quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Entendendo o pecado e a psicopatologia (2/2)


A verdadeira culpa versus a falsa culpa

Embora Jesus tenha dito que não veio ao mundo para condenar (Bíblia - Livro de João, capitulo 3, versículo 17), ele acreditava que há momentos em que devemos nos sentir culpados. A partir da perspectiva Dele, nem toda culpa é má.

Jesus acreditava em dois tipos de culpa. O que os psicólogos chama de verdadeira culpa, ele chamava de culpa baseada no amor. O que chamamos de falsa culpa, segundo ele, era a culpa fundamentada no medo. A verdadeira culpa é o remorso que sentimos quando magoamos aqueles que amamos; ela nos faz ter vontade de corrigir as coisas no nosso relacionamento com o outro. A falsa culpa é o medo da punição que está mais ligada à necessidade de nos protegermos depois que fazemos algo errado.

A falsa culpa raramente beneficia o nosso relacionamento com os outros. Na verdade, ela em geral nos prejudica e nos torna pessoa de convivência mais difícil. Sentimos a verdadeira culpa quando nossos relacionamentos são importantes para nós e nos sentimos motivados a curar as feridas provocadas por nosso comportamento. É esse o tipo de culpa que Jesus queria que sentíssemos.

Princípio Espiritual: "A culpa motivada pelo amor cura a mágoa; a culpa baseada no medo só faz escondê-la."


Se as pessoas fossem perfeitas, por acaso alguém pecaria?

Parecer perfeito nunca foi sinal de saúde mental. Bem ao contrário. Ter a coragem de ser imperfeito indica muito mais uma auto-estima saudável do que fingir ser impecável. As crianças às vezes se esforçam intensamente para serem especiais porque têm medo de não serem amadas se não fizerem isso. Se as crianças não se sentem amadas pelo que são, elas aceitam a atenção que recebem pelo que se esforçam para fazer. A questão não é saber se o comportamento delas é ou não perfeito e sim a motivação que as leva a ter esse comportamento.

Ocasionamento deparo com versículos na Bíblia que me deixam perturbado. Um deles é esse: "Sede perfeitos, portanto, como o Pai celeste é perfeito". Esta frase dá a impressão de que Jesus estava estabelecendo para os seus seguidores um padrão ridiculamente alto que, se não fosse alcançado, poderia fazer com que eles se sentissem mais e inadequados. No decorrer dos séculos muitas pessoas confundiram o perfeccionismo moral com a retidão espiritual e definiram a espiritualidade em função do número de coisas das quais se abstinham, como fumar, beber e praguejar. Mas às vezes são exatamente as pessoas que se empenham em parecer perfeitas as mais culpadas de pecado.

A palavra traduzida como "perfeito" nessa passagem também pode se traduzida como "maduro". Quando soube disso, eu me senti muito melhor. Sei que jamais serei perfeito, mas acredito que posso continuar a crescer. Ter maturidade significa reconhecer que vamos continuar a erras, mas seremos capazes de rever nossas ações e corrigi-las. Fingir ser impecável é na verdade um sinal de imaturidade. Jesus não fingiu a maturidade espiritual como a ausência de imperfeições e sim como presença de força.
Eis como interpreto os ensinamentos de Jesus: não nos sentimos mais amados porque somos perfeitos; desejamos ficar mais maduros porque nos sentimos amados.

Princípio Espiritual: "O perfeccionismo é uma máscara e não uma meta."


O pecado é um problema pessoal

Jesus dizia que pecar significava cometer um erro. Mas ele estava mais interessado nos relacionamentos destruídos por causa dessas falhas do que nos erros propriamente dito. Por isso ele perdoava as pessoas com facilidade. Para ele, o relacionamento, e não o erro, era o problema principal.

"É inevitável que haja escândalos", disse Jesus, "portanto, tende cuidado" (Bíblia, livro de Lucas, capítulo 17, versículos de 1 à 3). A seguir, ele prossegue: "Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o, e se ele se arrepender, perdoa-o." Ele estava primordialmente interessando em restaurar os relacionamentos pessoais. Jesus frequentemente adotava a perspectiva psicológica de não encarar o pecado como um problema que existe dentro das pessoas e sim entre as pessoas.

Princípio Espiritual: "Às vezes o pecado é um problema que existe entre as pessoas e não dentro delas."


A salvação e a psicoterapia

Jesus ensinou que o pecado acontece quando quebramos o relacionamento e que a salvação ocorre quando o restabelecemos. Na parábola do filho pródigo, Jesus mostrava que a salvação envolve o reencontro com o nosso verdadeiro eu.

A psicoterapia funciona porque segue o padrão que Jesus descreve para o processo da salvação. Os bons relacionamentos nos curam. Não podemos ser psicologicamente saudáveis se não nos relacionarmos de um modo saudável com nós mesmos e com os outros. Os seres humanos foram criados desta maneira, ou seja, precisamos estar ligados aos outros para sermos completos.

A psicoterapia é o processo de ajudar pessoas que estão perdidas a se reencontrarem. Ao estabelecer relacionamentos saudáveis com os outros, podemos reconduzi-los ao caminho da saúde psicológica.

Princípio Espiritual: "Uma alma perdida é encontrada e não consertada."



Texto extraído do livro "Jesus, o maior psicólogo que já existiu", escrito por Mark W. Baker, editora Sextante, 2010.