quarta-feira, 23 de junho de 2010

[parte 25] O mundo de Sofia - Berkeley

Alberto e Sofia vêem um avião ao longe trazendo uma faixa escrita “Feliz aniversário Hilde” e some entre nuvens escuras mostrando que uma forte chuva se aproximava. Alberto fala algo sobre o poder do major e Sofia o questiona sobre esse poder. Alberto não fala mais sobre o assunto e volta a falar de filosofia, dessa vez sobre Berkeley.

George Berkeley foi um bispo irlandês que viveu entre 1685 e 1753, mas também foi um filosofo. Berkeley se preocupava com a filosofia e a ciência de seu tempo no que tange a ameaça ao cristianismo e a visão cristã do mundo. Ele também achava que o materialismo colocava em risco a crença cristã que Deus criou e mantém vivo tudo o que existe na natureza. Ao mesmo tempo, Berkeley foi um dos mais coerentes representantes do empirismo pois dizia que as coisas do mundo são, de fato, exatamente da forma como nós percebemos, mas não são coisas.

Berkeley diz que tudo o que existe é só o que percebemos, mas aquilo que percebemos não é matéria ou substância. Para ele é possível induzir alguém a sentir algo, portanto Berkeley acreditava que foi a vontade ou o espírito que faz com que sentimos algo. Quando batemos com força em uma mesa com a mão, não sentimos o material em si da mesa, mas sim sensações que nos dizem que a mesa é sólida e, se batermos com muita força, nossas sensações irão produzir a dor, mas não passa de sensações (nota do Ale: Exatamente o conceito de mundo que vivemos empregado na trilogia dos filmes Matrix).

Em suma, para Berkeley, tudo que vemos e sentimos é um efeito da força de Deus, pois Deus está presente no fundo de nossa consciência e é a causa de toda a multiplicidade de idéias e sensações a que estamos constantemente sujeitos. Toda a natureza que nos cerca, e também toda nossa existência, estariam portanto em Deus. Ele seria a causa única de tudo o que existe.

Então Alberto comenta que possivelmente tudo que cerca ele e Sofia e todos que eles conhecem não passam da demonstração de forma do major. Era como se o major fosse pra eles Deus, dado que o major conduz tudo na vida deles e em volta da vida deles.

Sofia fica a dúvida em forma de pessoa então Alberto explica que se pode aplicar tranquilamente os conceitos de Berkeley a eles em relação ao major. Isso é a única coisa que pode explicar todos esses acontecimentos estranhos como os cartões postais em lugares inusitados, a fala de Hermes como um ser humano e todas as outras coisas estranhas.

Sofia acaba concordando, pois vê coerência em toda essa ligação. Então Alberto sugere que Hilde é como se fosse o anjo do major e que eles são meramente fantoches na mão do major para explicar e contar toda a história da filosofia para Hilde. Assim que Alberto conclui, um estrondo ocorre e uma luz azulada sai do céu iluminando a sala de Alberto.

Sofia então sai dizendo que precisa ir (claro, muito assustada) e, em meio à forte chuva, encontra sua mãe vindo em direção a casa de Alberto. “O que está acontecendo conosco, minha filha?” – pergunta a mãe. Sofia responde chorando “Não sei, mas sinto que estou em meio a um pesadelo”.