segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

[parte 03] Mentes Inquietas - TDA e a vida afetiva

Amar uma pessoa com comportamento TDA pode exigir maestria e grande habilidade na arte de amar, uma vez que as relações amorosas, nestes casos, costumam ter a mesma intensidade de uma montanha-russa.

Um TDA com hiperatividade física e impulsividade assemelha-se a um grande tornado apaixonado. É capaz de conhecer alguém, se apaixonar perdidamente, casar, brigar, odiar, separar, divorciar e torna a se casar. Tudo isso em menos de um mês! Quando se apaixonam, estão realmente apaixonados. Ficam literalmente cegos de paixão.

Já os TDAs que não possuem tanta hiperatividade física e impulsividade tendem a se apaixonar à moda antiga. São capazes de gastar horas e horas de seus dias pensando no ser amado. Muitas vezes seus parceiros sequer sabem ou imaginam que são objeto de tão nobres sentimentos.

Na realidade, os problemas no relacionamento afetivo de pessoas com TDA começam a aparecer e causar grandes desconfortos a fase da paixão. É muito fácil se apaixonar por um TDA, o grande desafio é ultrapassar a explosão inicial e estabelecer uma relação afetiva duradoura de crescimento e respeito mútuo.

A esposa de um TDA, por exemplo, pode ficar muito desapontada quando seu marido esquece datas especiais e encontros marcados com antecedência, ou se enfurecer quando não é ouvida durante um jantar.

Os impulsos nos TDA podem se apresentar de várias formas: por meios de explosões afetivas, no comer, falar, trabalhar, jogar, fazer sexo, compra ou usar drogas. Seja qual for a forma em que tais impulsos possam se manifestar, sempre trarão situações de desconfortos pessoais e grandes embaraços conjugais. O TDA age assim em função de uma alteração neuroquímica, que também não esta sob seu controle.

A maior parte dos indivíduos com TDA tem fascínio em buscar novos e fortes estímulos. É como se suas vivências cotidianas tivesses que acompanhar o ritmo acelerado e inquieto de seu cérebro, que já até foi apelidado de “cérebro ruidoso”.

A busca por estímulos fortes pode ocorrer de várias maneiras: praticar esportes radicais, realizar negócios arriscados, criar discussões exaltadas, participar de vários projetos simultaneamente, dirigir em alta velocidade, ter fascínio por motocicletas, sair as 3 da manhã para comprar um livro ou apenas para tomar café. Vale tudo para fugir do tédio e manter a vida em um ritmo acelerado e excitante.

Os pensamentos se sucedem em uma velocidade tão expressiva que acaba por esquecer o que de fato é importante, principalmente quando se tem que se expressar ao seu parceiro.

Outro aspecto que torna a comunicação afetiva tão difícil é a baixa autoestima que quase sempre é fator de impedimento em verbalizar seus verdadeiros sentimentos, sob pena de se sentir rejeitado e não amado.

A dica fundamental aos TDAs é escolher uma pessoa especial, com virtudes e limitações, mas principalmente que goste de gente.

Ao casal pedimos que leia com muita atenção e carinho a pequena lista de dicas que fizemos ao longo de todos esses anos atendendo TDAs e seus parceiros:

1 – Para quem é TDA, informe-se ao máximo possível sobre seu funcionamento. Só assim você compreenderá que certas circunstâncias não são provocadas intencionalmente por seu parceiro, e sim pela instabilidade do seu próprio jeito de ser.

2 – Tente sempre se colocar na posição do seu par.

3 – Seja sincero na relação amorosa. Ouça com atenção. Às vezes, sua visão dos fatos pode estar distorcida por sua hipersensibilidade.

4 – Reserve um tempo por dia para ficar sozinho com seus pensamentos, e não esqueça de explicar ao seu parceiro que isso é muito importante para seu equilíbrio.

5 – Não tenha medo de ser rejeitado por ser sincero.

6 – Procure ter um mínimo de organização em seus relacionamentos afetivos. Pequenos gestos podem fazer milagres.

7 – Não diga “sim” quando quiser dizer “não”. Lembre-se, seja sempre sincero.

8 – Não crie brigas só para ter motivos para sair com amigos ou da uma “volta” por aí. Seja sincero e explique sua necessidade de ficar só as vezes.

9 – Se estiver fazendo, siga seu tratamento médico a risca e estimule seu parceiro a participar dele.

10 – Tente entender que, por ser TDA, muitas vezes você será envolvido por impulsos sedutores. Resista um pouco a isso e analise a real necessidade.

11 – Tenha humildade de permitir que o mais organizado dos dois tome a frente das responsabilidades financeiras do casal. Caso contrário, você pode ter grandes problemas financeiros.

12 – Crie o hábito de elogiar o outro. Isso fará com que ele se sinta presente em seus pensamentos e o estimulará a fazer o mesmo.

13 – Cuidado para não se “contagiar” com problemas afetivos de casais amigos (algo muito comum para TDAs).

14 – Nunca uso o fato de ser TDA como desculpa para fracassos afetivos.

Os homens são mais propensos a terem TDA do que as mulheres. Sendo assim, o cônjuge de um TDA será mais provavelmente uma sobrecarregada e solitária mulher. Algumas dicas bem valiosas também podem ser dadas aos parceiros dos TDAs:

1 – Não se culpe por seu parceiro ser um TDA. Isso só lhe atrapalhará e não conseguirá ajudá-lo em nada.

2 – Não encoberte as falhas do TDA. Novamente isso só lhe atrapalhará e não conseguirá ajudá-lo em nada.

3 – Dê mais atenção a você.

4 – Não permita abusos.

5 – Procure apoio.

6 – Valorize e reafirme as pequenas vitórias.


TDA e as dependências em geral

Os TDAs têm uma tendência a dependências em geral. As relações de dependências das pessoas TDA podem ser classificadas de três maneiras genéricas:

- Dependentes Ativos
- Dependentes Passivos
- Dependentes Mascarados


Dependentes Ativos

Geralmente é derivado de uma criança cuja estrutura emocional se iniciou num ambiente de insegurança. Medos racionais e irracionais foram despertados, e viu-se impelido a enfrentá-los. Partiu da premissa de que poderia cuidar de si e das pessoas mais frágeis ao seu redor, do seu jeito, e, quando necessário, se valeria de seu impulso, até mesmo de forma agressiva, para defender os fracos e oprimidos, inclusive ele próprio. Tudo tem que estar sob seu controle: os objetos e, principalmente, as pessoas.

A regra básica é: “deixe-me controlar tudo, pois assim me sinto seguro”. São geralmente os TDAs que alcançam grande sucesso no trabalho, mas tendem a centralizar tudo na sua pessoa e com isso acabam por se sobrecarregar. O estresse, seguido de exaustão física e mental, é inevitável.

Seus parceiros por sua vez atravessarão momentos de raiva; afinal, todo controlado costuma nutrir sentimentos hostis por seus controladores, que geram ressentimentos, acomodações e muitas manipulações na relação. Em determinado momento o controlado pode não saber mais se ama, depende ou precisa do controlador. O resultado final será quase sempre a falência da relação, que só poderá ser salva se ambas as partes tiverem compreensão e vontade verdadeira de reverter esse jogo de cartas marcadas.


Dependentes Passivos

Suas relações torna-se muito desgastantes para ambos os lados, pois pessoas passivas precisarão de pessoas ativas que lhe mostrem o caminho. Além disso, por medo de perdê-las, tenderão a escolher parceiros não por afeto, mas por necessidade de direção.

No início, seus parceiros podem gostar da idéia de darem as cartas, mas, após algum tempo, se sentirão sobrecarregados e usados pelo dependente passivo. O resultado também será a falência da relação ou a permanência nesse pacto de infelicidade.

Uma observação muito importante é que a dependência passiva ou ativa é um funcionamento estanque. Podemos observar que a grande maioria das pessoas alterna esses dois estilos, dependendo do contexto ou das pessoas com quem está lidando.


Dependentes mascarados (“Egoístas”)

Este é um tipo disfarçado de dependente. Quando criança, seu histórico de vida se desenrolou em um ambiente pouco seguro e desestruturado. Sentia-se desamparado, principalmente por ver em seus cuidadores comportamentos omissos e também desajustes psíquicos. Toma as rédeas da própria vida e parte em busca de realizações externa que lhe confiram segurança. Passa a vestir a pior de todas as roupas: a da indiferença. Imagina que assim possa dar seguimento a sua vida, com sucesso profissional e sem se responsabilizar por seus familiares. Afinal, quem precisa de pessoas problemáticas por perto?

Nessa categoria encontram-se os adultos que alcançam grande sucesso na vida profissional, desde que possam exercer suas tarefas de forma solitária.