quinta-feira, 19 de agosto de 2010

[parte 31] O mundo de Sofia - Kierkegaard

Hilde desceu e foi preparar um lanche para levar a sua mãe, afinal sua mãe estava o dia todo preparando o barco para a volta do pai de Sofia.

Hilde e sua mãe conversaram sobre a volta de seu pai. Hilde quis confirmar que seu pai faria uma escala em Copenhague, assim como um casal chamado Anne e Ole.

Então, ao final do lanche, Hilde disse a sua mãe que iria voltar a ler. Sua mãe concordou, com um ar de reprovação por ter a sensação que o pai de Hilde estava querendo controlar as coisas remotamente. Tudo porque o major havia pedido a Hilde que acabasse de ler o livro antes que ele chegasse e isso estava tomando todo o tempo de Hilde.

Hilde mencionou, num tom irônico, que seu pai andava controlando bem mais que isso ultimamente, e voltou ao seu quarto para continuar a leitura.

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Dessa vez Sofia foi visitada pessoalmente por Alice (do “Pais das maravilhas”) a qual lhe entregou dois frascos: um vermelho e um azul. Ambos traziam a instrução: “beba-me”.

Sofia relutou um pouco, mas com a aprovação de Alberto, decidiu experimentá-los iniciando pelo frasco vermelho. Assim que tomou o liquido vermelho teve a sensação que tudo estava grudado, formando uma coisa só.

Decidiu então tomar o liquido azul e passou instantaneamente a olhar tudo de maneira reversa, como se cada canto, cada item fosse um mundo novo e tivessem ocorrendo ali milhares de acontecimentos.

Alberto entendeu o significado do liquido. O frasco vermelho era a essência do panteísmo (a filosofia da unidade) e o frasco azula era a essência do individualismo. Então Alberto continuou sua aula.

Aos 17 anos, Sören Kierkegaard começou a estudar teologia, mas logo foi se interessando cada vez mais por questões filosóficas. Doutorou-se aos vinte e oito anos com a tese “O conceito da ironia de Sócrates”. Ele viajou em 1841 para Berlim, onde assistiu a conferências de alguns filósofos, dentre eles Schelling.

Kierkegaard assumiu uma postura radicalmente oposta ao sistema de Hegel. Para Kierkegaard, mais importante do que a busca de uma VERDADE com letras maiúsculas era a busca por verdades que são importantes para cada indivíduo. Em suma, Kierkegaard não está nem um pouco interessando numa descrição genérica da natureza ou do “ser” humano. O fundamental para ele é a existência de cada um. Para ele, o homem não experimenta sua existência atrás de uma escrivaninha. Somente quando agimos, e sobretudo quando fazemos uma escolha, é que nos relacionamos com nossa própria existência.

Exemplificando, se alguém é atingido com uma flecha venenosa, a pessoa não fica confabulando se a flecha é da madeira tal, se a ponta da flecha é de osso ou de pedra. Ela se preocupa de verdade é em sobreviver e seu foco passa a ser pensar muito sobre isso.

Kierkegaard cria então um conceito de que a verdade é subjetiva, ou seja, as verdades realmente importantes são as verdade pessoais. Para ele, é preciso distinguir entre a questão filosófica para saber se Deus existe e a relação do indivíduo para com essa mesma questão. Trata-se aqui de questões com as quais cada um tem de se confrontar sozinho. Além disso, só podemos abordar estas questões através da fé. Kierkegaard não considera essencial aquilo que somos capas de compreender com a nossa razão.

Antes de Kierkegaard, muitos tinham tentado provar a existência de Deus ou então entendê-la racionalmente. Mas quando nos envolvemos com tais provas de existência de Deus ou com tais argumentos racionais, perdemos nossa fé, e com ela, nosso fervor religioso. Isso porque o fundamental não e saber se o cristianismo é verdadeiro, mas se é verdadeiro pra mim.

Kierkegaard achava que havia três possibilidades (ou estágios) diferentes de existência: estágio estético, estágio ético e estágio religioso.

Quem vive no estágio estético vive o momento e visa sempre o prazer. Bom é aquilo que é belo, simpático e agradável. Aquele que vive no estado estético está sujeito a sentimentos de medo e sensações de vazio.

O próximo passo para aqueles que vivem no estágio estético e o estágio ético é marcado pela seriedade e por decisões consistentes, tomadas segundo padrões morais (como a “ética do dever” de Kant). O essencial não é necessariamente o que se considera certo e errado e sim a decisão de se posicionar em relação ao que é certo e errado. O esteta se interessa apenas pelo que é divertido ou entediante.

Já aqueles que evoluem mais, vivem no que Kierkegaard chama de estágio religioso. Preferem a fé ao prazer estético e aos mandamentos da razão. Segundo palavras do próprio Kierkegaard, embora possa ser desesperador cair nas mãos do Deus vivo, só nesse caso o homem pode se reconciliar com sua própria vida.

Sofia então se despede de seu professor porque vê que já está quase na hora de retornar a sua casa e não quer mais problemas com sua mãe.