terça-feira, 7 de setembro de 2010

[parte 32] O mundo de Sofia - Marx

Hilde quis pregar uma peça em seu pai e ligou para uns amigos da família que moravam em Copenhage (conexão de seu pai na volta para casa). Hilde explicou tudo detalhadamente e eles aceitaram fazer essa brincadeira com o pai dela.

Hilde e sua mãe passaram juntas todo o dia (uma espécie de compensação pelo sumiço dela nos últimos dias). Já no final da noite, Hilde voltou a pegar o fichário para ler.

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Sofia voltou da conversa com major e logo foi questionada novamente pela mãe. Contudo, com todo esse tempo, ela já sabia lidar bem com a situação e a coisa se resolveu. Sua mãe lhe informou que havia chego uma carta e Sofia logo foi ver o que era. A carta trazia o seguinte texto: “De que serve o eterno criar, se a criação em nada acabar?”

Na manhã seguinte, Jorunn veio até a casa de Sofia e ambas ficaram revendo todos os detalhes da festa.

Na quinta-feira, 21 de julho, Alberto ligou. Falou alguma coisa sobre saber como sair da prisão que eles estavam, mas não foi muito claro. Pediu a Sofia que fosse até ele nesse dia e no outro pra que haja tempo de ver tudo que precisam. Sofia então sai para encontrá-lo.

A caminho do encontro com Alberto, Sofia se depara com Scrooge, um rico contador sentado em sua escrivaninha em meio aos seus papeis. Mais a frente, Sofia encontra uma menininha mal trapinha que lhe oferece uma caixa de fósforos. Sofia fica com dó e compra a caixa para ajudá-la. Então a menininha fala que está a mais de 100 anos ali tentando vender isso e não consegue. Finaliza a conversa falando que trabalha para o Scrooge.

Sofia, irritada, leva a menina até Scrooge e cobra dele um pouco mais de decência em tratar seus empregados. Scrooge afirma que isso é bobagem e que "só há justiça entre iguais". A menininha, enfurecida, ateia fogo assustando Scrooge e Sofia. Sofia corre para apagar o fogo e consegue, mas no final vê que está sozinha na mata com uma caixa de fósforo na mão.

Sofia chega a casa do major e conta a Alberto. Alberto diz, meio irritado, que isso tudo foi feito pelo Major para dar a introdução em seu próximo assunto, Karl Marx e então começa sua aula.

Em 1841, quando Kierkegaard foi a Berlim, é provável que ele tenha se sentado ao lado de Karl Marx nas palestras de Schelling. Kierkegaard tinha escrito uma tese sobre Sócrates e, na mesma época, Karl Marx tinha defendido seu doutorado sobre Demócrito e Epicuro, ou seja, sobre o materialismo na Antiguidade.

De inicio é interessante dizer que sua tese não é o que foi chamado posteriormente de Marxista. O próprio Marx se tornou um Marxista muito depois desse movimento ser consolidado.

Suas testes diziam que as relações materiais de uma sociedade são chamadas de bases destas sociedades. A política, religião, moral, arte, filosofia e ciências são chamadas por sua vez de superestruturas. É uma clara alusão a uma construção onde se tem a base (alicerce) para pode existir as estruturas em cima dela.

Nessa linha de pensamento, Marx afirma que as condições materiais sustentam todos os pensamentos e idéias de uma sociedade, ou seja, uma superestrutura de uma sociedade é o reflexo de sua base material.

Então Marx trabalha esses conceitos e afirma que a relação entre base e superestrutura de uma sociedade há o que ele chama de "tensão", nos moldes de Hegel, por isso Marx é conhecido como um "materialista dialético".

Então Marx diz que, quando se observa de perto a base (a sociedade), esta apoiada-se em três camadas. A primeira camada ele chama de “condições naturais de produção” de uma sociedade, ou seja, o habitat natural onde está uma sociedade como por exemplo a vegetação, riqueza do solo e outros. Isso é uma espécie de muro de arrimo e dita o tipo que a sociedade que será moldada, sua culturas e outros pontos importantes.

A próxima camada é chamada “força de produção” ou a força de trabalho do próprio homem, juntamente com suas ferramentas e equipamentos que Marx chama de “meios de produção”.

A ultima camada, e a mais complicada, é chamada de “relações de produção”. Trata-se de quem detém os meios de produção de uma sociedade e de como o trabalho é organizado no interior da sociedade. Para Marx, o modo de produção de uma sociedade determina que relações políticas e ideológicas podemos encontrar nela.

Marx afirma que, em geral, era a classe dominante numa sociedade que determinava o que é certo e o que é errado para a própria sociedade. Para ele, toda a história era a história das lutas de classes, ou seja, a quem deveria pertencer os meios de produção.

Quando mais jovem, Marx estudava a dialética entre homem e natureza então formulou uma conclusão: quando o homem altera a natureza, ele mesmo se altera. Em linhas gerais pode-se dizer que Marx dizia que quando o homem trabalha, ele interfere na natureza e deixa nela suas marcas; mas neste processo de trabalho também a natureza interfere no homem e deixa marcas em sua consciência.

Nessa linha de raciocínio, Marx afirma que o conhecimento do homem está diretamente e intimamente relacionado ao se trabalho. Como no sistema capitalista vivido por Marx o trabalhador trabalha para outra pessoa, seu trabalho é algo externo a ele mesmo; em outras palavras, seu trabalho não lhe pertence. Com isso o trabalhador acaba por se alienar em seu trabalho e, portanto, aliena-se com relação a si mesmo perdendo sua dignidade humana.

Na visão de Marx, quando falamos em capitalismo, falamos do trabalhador ceder seu trabalho e sua condição de dignidade humana para outra pessoa de forma escrava ou semi-escrava (pseudo salário). Isso motiva Marx a publicar, em 1848 com seu amigo Friedrich Engels, o famoso “Manifesto Comunista”.

Seu principal alvo era as fabricas capitalistas que tinham pessoas fabricando coisas, deixando cada vez mais ricos seus donos, enquanto os trabalhadores viviam em condições subumanas. A isso ele chama de “exploração”.

Detalhando melhor, quando algo é criado numa fábrica, isso tem um valor de mercado. Quando se é descontado o valor de mercado, o salário do empregado e os impostos, sobram-se sempre certa quantia, a essa quantia Marx chama de “mais-valia” ou lucro. Contudo para Marx, esse lucro não é do dono da fábrica, é do empregado que fez o produto, por isso Marx usa o termo exploração quando fala sobre esse relacionamento.

Com essa parte que lhe sobra, o capitalista dono da fábrica, tende a aplicar um montante do lucro em benfeitorias em sua fabrica, visando a modernização dela. Essa modernização vira um diferencial competitivo (possibilitando preços mais baixos) para o capitalista. Também acaba por gerar desemprego de alguns dado a não-serventia trazido pela modernização. Esse diferencial logo é alcançado por outros capitalistas e assim o ciclo se reinicia. Então demite-se mais, abaixa-se salários para não sacrificar os lucros e a coisa toda gira em torno disso. É disso que se originam as grandes crises, na visão de Marx.

Marx então afirma que esse modo de produção é contraditório em si mesmo por falta um controle racional que consiga frear esse ciclo antes de sua autodestruição e, por sua vez, da inevitável crise.

O desfecho disso, segundo Marx, seria uma grande revolução proletária onde o proletariado subjugaria a burguesia. Essa fase de transição seria a “ditadura do proletariado” e culminaria no que Marx acreditava ser a sociedade sem classes sociais, ou o comunismo, onde cada um trabalharia de acordo com sua capacidade e ganharia de acordo com suas necessidades.

Apesar dos cientistas políticos atuais provarem que Marx estava enganado em vários pontos importantes, inclusive em suas análises críticas sobre o capitalismo e sobre a desconsideração do uso da natureza, o marxismo provocou grandes transformações.

O socialismo, que se baseia em Marx, revolucionou muitas sociedades em ferozes embates políticos e, embora não totalmente implantado, contribuiu extraordinariamente para a vida que todos temos hoje, muito mais humana quando comparado à vida dos tempos de Marx.

Um grande exercício de sociedade justa, cerne das teorias de Marx, pode ser feito por qualquer um. Esse exercício foi proposto por John Rawl, um filosofo Marxista.

Imagine que você fosse membro de um alto conselho cuja a tarefa fosse elaborar todas as leis de uma sociedade do futuro. Os membros do conselho teriam de pensar em absolutamente tudo, pois assim que estivessem de acordo com todas as questões e assinassem as leis, cairiam mortos e em alguns segundos voltariam a vida exatamente na sociedade cujas as leis tinham elaborado. E agora vem o mais importante: nenhum deles saberia onde acordaria nesta sociedade, que dizer, ninguém saberia qual seria a posição que iria ocupar dentro dela.

Tal sociedade seria uma sociedade justa, pois cada um estaria entre seus iguais, mesmo no quesito do sexo, porque poderiam nascer homens ou mulheres, o que acarretaria uma sociedade igualmente atrativa tanto para homens quando para mulheres.