sábado, 7 de setembro de 2013

Conhecendo a verdadeira humildade

Jesus contou também a seguinte parábola para alguns que confiavam em si mesmos, tendo-se por justos e desprezando os outros:

“Dois homens subiram ao Templo para rezar; um era fariseu, o outro, um cobrador de impostos. O fariseu rezava, em pé, desta maneira: ‘Ó Deus, eu te agradeço por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos, adúlteros, nem mesmo como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de tudo que possuo.’ 
Mas o cobrador de impostos, parado à distância, nem se atrevia a levantar os olhos para o céu. Batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem piedade de mim, pecador!’ 
Eu vos digo: Este voltou justificado para casa e não aquele. Porque todo aquele que se enaltece será humilhado e quem se humilha será exaltado.”
Lucas: 18:9-14


Jesus criticava o amor-próprio excessivo porque acreditava que as pessoas que aceitam depender de Deus e abrem mão da auto-suficiência alcançam a plenitude. É preciso humildade para reconhecer que não somos Deus e saber que precisamos nos relacionar com ele para sermos espiritualmente completos. Essa mesma humildade nos permite compreender que também necessitamos dos outros para sermos emocionalmente completos. Deixamos de ser humildes e fingimos ser superiores aos outros quando sentimos medo de admitir que temos necessidade deles.

A tendência atual da psicologia também reconhece a importância de dependermos dos outros. Não somos unidades auto-suficientes e sim seres interligados.1

O ponto de partida para a plenitude espiritual e psicológica é a nossa necessidade de ter um relacionamento com algo maior do que nós mesmos. A dependência saudável nos relacionamentos produz pessoas saudáveis. Precisar dos outros nos torna mais fortes e não carentes. Os seguidores de Jesus nunca se consideravam melhores do que as outras pessoas pelo fato de precisarem delas para serem completos. Ao contrário dos fariseus, temos que agradecer a Deus por sermos como as outras pessoas, porque isso nos coloca no caminho para conhecer a plenitude.



A GUERRA ENTRE A PSICOLOGIA E A RELIGIÃO

Várias pessoas religiosas têm me procurado no decorrer dos anos para fazer terapia. Em determinados casos, precisei ser muito cuidadoso devido ao preconceito delas contra a psicologia, mas acabei descobrindo algumas abordagens bastante proveitosas. Por desejar compartilhar o que aprendera com outros profissionais, escrevi um artigo e submeti-o a uma famosa revista técnica na área da psicoterapia.

Fiquei consternado ao ser informado que o artigo tinha sido rejeitado. O editor da publicação incluiu na carta que me enviou os comentários da pessoa que fez a análise do meu artigo. Fiquei surpreso com os comentários, que eram concisos, hostis e extremamente pejorativos. No final da análise, em que apaixonadamente argumentava que o assunto em questão não era adequado a uma revista de psicologia, as frases estavam incompletas evidenciando a raiva de quem escrevera. Ficou claro para mim que ele não tinha terminado de ler o meu artigo porque várias das suas objeções haviam sido respondidas na parte final do meu texto.

Eu escrevera o artigo para ajudar os psicoterapeutas a entender os preconceitos dos pacientes religiosos. No entanto, vários psicoterapeutas também estão precisando de ajuda com relação aos seus próprios preconceitos contra a religião. A necessidade de menosprezar aqueles que não compreendemos decorre de um amor-próprio excessivo que prejudica a nossa própria saúde espiritual e psicológica. O fato de o meu artigo ter sido rejeitado é irônico se levarmos em conta seu tema central: podemos ser dogmáticos com relação à religião ou à psicologia, mas ao nos considerarmos superiores aos outros e ao achar que não precisamos do que eles têm a nos oferecer estamos causando um dano a nós mesmos. Meu artigo acabou sendo publicado em uma revista de psicologia conhecida por interessar-se tanto pela psicologia quanto pela religião. No entanto, não consegui deixar de pensar que os leitores da primeira revista talvez fossem os que mais precisassem ler o que eu estava tentando dizer.

O que Jesus criticava como excesso de amor-próprio a psicologia chama de narcisismo, que acontece quando a pessoa tem uma visão grandiosa de si mesma para defender-se das próprias imperfeições. O narcisismo prejudica o relacionamento com os outros e cria uma barreira tanto para a saúde espiritual quanto para a psicológica.

Algumas pessoas não acreditam que a psicologia e a religião sejam compatíveis, chegando ao ponto de descrever as divergências entre elas como uma “guerra”. Quando a psicologia é excessivamente narcisista e não admite que a religião tenha alguma coisa a oferecer para o entendimento do comportamento humano, ela é culpada de um excesso de amor-próprio. Quando a religião tem um amor-próprio exagerado e não admite que a psicologia tenha algo a oferecer para o entendimento do coração e da mente humana, ela é culpada de narcisismo. Aqueles que são suficientemente humildes para admitir que podem aprender com os outros sem os desprezarem estão no caminho da saúde psicológica e espiritual à qual Jesus se referiu.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: A arrogância que nos leva a acreditar que somos superiores aos outros tem origem no medo de sermos inferiores.



JESUS PREGOU RELACIONAMENTOS E NÃO REGRAS

Jesus não pregou uma filosofia de vida e não deixou um conjunto de regras religiosas para serem seguidas. Ele se expressava por meio de analogias, oferecia princípios espirituais e falava sobre o amor como a marca que distinguia aqueles que o seguiam. Ele disse: “Todos saberão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros”, porque esta era a mais pura explicação da religião que ele pregava. A religião dele era de relacionamentos e não de regras

A psicologia está chegando à conclusão de que os seres humanos não podem existir sem um relacionamento saudável com outra pessoa. Estamos reconhecendo que os relacionamentos são a atmosfera necessária à nossa sobrevivência. As crianças que não são abraçadas não se desenvolvem bem, parceiros amorosos de uma vida inteira morrem com poucos meses de diferença e a solidão é a principal causa do suicídio. A religião de Jesus era sobre amor e relacionamento, não sobre regras, porque é do amor nos relacionamentos que precisamos para sobreviver.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Os relacionamentos que encerram amor são a prova da verdadeira religião.



ESTÍMULO

De acordo com Jesus, Deus não exige que mudemos para que ele nos ame; é porque nos ama que ele nos estimula a mudar. É nos momentos de paz em que ansiamos em nos tornar pessoas melhores e admitimos para nós mesmos que podemos crescer que o sentimento de sermos amados por Deus nos estimula. O estímulo nos motiva a ser completos.

Jesus ensinou que temos um Deus que está intimamente interessado em tudo a nosso respeito, não para julgar-nos por nossas más ações e sim por desejar o nosso crescimento. Cada um de nós é importante para Deus. Quando revelamos a ele os nossos pensamentos e sentimentos mais profundos, ele nos aceita pelo que somos. Esta é uma profunda fonte de estímulo.

Jesus ensinou que temos uma necessidade essencial de crescer e que o estímulo que vem de Deus nos encoraja para nos desenvolvermos. Qualquer pessoa que tenha criado uma criança conhece essa necessidade humana fundamental. Quer seja empilhando blocos ou tentando ganhar o Prêmio Nobel, precisamos que os nossos esforços tenham importância para outra pessoa. Necessitamos de estímulo para crescer.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Não mude para ser amado; cresça a partir do que você é.



SERMOS AMADOS POR QUEM SOMOS

Jesus ensinou que as características de cada pessoa como indivíduo são tão importantes para Deus que este sabe o número “até mesmo de todos os fios de cabelo da vossa cabeça”. Jesus acreditava que cada um de nós possui características únicas que enriquecem nossos relacionamentos com os outros. As nossas personalidades distintas precisam ser apreciadas para que os nossos relacionamentos sejam completos.

Algumas pessoas têm dificuldade em compreender isso. Elas acham que se fizermos parte da mesma comunidade não poderemos ser diferentes em nada, ou seja, precisamos andar, falar, nos vestir, agir e pensar da mesma maneira para fazer parte do mesmo grupo. Jesus não pensava assim. Ele acreditava que os relacionamentos mais fortes deixam espaço para as diferenças individuais entre as pessoas. A nossa capacidade de conviver com essas diferenças é um sinal de saúde espiritual e emocional. Na verdade, as pessoas que têm os relacionamentos mais amadurecidos sentem prazer no fato de serem diferentes.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: As diferenças não precisam significar divergências.



O PERDÃO E A CURA

Às vezes os meus pacientes gostariam que eu dissesse algo milagroso que lhes permitisse psicologicamente “levantar-se e andar” de imediato. Mas quando somos feridos no nosso nível mais profundo precisamos passar por um processo que exige a nossa participação ativa. Precisamos nos esforçar para identificar o que foi ferido no nosso coração e nos nossos relacionamentos para em seguida perdoar. Esta seqüência geralmente não é fácil e raramente é instantânea.

Na época de Jesus, as pessoas também desejavam soluções imediatas. Elas preferiam os milagres ao trabalho árduo. Mas Jesus não estava interessado simplesmente em ajudar as pessoas a se sentir melhor; ele queria que elas de fato melhorassem. Para ele, isso significava lidar com as feridas do coração e dos relacionamentos que exigiam perdão e reconciliação. Ele sabia que às vezes era mais fácil dizer a uma pessoa fisicamente debilitada “levanta-te e anda” do que dizer “teus pecados estão perdoados”. Curar fisicamente o corpo era fácil quando comparado com o arrependimento e o perdão necessários no coração humano.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: É mais fácil desculpar as pessoas do que perdoá-las; mas para o nosso crescimento o ideal é perdoar.




Texto extraído do livro "Jesus, o maior psicólogo que já existiu", escrito por Mark W. Baker, editora Sextante, 2010.