2010.