sábado, 29 de maio de 2010

[parte 22] O mundo de Sofia - Spinoza

Sofia, para desviar os pensamentos de seu professor frente ao que acabara de acontecer, faz perguntas com a finalidade de prosseguir a aula, então Alberto passa a falar de Spinoza.

Spinoza pertencia a comunidade judaica de Amsterdã, mas não levou muito tempo até que fosse excomungado por heresia. Poucos filósofos dos tempos modernos foram tão humilhados e perseguidos por suas idéias como este homem, que chegou até a sofrer uma tentativa de assassinato. Isso tudo era porque Spinoza criticava a religião oficial porque achava que rituais vazios e dogmas rígidos eram as únicas coisas que mantinham o cristianismo e o judaísmo ainda vivo. Ele foi o primeiro a aplicar a interpretação “histórico-crítica” da Bíblia.

Tudo que Spinoza dizia era que é preciso interpretar os livros bíblicos no contexto de sua época e que o próprio Jesus Cristo pregou que muitos dos dogmas e tradições ainda levado a ferro e fogo pela igreja já fora substituído pelo amor a Deus e aos seus semelhantes. Isso gerou confusões de grandes proporções na vida do filósofo levando até mesmo sua família a afastar-se dele pelo que julgavam ser uma grande heresia. Dado a todo esse turbilhão, Spinoza se recolhe e decide levar a vida como um modesto polidor de lentes, mas se dedicando totalmente a filosofia.

Spinoza era monista, o que quer dizer que ele não acreditava que havia diferença entre substância e alma. Tudo era uma coisa só ou tudo na verdade era o próprio Deus. Quando nos referimos à natureza física, estamos nos referindo a atributos de Deus na visão de Spinoza. Esses atributos contêm o que ele chama de modi (no plural, modus) ou extenção o que faz com que esses atributos sejam apresentados a nós de diferentes formas.

Ele ainda acreditava que somos livres no sentido de sermos plenos no que nossa natureza nos proporciona, não no sentido da liberdade como às vezes acreditamos. Você pode mexer seu dedo livremente, mas somente no âmbito que é possível mexer seu dedo. Não seria possível, por exemplo, colocar seu dedo na estante, dar uma volta e recolocá-lo novamente no lugar quando voltasse porque isso não faz parte da natureza de seu dedo.

Portanto, para Spinoza, Deus nos dá liberdade de sermos plenos, mas dentro de um contexto regido por leis que Ele criou visando nossa plenitude.

Isso remete um pouco à teoria dos estóicos de que não devemos nos deixar levar pelas nossas emoções. Spinoza achava que as paixões humanas, a ambição e o prazer, por exemplo, nos impedem de chegar à felicidade e à harmonia verdadeiras. Mas quando reconhecemos que tudo acontece porque tem que acontecer, podemos chegar, então, a uma compreensão intuitiva da natureza como um todo. Podemos ser levados a experimentar de forma pura e cristalina, o fato de que tudo está relacionado; o fato de que tudo é um. Nosso objetivo é abarcar, num único golpe de vista, tudo o que existe. Spinoza chamava isto de ver as coisas sub specie aeternitatis (sob a perspectiva da eternidade).

Em suma, podemos dizer que Spinoza tenta definir como o ser humano deve viver por métodos geométricos (inclusive o assunto principal de um de seus mais conhecidos livros), ou melhor dizendo, tenta sistematizar nosso modo de vida como fazemos na matemática ao descrever a solução de um problema.

Sofia diz que precisa ir urgente pra casa pois sua mãe a está esperando. Alberto então pergunta se ela não deseja comer algo, uma fruta, antes de ir. Sofia pega uma banana e, ao descascá-la, vê a seguinte mensagem na casca da banana “Aqui estou eu novamente, Hilde. Estou por toda parte, minha filha. Feliz aniversário!”. Ela desiste de comer a banana e ambos ficam mais uma vez intrigados com a situação. Então Sofia sai as pressas para casa pois sua mãe já deve estar preocupada dado o horário.