sexta-feira, 24 de setembro de 2010

[parte 33] O mundo de Sofia - Charles Darwin

Hilde acordou cedo. Sonhou a noite toda com trabalhadores em fábricas precárias, protestos e logo se lembrou do exercício proposto por John Rawl e de alguma forma ficou feliz em estar em Bjerkely. Então pegou seu fichário e voltou a ler.

___________

Uma pessoa bate a porta de Alberto. Era Noé trazendo consigo uma gravura que mostra todos os animais que foram salvos do grande dilúvio, entregou a Sofia e foi embora. Então Alberto, um tanto incomodado com a aparição de Noé, pediu para continuar com a aula.

Agora vamos falar de Charles Darwin. Darwin era biólogo e pesquisador natural, mas ele foi o cientista que, mais do que qualquer outro em tempos mais modernos, questionou e colocou em dúvida a visão bíblica sobre o lugar do homem na criação.

Darwin nasceu em 1809 na cidadezinha de Shrewsbury. Seu pai, o doutor Robert Darwin, era um médico muito conhecido na cidade e educou seu filho de forma muito severa. Quando Charles entrou para o liceu de Shrewsbury, o reitor dizia que ele era um jovem que vivia disperso e não fazia nada de sensato. Para o reitor, “sensato” era ficar decorando vocábulos gregos e latinos. E quando falava em viver disperso, ele estava pensando, entre outras coisas, no fato de Charles colecionar besouros de várias espécies.

Durante a época em que cursou teologia, Darwin interessou-se mais por aves e insetos do que pelas matérias do seu curso. Por esta razão, nunca tirava boas notas em suas provas do curso de teologia. Paralelamente ao curso de teologia, porém, ele conseguiu certo reconhecimento como pesquisador natural. Darwin também se interessava por geologia, provavelmente o ramo da ciência em fase de maior expansão naquela época. Em abril de 1831, depois de ter sido aprovado em seu exame de teologia, ele viajou pelo norte do País de Gales a fim de estudar formações rochosas e pesquisar fósseis. Em agosto do mesmo ano, com apenas vinte e dois anos, recebeu uma carta que viria a determinar todo o seu futuro.

A carta era de John Steven Henslow, seu amigo e professor. Nela, seu amigo dizia que lhe haviam pedido para indicar o nome de um pesquisador natural a um certo capitão Fitzroy, que, a mando do governo, partiria numa expedição com a incumbência de fazer o mapa cartográfico do extremo sul da América do Sul. Na carta, Henslow dizia que havia indicado o nome de Darwin, a seu ver a pessoa mais qualificada para tal missão; dizia, ainda, que não fazia a menor ideia de quanto pagariam para o tal pesquisador, mas que a viagem duraria dois anos.

Darwin ficou muito entusiasmado com a ideia, mas naquela época os jovens não podiam fazer nada sem o consentimento de seus pais. Darwin pediu a seu pai, que depois de muito vaivém acabou concordando e ainda teve de pagar a viagem do filho. Quanto ao salário, soube-se depois que não havia qualquer honorário previsto para o pesquisador.

O navio da marinha se chamava H. M. S. Beagle. Em 27 de dezembro de 1831, o Beagle zarpou de Plymouth com destino a América do Sul e só voltou para a Inglaterra em outubro de 1836. Os dois anos inicialmente previsto transformaram-se, portanto, em cinco. É que a viagem a América do Sul acabou se transformando numa volta ao mundo. E estamos falando aqui da mais importante viagem de pesquisa realizada em tempos mais modernos.

Darwin conseguiu reunir um farto material de pesquisa que, ao poucos, ia sendo enviado a sua terra natal. Suas reflexões sobre a natureza e sobre a história da vida, porém, ele as guardava para si. Quando voltou para casa, aos vinte e sete anos, já era um pesquisador famoso.

Dentro de si já havia também uma clara noção daquilo que viria a ser a sua teoria da evolução, mas apesar disso, muitos anos ainda se passaram até que ele publicasse sua obra principal. Isto porque Darwin era um homem muito cauteloso, traço característico de um bom pesquisador natural.

Sua obra “Sobre a origem das espécies” publicada em 1859 suscitou os mais calorosos debates na Inglaterra. Nesta obra Darwin defendia duas teorias ou teses principais: em primeiro lugar ele dizia que todas as espécies de plantas e animais que vivem hoje descendem de formas mais primitivas, que viveram em tempos passados. Ele pressupõe, portanto, uma evolução biológica. Em segundo, Darwin explica que esta evolução se deve à “seleção natural”.

A teoria da descendência de formas primitivas não era original de Darwin, mas ele foi o único que conseguiu reunir um vasto acerto para constatar que tal teoria era factível. Em suas viagens, Darwin observou alguns fósseis e outros indícios claros que evidenciaram essa teoria. Também nessa viagem, Darwin teve contato, através de um dos livros que levou, com uma teoria que lhe chamou bastante sua atenção, a teoria de Lyell. Segundo essa teoria, minúsculas alterações são capazes de provocar grandes alterações ao longo do tempo.

Baseado em Lyell e na observação dos embriões dos mamíferos que Darwin conseguiu achar a prova cabível. Ele observou que todos os embriões de mamíferos tinham quase a mesma forma e se desenvolvem do mesmo jeito. Darwin então consegue formular a teoria de evolução nos moldes científicos. Pequenos detalhes em cada um dos embriões diferenciavam elefantes de macacos, por exemplo.

Para explicar essas pequenas diferenças, Darwin mostra que as questões de adaptação a diversos fatores como alimentação, reprodução, autopreservação dentre outros faziam a diferença entre a permanência e a extinção de uma espécie.

Para essas pequenas alterações, Darwin dá o nome de mutação. São fugas do padrão da espécie que, em determinados momentos são ruins e não se perpetuam dentro da espécie. Mas em certas ocasiões podem fazer a diferença entre a continuidade e a extinção da espécie.

Um bom exemplo para a seleção natural seria pensar em três vacas leiteiras. Suponha que você possa cruzar apenas duas delas. Tendemos a pegar aquelas que dão mais leite, sejam mais resistentes e possuam características que nos mostre superioridade. Isso seria uma seleção artificial feita por nós, mas o princípio é o mesmo para a seleção natural. Darwin conseguiu ver claramente esse principio em várias ocasiões durante sua viagem.

Outro bom exemplo, dessa vez mostrando o lado da ação da mutação nos seres vivos, é de um besouro que vive em uma das florestas da europa. O local que vive é uma árvore de uma dada espécie que tem a cor acinzentada. Por algum tempo observou-se que aqueles que nasciam com cores mais escuras tendiam a ser mais detectados pro predadores e, por isso, perecerem depressa, impedindo assim que seu gene mais escuro continuasse. Com a poluição, essas árvores passaram a ficar mais escuras e as coisas se inverteram. Os besouros mais claros (a cor que era normal) passaram a fica em evidência e começaram a desaparecer. Aqueles que nasciam com a anomalia de ficar mais escuro, começaram a ter tempo de procriar dado que não ficavam mais em evidência. O resultado é que em algum tempo, todos os besouros passaram a ficar mais escuros, ou seja, a mutação evoluiu a espécie.

Darwin também arrisca palpites, embora não seja costumeiro, no que diz respeito a origem de tudo: “se (e como é imenso esse “se”!) pudéssemos imaginar um pequeno tanque aquecido, dentro do qual existam todo o tipo de sais de amônia e de fósforo, luz, calor, eletricidade etc. e se imaginarmos que lá dentro uma reação química dá origem a uma proteína que, por sua vez, é capaz de sobre alterações mais complexas...”

Por fim, baseado nos escritos de Darwin podemos dizer que somos um planeta vivo em si mesmo, que pertence a um outro planeta vivo. Somo um grande barco navegando ao redor de um sol incandescente no universo, mas cada um de nós também é um barco em si mesmo, carregado de genes navegando pela vida.