sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

[parte 04] Mentes Inquietas - O que os TDAs têm que os outros não têm?

Quando se pensa em TDA, logo vem a mente a imagem de um cérebro em estado de “caos”, que ocasiona na vida de seus portadores uma existência marcada por distrações, bombardeio constante de estímulos vindo de todas as direções, incapacidade de distinguir fatores relevantes e irrelevantes, inquietação intensa e impulsividade fora de controle.

Mas é justamente aí que surge uma questão, no mínimo, intrigante: como explicar então o fato de TDAs brilhantes atuarem nas mais diversas áreas profissionais? O funcionamento cerebral TDA favorece o exercício da atividade humana mais transcendente que existe – a criatividade.

Não é só a hiperatividade mental que favorece o processo criativo nos TDAs. A impulsividade é responsável pela escolha de uma idéia entre os milhares que circulam pelo cérebro dessas pessoas. Sem o impulso, uma idéia não poderia se corporificar em uma ação criativa.

O hiperfoco pode ser definido como a capacidade que um TDA possui de se hiperconcentrar em determinadas idéias ou ações. Isso faz com que um TDA consiga colocar em prática (e rápido) a idéia que seu impulso escolheu. Isso é fortalecido por algo chamado de hiperreatividade que é a capacidade que a mente TDA tem de não parar nunca.

Portanto, a mágica esta em tornar produtivo e completo todo esse mecanismo. A maioria dos TDAs se perdem no meio do caminho, dissipando sua energia em várias frentes, em vez de canalizá-la para um único objetivo de cada vez.


TDA, criatividade e hemisfério direito

Em 1990, Alan Zametkin constatou que havia um fluxo bioquímico diferente nos cérebros das pessoas com TDAs. Em resumo, os cérebros TDAs tem deficiência em filtrar estímulos ou respostas impróprias vindas das diversas partes do cérebro com o objetivo de elaborar uma ação apropriada no comportamento humano. Assim, se o filtro “falha”, a ação final será mais intensa ou precipitada do que deveria ser. Daí a impulsividade e/ou hiperatividade no funcionamento desse cérebro tão sem feio quanto veloz.

Com relação a atenção ocorre o mesmo processo: sem um filtro eficiente, a mente TDA é invadida por uma avalanche de estímulos que acabam por desviar seu foco atentivo a todo instante. Por isso tudo é que costumamos dizer que os cérebros TDA anda a 200 Km/h enquanto os demais se mantêm nos permitidos 80 Km/h.


A visão do contexto no texto da vida

Podemos dizer que o lado esquerdo do cérebro escreve o texto de nossas vidas e o lado direito de encarrega do contexto dessa história.

Quando ocorrem lesões no lado direto do cérebro, a capacidade de inferir, de entender com rapidez e de atualizar o entendimento de uma situação, de entender o que se passa ao redor e o que se deve fazer é alterada, podendo ocasionar graves modificações no raciocínio. Por outro lado, caso haja um excesso de ativação do hemisfério direito, ocorrerá toda uma exacerbação dos processos citados acima. Isso pode ser exatamente o que ocorre com os cérebros TDAs. Os TDAs teriam toda uma gama de pensamentos alternativos que os levariam a ver a vida sob um novo foco, criando, assim, o terreno ideal para o exercício da criatividade.


Lobo frontal: o portal da mente

O lobo frontal é o portal da mente humana e, como tal, é o grande maestro do comportamento de cada um de nós. É importante entender que a mente é algo muito maior e mais complexo que a estrutura cerebral em si. Um organismo só é detentor de uma mente quando possui a capacidade de gerar imagens internas e de utilizá-las de maneira organizada para a formação dos pensamentos. Os pensamentos, por sua vez, têm a capacidade de se unir na busca de um objetivo comum. Daí se obterá, então, um raciocínio que passará por um processo de seleção, cujo resultado será uma tomada de decisão refletida em um comportamento.

Outro aspecto fundamental na tomada de decisões dos seres humanos é a participação das emoções e dos sentimentos nesse processo. As emoções despertam reações físicas em todo o corpo, que são transmitidas ao cérebro e levam à elaboração de imagens mentais na forma de sentimento. Esses sentimentos elaborados no cérebro poderão despertar boas ou más lembranças, que resultarão em reações específicas em cada ser humano, frente a uma determinada situação.

As emoções desencadeiam, assim, reações instintivas vindas do corpo e reações cognitivas no cérebro, através do sentimento que nada mais é do que o pensamento em forma de imagem, iniciado no processo emocional. Assim deve ser considerada a enorme influência que as emoções exercem sobre o comportamento humano. Por conseguinte, podemos afirmar que as ações humanas são fortemente influenciadas tanto pelas emoções quanto pela razão.

Se partirmos da hipótese de que o lobo frontal direito é hipofuncionante nos TDAs, podemos considerar algumas situações:

1 – A quantidade de pensamentos e sentimentos vindos das diversas áreas cerebrais chega em maior número e com maior intensidade nessa região, devido a falta de filtro do lobo frontal.

2 – Os processos cognitivos aumentados criam um leque maior de possibilidades de raciocínio que pode ser responsável pelo grande potencial criativo dos TDAs.

3 – Os processos emocionais aumentados podem constituir-se em um fator favorável para a tomada de decisões, apesar de atrapalharem na tomada de decisões acertadas. A influência positiva das emoções nas ações dos TDAs pode se dar de três maneiras:

3.1 – No processo imaginativo (o famoso “como seria”).

3.2 – No uso da intuição.

3.3 – Emoções positivas na forma de paixão podem levar os TDAs a uma hiperconcentração instintiva (hiperfoco) sobre determinado conhecimento.



Percebe-se então que a razão e emoção exacerbadas no lobo frontal direito dos TDAs podem constituir o grande diferencial positivo desses indivíduos no exercício de sua capacidade criativa original.