segunda-feira, 28 de junho de 2010

[parte 24] O mundo de Sofia - Hume

Alberto citou o tempo se formando e abafado, mas Sofia o questionou sobre Berkeley

Falaremos sobre Berkeley a seguir, mas antes precisamos ver algumas coisas sobre David Hume (1711-1776) que construiu o que é considerado o mais importante projeto filosófico empírico e foi o inspirador do grande filósofo Immanuel Kant.

Hume cresceu nas proximidades de Edimburgo, na Escócia, e sua família queria muito que ele fosse um jurista. Ele mesmo afirmava que sentia uma aversão a tudo, menos à filosofia e à erudição. Hume vive em pleno Iluminismo e viajou muito pela Europa antes de voltar a morar em Edimburgo. Ele publicou uma de suas mais importantes obras, chamada de “Tratado sobre a natureza humana”, aos vinte e oito anos, mas sempre dizia que desde os quinze anos já tinha idéias para esse livro.

Como empírico fervoroso, Hume parte do princípio que temos que descartar tudo que sabemos e partir do zero. A partir disso, Hume afirma que para ele o homem possui “impressões” e “idéias”. Por impressão ele entende a percepção imediata da realidade exterior. Por idéia ele entende a lembrança de tal impressão,mas sem a riqueza de detalhes que a impressão dado que somente a impressão pode fazer isso.

Por exemplo, quando você queima a mão em algo quente, o que você sente de imediato no momento que está queimando sua mão é a dor da queimadura em si, ou a sua impressão imediata do que é se queimar. O que fica registrado em sua memória após esse fato é a idéia do que foi se queimar, ou seja, uma noção do que é se queimar, mas nunca conseguirá memorizar a riqueza de detalhes que você tem no momento do ato em si.

Continuando, Hume afirma que você pode ter uma impressão ou uma idéia de duas formas: simples ou complexa. Elementos complexos, nesse sentido, são formados de elementos simples. Por exemplo, suponha que nunca ninguém viu um anjo, mas todos nós já vimos seres humanos e animais com asas. Quando falamos que um anjo pode ter a aparência de uma pessoa com asas não fica difícil visualizar isso. É fatos como esse exemplo que Hume chama a atenção. Às vezes afirmamos e creditamos com toda nossa certeza em coisas que nunca vimos só pelo fato que conhecemos coisas mais simples e fazemos a associação disso sem muita dificuldade.

Nessa linha, Hume responde por assim dizer a “noção clara de Deus” apresentada por Descartes. Para Hume, sabemos que Deus é infinitamente inteligente, sábio e bom. Também ouvimos que Deus é um pai justo e severo. Então só podemos ter uma idéia do que é Deus se vermos algo inteligente, bom, sábio, justo, severo e que seja pai. Sem essas observações ou experiências não poderíamos ter a noção do que é Deus. Portanto Deus é algo complexo formando por partes simples com bondade, justiça, inteligência e etc.

Hume ainda elabora algo novo em relação ao “eu" onde ele descreve como uma longa cadeia de impressões isoladas de nós mesmos e que nunca conseguiremos viver simultaneamente. Como Hume mesmo diz: “É um feixe de diferentes conteúdos de consciência, que se sucedem numa rapidez inimaginável e que estão em constante fluxo e movimento”. Em suma, para Hume o homem não possui uma personalidade “base” e sim milhares de personalidade que formam um conjunto que você chama de "eu".

Na religião, Hume achava que era um absurdo racionalista achar que seria possível provar a fé religiosa com a razão humana. Ele era agnóstico, ou seja, segundo ele, não tinha experimentado nada que provasse a existência de Deus mas também não afirmava que Deus não existia porque nunca pode provar isso. Ele simplesmente fazia questão de se mostrar imparcial a isso até que experimentasse algo a respeito. O mesmo ele afirmava em relação a milagres, Jesus Cristo, religiões e afins.

No âmbito da ética e moral Hume se opôs ao pensamento racionalista. Os racionalistas consideravam uma qualidade inata da razão humana o fato de ela poder distinguir entre o certo e o errado. Hume não acredita nessa afirmação e contra-ataca afirmando que isso é feito pelos nossos “sentimentos”.

Um exemplo de fácil entendimento para ilustrar Hume é a medicina atual. Se fossemos analisar somente pelo lado da razão a medicina não deveria curar todos ou sequer existir, pois estamos assim interferindo no processo seletivo natural (o que fortifica a espécie humana) e no equilíbrio entre a humanidade e a natureza. Contudo nossos sentimentos nos impulsionam cada vez mais a fazermos com que um número cada vez maior de seres humanos permaneça vivo e saudável.