terça-feira, 2 de novembro de 2010

[parte 34] O mundo de Sofia - Freud

Hilde acordou com o pesado fichário no colo e com a narrativa que tinha acabado de ler na cabeça “somos um planeta vivo... um barco navegando no oceano da vida”. Levantou, trocou de roupa e foi até a beira do lago. Pegou o barco e remou até o meio do lago com a narrativa sendo passada e repassada a todo o momento. Via a dança da natureza ao seu redor e chegou a sentir um pouco do que acreditava ser o sentimento de Drawin quanto navegou pelo mundo.

Após algum tempo, voltou a sua casa, tomou seu café e se pôs novamente a ler o fichário.

___________

Alberto então informa a Sofia que irá falar sobre Sigmund Freud. Sofia pede que ele se apresse pois em pouco tempo iria ter que ir embora. Alberto então começa a falar sobre Freud.

Podemos chamar Freud de filósofo da cultura. Ele nasceu em 1856 e estudou medicina na Universidade de Viena. Passou a maior parte de sua vida naquela cidade, justamente durante um período em que a vida cultural vienense perimentou uma fase de apogeu. Desde cedo Freud se especializou em neurologia. De fins do século passado até quase meados do nosso século, ele trabalhou na elaboração de sua “psicologia profunda” ou psicanálise.

Por psicanálise entende-se tanto a descrição da mente, da “psique” humana em geral, quanto um método de tratamento para distúrbios nervosos e psíquicos. Freud achava que sempre havia uma tensão entre o próprio homem e aquilo que o meio exigia dele. Não seria exagero dizer que Freud descobriu o universo de impulsos que regem o homem.

Para Freud, nem sempre a razão governa nossas ações. Consequentemente, o homem não é apenas um ser racional tão defendido pelos racionalistas do século XVII. Com frequências, impulsos irracionais determinam nossos pensamentos, nossos sonhos e nossas ações. Tais impulsos irracionais são capazes de trazer à luz instintos e necessidades que estão profundamente enraizados dentro de nós.

Mesmo aparentemente isso não sendo muito novo, Freud mostrou que essas necessidades básicas podiam vir à tona disfarçadas e tão modificadas que não
seríamos capazes de reconhecer sua origem. Assim disfarçadas, elas governariam nossas ações, sem que tivéssemos consciência disso. Além disso, Freud mostrou que as crianças também têm uma espécie de sexualidade. A afirmação da existência de uma sexualidade infantil causou repulsa entre os refinados cidadãos de Viena e fez de Freud um homem extremamente impopular.

Segundo Freud, quando veem ao mundo, os bebês satisfazem suas necessidades físicas e psíquicas de forma bastante direta e desinibida. Ele chama esse “principio de prazer” de ID. O id continua com a gente a vida toda, só que aos poucos vamos aprendendo a controlar nossos desejos a fim de nos adaptarmos ao nosso meio. Aprendemos a afinar nosso princípio de prazer com o principio da realidade. Freud da o nome de EGO a essa entidade reguladora. Mas pode acontecer de nós desejarmos intensamente algo que nosso meio não aceita ou sermos sempre tão censurados que, mesmo depois de adulto, simplesmente absorvemos as regras impostas e suprimimos alguns desejos totalmente. A isso Freud da o nome de SUPEREGO.

Após um longo período de experiência com pacientes, Freud chegou à conclusão que a consciência humana era apenas uma pequena parte de toda psique humana. Há outras partes chamadas por Freud de subconsciência e consciência.

Não podemos ter presente o tempo todo, todas as experiências que vivemos. Mas tudo o que pensamos ou vivemos e tudo de que nos lembramos quando pomos a cabeça pra funcionar Freud chama de “pré-consciente”. A expressão “inconsciente” significa, para Freud, tudo o que reprimimos. Quer dizer, tudo de que nós queremos nos esquecer a qualquer preço porque consideramos desagradável, indecoroso ou repulsivo. Quando temos desejos e prazeres que pra nossa consciência, ou para nosso superego, são insuportáveis, nós simplesmente os enfiamos no porão do inconsciente e assim nos livramos deles.

Esse mecanismo funciona em todas as pessoas sadias. Para algumas pessoas, porem, o ato de banir tais pensamentos desagradáveis ou proibidos é algo tão estressante que elas ficam doentes. É que aquilo que foi reprimido desta forma continua tentando emergir para o nível da consciência, de sorte que cada vez mais energia é desprendida para se manter tais impulsos longe da crítica do consciente.

Segundo Freud, algumas vezes mecanismos são usados pelo inconsciente para liberar alguns pensamentos proibidos. Um deles é o que Freud chama de “ato falho” ou algo que dizemos ou fazemos espontaneamente e que um dia tínhamos reprimido. Outro mecanismos é chamado por Freud de “racionalização” ou tentativas de mostrar a nós mesmo, e a outros, que temos outros motivos para fazer o que fazemos em certas situações e não revelamos os reais motivos que nos levaram a agir de certa maneira, simplesmente porque eles são constrangedores demais. Também há a “projeção” que trata-se do ato de transferir a outros as características que tentamos reprimir em nós mesmos.

Continuando, para Freud é importante prestar atenção aos sinais do inconsciente. Segundo ele, o “caminho real” que leva para o inconsciente passa pelos sonhos. Por essa razão, uma de suas mais importantes obras é o livro “A interpretação dos sonhos”, publicado em 1900. Nele Freud mostra que nossos sonhos não são meros acasos. Por meio dos sonhos, nossos pensamentos inconscientes tentam se comunicar com nosso consciente.

Conversaram ainda mais, mas Sofia pediu a Alberto que a deixasse ir embora dado a hora. Alberto, obviamente, consentiu, mas pediu a Sofia que lhe fizesse um favor. Como estava muito próximo a data limite para eles, segundo Alberto, era vital que Alberto pudesse correr com os preparativos da fuga de ambos, então pediu a Sofia que distraísse o Major em sua volta pra casa a fim de conseguir executar o que precisava. Sofia consentiu e saiu.