sábado, 14 de setembro de 2013

Conhecendo o seu poder pessoal


Quando uma mulher samaritana veio tirar água, Jesus lhe disse: “Podes me dar de beber?” 
A mulher samaritana respondeu-lhe: “Como é que tu, um judeu, pedes de beber a mim, que sou samaritana?” ...
Em resposta Jesus lhe disse: “Quem bebe dessa água tornará a ter sede, mas quem beber da água que lhe darei nunca mais terá sede.” ...
A mulher pediu: “Senhor, dá-me dessa água para que eu não sinta mais sede.” ...
Jesus lhe disse: “Vai chamar teu marido e volta aqui.”
A mulher respondeu: “Eu não tenho marido.”
Jesus disse: “Estás certa quando dizes que não tens marido. De fato, tiveste cinco e aquele que agora tens não é teu marido.”
“Senhor”, disse a mulher, “vejo que és um profeta. ... Eu sei que o Messias está para vir.
Quando chegar, ele nos explicará todas as coisas.”
Jesus então declarou: “Sou eu que falo contigo.”
Nisso chegaram os discípulos e se admiravam de que estivesse falando com uma mulher.
Mas ninguém perguntou, ... “Que falas com ela?”
Deixando então o cântaro, a mulher voltou à cidade e disse a todos: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que fiz. Não será ele o Cristo?”

João 4:7-30

O poder que exercemos sobre os outros pode ser inebriante, mas o seu efeito é temporário. Jesus teve na vida a experiência sempre satisfatória de alcançar o poder com os outros. Para ele, não existia poder isolado. Este fato era frustrante para os seus seguidores, porque muitos esperavam que Jesus se estabelecesse como um líder político e os indicasse para cargos influentes no seu novo reino. Jesus sabia que a pessoa verdadeiramente poderosa está mais interessada nas pessoas do que na política. Para ele, o verdadeiro teste do poder pessoal não reside em controlar os outros, mas em dar-lhes poder.

Apesar de ter sido um dos maiores líderes espirituais da história, Jesus passou muito pouco tempo em lugares religiosos, pois quase sempre ficava onde as pessoas viviam. Ele estava interessado nas pessoas e exerceu grande influência na vida daqueles que conheceu.

Jesus sabia que a empatia era o segredo do verdadeiro poder pessoal. Empatia é uma atitude de interesse e acolhida. É ela que possibilita o verdadeiro entendimento. Quando existe uma verdadeira empatia, o resultado pode ser transformador.1



A DEFINIÇÃO DO PODER PESSOAL

Existem muitos tipos de poder: físico, político, financeiro, intelectual, espiritual, pessoal; a lista é bem longa. Embora algumas pessoas persigam o poder em todas as suas formas, Jesus só estava interessado no poder verdadeiro, aquele que perdura.

Alguns pensam no poder pessoal como uma força que emana de alguém e possibilita que essa pessoa alcance a sua excelência individual. Para Jesus, o poder pessoal era uma ligação amorosa com os outros que resultava em algo muito maior do que a excelência individual. O poder pessoal é uma união espiritual entre seres humanos que faz com que cada pessoa seja mais do que ela poderia ser isoladamente. O poder pessoal não nasce dentro das pessoas; ele é uma força criada entre elas.

Jesus sabia que César estava interessado em um tipo de poder que desapareceria quando ele morresse, e é por isso que disse: “Dai a César o que é de César.” Jesus estava interessado no poder que transcende a morte. Para ele, o poder pessoal era o poder alcançado com outras pessoas e não sobre os outros. Ele achava que era um erro tentar obter poder individualmente. O tipo de poder que ele queria para nós só podia ser sentido se fosse partilhado.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: O poder pessoal é o poder com outras pessoas e não sobre elas.



O PODER DE SER CONHECIDO PESSOALMENTE

Os seres humanos não podem viver isolados, e por isso procuramos nos relacionar com os outros. A experiência de sermos conhecidos e entendidos nos confere a sensação psicológica de que tudo está bem. Temos que perceber que somos conhecidos pelos outros tal como somos – e não apenas pelo que fazemos – para nos sentirmos psicologicamente completos. Esse tipo de conhecimento é compartilhado entre as pessoas, pois são necessárias duas pessoas para criar o conhecimento pessoal. Quando ele se fundamenta na verdade, ambas as pessoas são transformadas e crescem.

Jesus acreditava que fomos criados com o propósito de conhecer Deus e sermos conhecidos por ele. Um ponto central do seu ensinamento era comunicar o poder transformador de conhecer Deus, que não é um conhecimento intelectual e isolado, mas uma experiência que só se dá no relacionamento.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: O conhecimento pessoal é criado entre as pessoas e não dentro delas.



O PODER DA EMPATIA

A mulher à beira do poço foi tão profundamente tocada pela forma empática com que Jesus a compreendeu que teve a sensação de que ele sabia “tudo o que ela tinha feito”. Era assim que Jesus demonstrava o seu poder pessoal. Ele mostrava seu poder milagroso e espiritual em outras ocasiões,2 mas gostava especialmente de comunicar o poder pessoal por meio da sua empatia pelos outros, fazendo com que suas vidas se modificassem para sempre. Empatia é sinônimo de compreensão, e ninguém na história demonstrou ser mais capaz de evidenciá-la do que Jesus.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: A maior expressão de empatia é sermos compreensivos com alguém de quem não gostamos.



O PODER DA SOLIDARIEDADE

Supervisiono vários alunos de terapia no centro de aconselhamento onde trabalho. Gosto muito de trabalhar com terapeutas iniciantes porque eles trazem um grande entusiasmo para o exercício da terapia. É claro que eles não têm muita experiência quando começam a praticar, mas descobri que compensam a falta de prática com a compaixão que sentem pelos pacientes.

Solidariedade é diferente de empatia. Solidariedade é o sentimento de compaixão por outra pessoa, que pode assumir a forma de calor humano, misericórdia ou mesmo piedade. Podemos ser solidários com as pessoas mesmo quando não as entendemos. A solidariedade era um dos aspectos do poder pessoal de Jesus.

Jesus não veio ficar entre nós porque “Deus amava tanto o mundo”. Ele nunca se aproximou das pessoas transmitindo-lhes a ideia de que elas precisavam mudar para serem dignas de amor. Ninguém precisava fazer nada para conquistar o seu amor, pois ele amava as pessoas por serem quem eram, com todas as imperfeições que pudessem ter. Jesus era poderoso porque era solidário com as pessoas.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: A compaixão é um precioso instrumento de transformação.



AS PESSOAS OU A POLÍTICA?

A ambição pode levar as pessoas a procurar o poder político e profissional. Os seres humanos são ambiciosos por várias razões, algumas das quais bastante saudáveis e positivas. O poder pessoal, contudo, é motivado pelo amor. Jesus estava disposto a sacrificar qualquer coisa politicamente correta para preservar o seu poder pessoal.

Nem mesmo aqueles mais próximos de Jesus compreendiam o seu poder pessoal. Seus discípulos discutiam entre si sobre quem seria a figura mais importante no reino político de Jesus que estava para ser criado.3 Sem dúvida, pensavam eles, uma pessoa poderosa como Jesus ascenderia à posição política de destaque que desejasse. Mas Jesus priorizou as pessoas quando disse: “O maior entre vós será vosso servo.” Para ele, o poder pessoal sempre seria vivido dessa maneira.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Ser politicamente correto muitas vezes encerra um alto preço pessoal.



A DIFERENÇA ENTRE CONFIANÇA E ARROGÂNCIA

As pessoas sabiam imediatamente que Jesus possuía poder pessoal e muita autoconfiança. Ele se sentia suficientemente seguro e à vontade para fascinar multidões ou acolher uma criança. Possuía a capacidade única de transmitir confiança sem ser confundido com um homem arrogante com necessidade de exercer controle.

É fácil testar se estamos ou não na presença de uma pessoa autoconfiante. Diante de alguém que possui uma verdadeira auto-estima, nós nos sentimos mais à vontade e poderosos. Na presença de uma pessoa que tem uma falsa auto-estima e está tentando compensar este fato com a arrogância, ficamos diminuídos e intimidados. Jesus não precisava que os outros se sentissem diminuídos para se sentir poderoso. As pessoas sentiam-se agradecidas por o terem conhecido.


PRINCÍPIO ESPIRITUAL: A confiança fortalece, ao passo que a arrogância subjuga.



Texto extraído do livro "Jesus, o maior psicólogo que já existiu", escrito por Mark W. Baker, editora Sextante, 2010.